quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pentecostes. estudo

PENTECOSTES
O Consolador,
O Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. João 14.26

Introdução
Pentecostes é a festa do Espírito Santo, o aniversário da Igreja cristã. Neste dia, Deus enviou o Espírito Santo, o Consolador, conforme Jesus prometera: Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito (Jo 14.26). Ele glorificará a Cristo (Jo 16.14).
Nos últimos anos, a doutrina do Espírito Santo está sendo reexaminada por quase todas as igrejas cristãs. Pois o pentecostalismo - um movimento que já perpassa quase todas as denominações cristãs - dá grande ênfase à ação do Espírito Santo. Este movimento afirma que existe um segundo batismo, o batismo no Espírito Santo, que confere dons especiais aos cristãos, tais como o falar em outras línguas, curar doentes, ter revelações e interpretações especiais, etc. Nos cultos pentecostais as pessoas têm oportunidade para expressarem seus sentimentos. Elas cantam de mãos levantadas, batem palmas, oram em voz alta, gritam aleluias, saltam, etc. As pessoas dizem: Neste culto sinto a presença de Deus e saio dele muito aliviado e confortado. Essas igrejas têm grande afluência de pessoas. Enquanto isso, as igrejas tradicionais, que conservam sua liturgia e cujos membros não expressam espontaneamente seus sentimentos (subjetivismo) nos cultos públicos, diminuem. Os pentecostais dizem: As igrejas tradicionais estão do lado certo do Calvário, mas do lado errado de Pentecostes; elas estão do lado certo do perdão, mas desconhecem o poder do Espírito Santo. Será? Onde está a verdade? Como foi possível que a igreja cristã, cujos membros devem esforçar se por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.3), está hoje tão dividida e tem tão grandes diferenças na interpretação da Bíblia? Será que a Bíblia não é suficientemente clara? Onde está o problema? Vamos examinar a doutrina do Espírito Santo.

I - A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Ele é Deus igual ao Pai e ao Filho. Ele procede do Pai e do Filho (Jo 15.26), mesmo assim não é anterior nem posterior, mas igual ao Pai e ao Filho em poder, glória e majestade (Cf.: Credo Atanasiano). A Escritura afirma: O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto, e te dê a paz (Nm 6.24-26). Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo ( Mt 28.19). A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós (1 Co 13.13). A Bíblia fala do Espírito Santo da primeira à última página. O Espírito Santo estava presente na criação. Ele pairou sobre as águas (Gn 1.2). Ele guiou Moisés e seus 70 auxiliares (Nm 11). O Espírito Santo moveu o povo para ofertar voluntariamente e concedeu dons aos artífices para os diferentes trabalhos na construção do templo. Ele atuou nos juízes, ministros, reis e profetas. Quantas lutas estes líderes tiveram que enfrentar? Com quanta angústia e desespero eles se defrontaram? Nestes momentos, buscaram auxílio junto a Deus, e Deus Espírito Santo os consolou, encorajou, guiou e fortaleceu. (Cf.: Ex 35.21; Jz 14.6; 1 Sm 11.6,14; 19.18; 2 Sm 23.2; Sl 51.1; Is 11.2). Tudo isso, porém, era apenas o alvorecer. Em sua plenitude, o Espírito Santo só foi concedido no Novo Testamento, após Jesus ter completado sua obra salvífica e ter subido ao céu. Ele disse: E quando eu for ... rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador (Jo 14.3,16).
A vinda do Espírito Santo foi profetizada pelo profeta Joel, 900 anos (ou 600) antes de Cristo (Jl 2.28-32). Jesus o prometera a seus discípulos: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador; a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e está em vós (Jo 14.16,17). Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito (Jo 16.26). Mas eu vos digo a verdade: Convêm-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado. Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as cousas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar (Jo 16.7-14). O que Jesus prometeu, veio a cumprir-se no dia de Pentecostes.

II - PENTECOSTES
Após a ascensão de Jesus, os discípulos fizeram como Jesus lhes havia ordenado. Permaneceram em Jerusalém à espera da vinda do Espírito Santo.
No dia em que se iniciavam em Jerusalém a grande semana de festividades: Festa da entrega da lei no monte Sinai e a festa da colheita, cinqüenta dias após a páscoa (Ex 23.16; Lv 23.15,16; Nm 28.26; Dt 16.10), Deus enviou o Espírito Santo. De manhã cedo, ouviu-se por toda a Jerusalém um forte som como de um vento impetuoso, mas não havia vento. O som serviu para chamar a atenção e reunir o povo. Os discípulos ficaram cheios do Espírito Santo. Não sabemos ao certo onde estavam reunidos, se na casa de Maria, no cenáculo onde Jesus instituiu a Santa Ceia, ou, o que é mais provável, numa sala do templo, onde costumavam reunir-se para adoração. Ali Deus derramou o Espírito Santo sobre eles. Ele veio em cumprimento da promessa de Jesus, não por algum merecimento ou preparo especial por parte dos discípulos. Ele veio repentinamente sobre todos os que ali estavam reunidos, independente do grau de fé dos mesmos. Os sinais visíveis foram dados, provavelmente, somente aos doze apóstolos. Eles tinham sobre suas cabeças línguas como que de fogo e testemunhavam "das grandezas de Deus," em diferentes idiomas da época (At 2).
A descida do Espírito Santo do céu foi repentina e majestosa. Os sinais externos não foram os mais importantes. Importante foi o que o Espírito Santo trabalhou no coração dos discípulos e nas pessoas que ouviram o testemunho dos apóstolos. Eles, que ainda não tinham clara compreensão da obra de Cristo e da natureza do reino de Deus (At 1.6), agora, com a vinda do Espírito Santo, tudo ficou mais claro diante dos seus olhos. O Espírito Santo os iluminou e deu-lhes compreensão da salvação que Cristo trabalhou. Isto trouxe grande paz a seus corações, bem como coragem para testemunharem desta maravilhosa salvação. Eles saíram da sala e começaram a falar ao povo. Deus Espírito Santo ainda os capacitou para falarem "das grandezas de Deus" em diferentes idiomas da época, para que cada um ali presente, pudesse ouvir esta maravilhosa mensagem da salvação em seu idioma materno. Naquele dia, três mil pessoas se converteram e foram batizados em nome de Jesus. Eles formaram a primeira comunidade cristã. E perseveravam na doutrina dos apóstolos (At 2.46).
Este acontecimento, a vinda do Espírito Santo com sinais visíveis, foi único. Houve ainda outras quatro manifestações complementares de Pentecostes. A manifestação em Samaria (At 8.4-17), para deixar claro que os samaritanos, inimigos dos judeus, têm parte nesta salvação; em Cesaréia (At 10.44-48), para mostrar que os gentios também têm parte na salvação de Cristo; e a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos de João (At 19.1-7), para mostrar que a pregação de João teve o seu fim em Cristo. Dali para frente, Atos dos Apóstolos não registra mais sinais externos na vinda do Espírito Santo. A referência que o apóstolo Paulo faz ao dom das línguas em Corinto, vamos analisar mais ao final deste estudo. Importa lembrar aqui, que o Espírito Santo vem pelos meios da graça, palavra e sacramentos. Sua obra principal é “glorificar a Cristo” nos corações e conceder dons à sua igreja para o cumprimento de sua missão.

III - A OBRA DO ESPÍRITO SANTO
Ao examinarmos a doutrina do Espírito Santo, precisamos ater-nos fielmente à palavra de Deus. Jesus definiu a obra do Espírito Santo. Ele disse que o Espírito Santo, o Consolador, virá para “glorificar a Cristo” (Jo 16.14). O que significa isto? Significa que o Espírito Santo está incumbido de mostrar às pessoas, através da palavra de Deus, a Bíblia, quem é Jesus e o que ele fez para a salvação da humanidade. Mostrar que Jesus Cristo é o eterno Filho de Deus, gerado do Pai desde a eternidade, e verdadeiro homem nascido da virgem Maria. E que Jesus, como substituto de toda a humanidade, cumpriu a lei de Deus; e, por sua paixão e morte de cruz, por um só sacrifício (Hb 10.12) pagou pela culpa de toda a humanidade e reconciliou a humanidade com Deus (2 Co 5.19); e, ao ressuscitar da morte no terceiro dia, triunfou sobre nossos inimigos: pecado, morte e Satanás. Vejamos isto mais de perto.
Desde a queda de Adão e Eva em pecado, todas as pessoas nascem com o pecado original. Isto é, desde a concepção somos completamente corrompidos pelo pecado. A Escritura afirma: “Eu nasci na iniqüidade e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl 5l.5). Ora o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente (1 Co 2.14). Estando nos mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo - pela graça sois salvos (Ef 2.5). Por isso o pendor da carne é inimizade contra Deus (Rm 8.7). Por isso vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema Jesus! por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito Santo (1 Co 12.3). Estas palavras mostram que, já por nascimento, somos espiritualmente cegos, mortos e inimigos de Deus.
Deus usa ainda a expressão: Vós tendes um “coração de pedra” (Ez 36.36), e precisam nascer de novo (Jo 3.5). O Espírito Santo está encarregado de dar-nos um coração novo, de dar-nos vida espiritual e conservar esta vida. Jesus disse: Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo; do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado (Jo 16.8-11; Ez 11.19; 36.36). Por estes meios, o Espírito Santo convence de pecado. Isto é, quando alguém ouve, lê ou relembra a palavra de Deus, o Espírito Santo atua poderosamente por esta palavra. Ele mostra à pessoa o quanto ela transgrediu os Mandamentos de Deus, o quanto o pecado corrompeu o ser humano. Mostra que o pecado é ofensa a Deus e que a ira de Deus que pesa sobre o pecador. Por causa dos pecados merecemos todos a eterna condenação, o inferno. O pecado, por menor que seja, separa a pessoa de Deus e a lança na eterna condenação. Vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus (Is 59.2). O salário do pecado é a morte (Rm 6.23). A alma que pecar, essa morrerá (Ez 18.4). Diante disto estremecemos, como os ouvintes no dia de Pentecostes, a respeito dos quais lemos: Compungiu-se-lhes o coração." Eles ficaram muito aflitos, desesperados e perguntaram: Irmãos, o que devemos fazer. E Pedro lhes respondeu: "Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus (At 2.37,38). Isto é a mesma cousa quando exclamamos: "Senhor, misericórdia!" Então o Espírito Santo, pelo evangelho, a boa nova da salvação, mostra a justiça de Cristo. Isto é, a justiça que vale diante de Deus. Diante de Deus não podemos subsistir com nossa justiça própria, pois nossa justiça é como trapo de imundícia (Is 64.6). O Espírito Santo mostra que diante de Deus só vale a justiça de Cristo. O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todos os pecados (1 Jo 1.7). Àquele que não conheceu pecado, ele (Deus), o fez (a Jesus) pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus (declarados perdoados e justos diante de Deus, pelos méritos de Cristo (2 Co 5.21). O profeta Isaías exclama: Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus, porque me cobriu de vestes de salvação, e me envolveu com o manto da justiça (Is 61.10). "Do juízo". Jesus Cristo é juiz de vivos e mortos. Ao homem está ordenado morrer uma só vez, depois disto o juízo (Hb 9.17). O príncipe deste mundo (Satanás) já está julgado. Em breve Jesus virá com poder e grande glória para julgar vivos e mortos (At 17.31).
Eis a maravilhosa obra do Espírito Santo. Sua obra consiste em convencer as pessoas, pela palavra de Deus, destas verdades fundamentais. Chamar as pessoas das trevas para a maravilhosa luz de Deus. Este chamado não é um chamado comum, como alguém que chama o seu amigo, mas é um chamado poderoso, como quando Jesus chamou a Lázaro da morte para a vida (Jo 11). Tendo chamado a pessoa da morte para a vida, tendo levado a pessoa ao reconhecimento de seus pecados, ao arrependimento, à fé em Cristo, o Espírito Santo ilumina a pessoa com seus dons. Isto é, cria na pessoa a fé, o reconhecimento de ser Jesus o verdadeiro Filho de Deus, o Salvador da humanidade. O Espírito Santo leva a pessoa a aceitar a Cristo como seu Salvador. A pessoa confessa: É o meu Salvador. E desta fé brota o desejo de querer conhecer a Jesus mais e mais. A pessoa se apega à palavra de Deus e pede ao Espírito Santo que venha e a faça crescer na fé, a ilumine mais e mais, a faça conhecer a seu amado Salvador mais e mais. O Espírito Santo vem a esta pessoa e faz nela habitação. Começa na pessoa o que podemos chamar de limpeza e renovação do coração. O Espírito Santo implanta no coração da pessoa novas qualidades e forças. É a nova vida em Cristo. Ao mesmo tempo começa na pessoa a grande batalha que vai durar até sua morte, que têm altos e baixos, a batalha entre a sua natureza carnal, chamado o “velho homem” e a fé, chamado o “novo homem.” A pessoa une-se aos irmãos na fé, a uma comunidade cristã, tanto para fortalecimento de sua fé, como para participar nos trabalho de proclamar a palavra de Deus para salvação de muitos (Hb 11). Sobre esta renovação e a luta entre a carne e o espírito, o apóstolo Paulo fala em sua carta aos Gálatas 5.16-26. Ele afirma: Os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito (Gl 5.24,25). O Espírito Santo guia à toda a verdade, a palavra de Deus é a verdade (Jo 17.17). O Espírito consola, ele é o Consolador. Não, simplesmente, em coisas puramente espirituais, mas ele dá sabedoria para peregrinação aqui na terra. Ele consola nos momentos de desespero, na aflição e angústia, na tristeza. Ele nos fortalece para carregarmos nossa cruz e nos momentos de alegria ele nos guarda para não transgredirmos os mandamentos de Deus. Ele nos assiste nas diversas responsabilidades. Vejam como príncipes, reis, ministros recorreram a Deus em oração, buscando dele a sabedoria de vida. Por isso o apóstolo Paulo afirma: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdia e Deus de toda a consolação. É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar aos que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus ( 2 Co 1.3,4). E: Vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção (1 Co 1.30). Cuidemos, para não buscarmos conselhos em “cisternas rotas” (Jr 2.13), que não retém água (na vã filosofia humana). Vamos sempre à fonte da água viva (Jo 2.13).
Resumindo. O trabalho do Espírito Santo é levar as pessoas ao arrependimento e à fé em Cristo. Habitar nos fiéis para guiá-los diariamente na luta contra o pecado, impulsionando e guiando-os em todo o servir a Deus no próximo. Importa lembrar, não é o nosso espírito que se apossa do Espírito de Deus, mas o Espírito de Deus que vem a nós pela palavra de Deus e os sacramentos, toma as rédeas e guia nossa mente. Por isso diz o apóstolo: Habite ricamente em vós a palavra de Cristo (Cl 3.16).

VI - MEIOS DA GRAÇA
Como o Espírito Santo faz isto ou realiza este seu trabalho. Assisti, certa vez, o culto de um grupo Pentecostal. Eles cantaram incansavelmente um hino após outro. Criou-se um clima contagioso e sentimental. Pessoas pulando, ajoelhando, outras com mãos ao alto louvando, uns falando (no dizer deles) em outras línguas, outros interpretando. Ora cantando bem suave e de repente com a bateria e todo o volume e a toda a voz, com gritos, e as pessoas saltando. Não houve leitura da palavra de Deus, nem mensagem. Perguntei a alguém: Vocês não lêem a palavra de Deus e não têm mensagem? A pessoa respondeu: “Quem comanda o culto é o Espírito Santo. Hoje ele não deu mensagem nem para ler nem para expor, mas ele tocou os corações. Foi uma noite maravilhosa. Estou edificado.” Fiquei surpreso. Não é assim que o Espírito Santo trabalha. Ele vem a nós por meios que são a palavra de Deus e a correta administração dos sacramentos. Onde se deixa de usar estes meios - que chamamos por isso de meios da graça - ali se fecha a porta ao Espírito Santo. Ali o Espírito Santo não pode trabalhar nos corações.
No dia de Pentecostes, o Espírito Santo veio aos apóstolos direto, repentino e majestoso, conforme a promessa de Jesus: Recebereis poder, ao descer sobre vos o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas (At 1.8). Mas isto foi forma única. Já ao povo, reunido no dia de Pentecostes, o Espírito Santo não veio assim. O povo recebeu o Espírito Santo pela pregação dos apóstolos e os sacramentos. Deus nos amarrou aos meios da graça, mesmo que ele, Deus, esteja livre para agir. Por isso, quando Jesus ordenou a seus discípulos: “Ide fazei discípulos ...”, mostrou-lhes como deveriam fazê-lo: “Batizando e ensinando” (Mt 28.19,20). Não há outra maneira de fazer discípulos. É através destes meios que o Espírito Santo chama, ilumina, santifica e congrega. Em outras palavras, o Espírito Santo leva ao arrependimento e gera a fé em Cristo, fortalece e conserva na única e verdadeira fé somente pela palavra de Deus e os sacramentos. Estes verbos expressam a ação do Espírito Santo. Experimentamos esta ação do Espírito Santo. Mas cuidado na definição destas experiências. Elas nem sempre são palpáveis. Nossos pais cantam num hino: “Quer o sinta ou não, apego-me ao que está escrito. Deus me ama em Cristo, nele tenho perdão (HL, 371).” O oração não é um meio da graça. Jesus disse: Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus (Jo 3.5), a saber, o Espírito Santo vem e trabalha pelo batismo ordenado por Jesus e a pregação da palavra de Deus. O apóstolo Paulo escreve: Assim, a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo (Rm 10.17). E aos Gálatas escreve: Recebestes o Espírito pelas obras da lei, (isto é, por merecimento, de vosso preparo, de vossas obras,) ou pela pregação da fé? (Gl 3.2). Quando, por isso, o apóstolo recomenda: “Enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18), isto é a mesma cousa que ele escreve aos colossenses, ao dizer: Habite ricamente em vós a palavra de Cristo (Cl 3.15). Onde o Espírito Santo opera a fé, ali ele faz morada. O Espírito Santo passa a habitar na pessoa e a faz crescer na fé e na vida santificada. Não existem duas classes de cristãos: os com fé, mas sem o Espírito Santo e os com fé e o Espírito Santo; ou como alguns afirmam: cristãos carnais e cristãos espirituais. Existem cristãos e não cristãos, e entre os cristãos há cristãos fracos e fortes na fé. Todo o cristão, enquanto na fé, é templo do Espírito Santo (Gl 5.16-26). Isto é, o Espírito Santo está na pessoa, pela fé em Cristo, e procura guiar a pessoa em suas decisões, ajudá-la a reconhecer e vencer as tentações da carne, do mundo e de Satanás e guiá-la a toda a boa obra, para que sirva a Deus no próximo em amor.

V - PERIGOS NA INTERPRETAÇÃO
Vimos que o Espírito Santo realiza seu trabalho através de meios, a saber: da palavra de Deus e dos sacramentos. Ao refletirmos sobre isso, cumpre evitar dois perigos: buscar interpretar a Bíblia só à luz da razão (escolasticismo, filosofia na escola da idade média) ou buscar o Espírito Santo fora da palavra de Deus (misticismo, contemplação espiritual, para entrar em contacto direto com Deus, sentir a Deus).
Algumas pessoas colocam a razão sobre a Bíblia. Manejam a palavra de Deus só com a razão. Bem, eu preciso usar a razão para ler e estudar a Bíblia, mas minha razão deve permanecer subordinada à palavra de Deus e não pode ser juíza da mesma. Pelo estudo da palavra de Deus, o Espírito Santo ilumina, chama a Cristo e gera confiança na graça de Cristo, consola e guia na vida santificada. Por isso, ser cristão não consiste simplesmente em possuir alguns conhecimentos bíblicos e aceitar algumas doutrinas. Tal conhecimento os demônios também podem ter. Lutero respondeu a esta grupo: "A fé não é simples conhecimento acadêmico (simples filiação a uma congregação). A fé é um dom (presente) do Espírito Santo, é confiança na graça de Cristo. Por isso a fé é algo vivo e eficaz, é ser regenerado, ser nova criatura, é vida em comunhão com Deus pela graça de Cristo.
No outro extremo estão aqueles que buscam o Espírito Santo fora da palavra de Deus. Eles julgam conquistar e receber o dom do Espírito Santo por meio de suas orações, jejuns e obras de piedade. A estes Lutero respondeu: “O Espírito Santo vem a nós somente através da palavra de Deus e dos sacramentos e não fora deles. Se alguém julga ter sonhos e visões, deve julgar tudo isto à luz da palavra de Deus.” “Provai os espíritos” (1 Jo 4.1), recomenda o apóstolo João. Provar como? À luz da palavra de Deus, da Escritura. Os colossenses queriam a plenitude no espírito, poderes celestiais além de Cristo, o apóstolo Paulo lhes escreveu: Toda a plenitude está permanentemente em Cristo (Cl 1.19). A plenitude que os cristãos possuem em Cristo é completa, não porque o cristão é capaz de apropriar-se desta plenitude, mas sim, porque Cristo vem a nós e nos recebe, faz-nos membros do seu corpo e nos torna herdeiros do céu. Temos estes bens, no entanto, em fé. Ainda não se revelou o que havemos de ser (l Pe 5.1). O reino de Deus não vem com visível aparência (Lc 17.20). Enfatizar a palavra de Deus sem o Espírito Santo é fé morta. Enfatizar o Espírito Santo fora da palavra de Deus leva ao misticismo. É preciso ater-se à palavra de Deus. Pois, pela palavra de Deus o Espírito Santo atua, chama, ilumina, santifica e congrega (Lc 24.44-47). Se alguém perguntar, por exemplo: Como você sabe que a Bíblia é a verdadeira palavra de Deus? Respondemos: Sei isto pela convicção que o Espírito Santo me dá. - E como você sabe que esta convicção vem do Espírito Santo? Sei isto pela palavra de Deus, que o afirma.
Esta é a graciosa ação de Deus Espírito Santo. Este trabalho do Espírito Santo pode ser rejeitado. Uma pessoa pode resistir ao Espírito Santo, quer por um tempo ou durante toda a sua vida. Assim no dia de Pentecostes alguns zombaram dos apóstolos, dizendo: Estão embriagados (At 2.13). Mais tarde Estevão teve que dizer ao povo de Israel e a seus líderes: Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo, assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis (At 7.51). E o apóstolo Paulo adverte: “Não entristeçais o Espírito” (Ef 4.30). Quando alguém rejeita insistente e persistentemente a admoestação do Espírito Santo, o Espírito Santo se retira da pessoa. Jesus disse: E o último estado daquele homem se torna pior do que o primeiro (Lc 11.26).

VI - A FÉ CRISTÃ
A fé cristã é um dom de Deus. Dom é um presente. Deus dá a fé. Ele a dá por meios. Ele quer gerar a fé em todas as pessoas que ouvem a palavra de Deus e recorrem aos sacramentos. Pois, ninguém pode crer por “própria razão ou força,” visto sermos, por natureza, espiritualmente cegos, mortos e inimigos de Deus (1 Co 2.14; Ef 2.1; 1 Co 12.3). Mas, pela palavra de Deus, o Espírito Santo atua poderosamente nos corações daqueles que não lhe resistem obstinadamente, e gera neles a fé. A palavra de Deus é o poder de Deus (Rm 1.16). A palavra de Deus dá o que requer. Por isso, “ao ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações” (Hb 3.8).
E o que é a fé cristã? A fé cristã não é simples conhecimento de algumas verdades bíblicas, mas é um conhecimento vivo e atuante. Em que sentido? Pela palavra de Deus o Espírito Santo ilumina a pessoa. Isto é, a pessoa reconhece o Deus triúno como o único Deus; estremece diante da santidade de Deus, reconhece ser um mísero pecador, réu da eterna condenação; reconhece também, pelo evangelho, o amor de Deus em Cristo Jesus, que reconciliou a humanidade com Deus por seu sacrifício na cruz (justificação objetiva). A pessoa sabe: Jesus é o meu único e suficiente salvador e se alegra nele (justificação subjetiva). A fé cristã se apega à palavra de Deus, especialmente às promessas da graça. Ela diz: Jesus é o meu Salvador e Senhor. E ao se firmar nas promessas, ela é corajosa. Ela não se estriba em seus próprios pensamentos, sonhos e desejos. Por outro, a fé em si não é causativa. Isto é, ela não tem poder em si mesma. O poder é de Deus, à quem a fé agarra em sua palavra (ordem e promessas). A fé não tem nada a ver com simples pensamento positivo. O pensar positivamente é firmar-se sobre si mesmo. A fé não se firma em si mesma, mas se apega às promessas de Deus. Por exemplo, se minha consciência me acusa de pecado, vou examinar-me à luz da palavra de Deus. Se errei, preciso me arrepender. Então recorro à graça de Cristo. Firmado na palavra de Deus, posso dizer à minha consciência: Fique quieta! Você não tem mais o direito de me acusar. Meu pecado foi pago por Cristo em quem confio. Pela palavra de Deus o Espírito Santo age poderosamente e me concede paz. - Se preocupações me perturbam, recorro à palavra de Jesus: Não andeis ansiosos (Mt 6.31-34). Em oração lanço minhas preocupações sobre Jesus (1 Pe 5.7), e peço que Cristo me assista. Recito para mim salmos e hinos. O Espírito Santo atua no coração. A paz volta. Isto pode ser muito semelhante à ginástica do pensamento positivo, mas é radicalmente diferente. Lidamos com a palavra de Deus, pela qual o Espírito Santo age poderosamente. Se por um motivo ou situação perigosa, o medo da morte me assaltar, recorro à palavra de Deus: “Não temas. Eu venci a morte” (Lc 12.4,32). O Espírito Santo atua no coração e o acalma. Assim o Espírito Santo age por meio da palavra de Deus e dos sacramentos.
Como filhos queridos do Pai, não impomos ao Pai a nossa vontade. Oramos como filhos. Expomos ao Pai, como filhos queridos, nossos desejos, anseios e sabemos que o Pai nos escuta e fará aquilo que lhe apraz, aquilo que realmente coopera para o nosso bem, o bem estar dos que nos cercam e do seu reino (Jo 15.16). Por isso dizemos com toda a humildade e confiança: Seja feita a tua vontade. Isto não é duvidar das promessas de Deus. A oração de fé não se baseia em suas próprias forças, mas no condicional de Deus: “Se for de tua vontade.” A força da fé também não depende de correntes de oração, como se o clamor de muitos pudesse mover o Pai a atender os pedidos. Se clamamos como família de Deus, também o fazemos no condicional. A oração de fé também não é negociata com Deus: Senhor, prometo ou dou isto ou aquilo, se atenderes o meu pedido. Quando a fé não tem ordem e promessa expressa de Deus, o cristão coloca seu pedido no condicional: “Se for de tua vontade.”

VII - SINAIS DA FÉ
Como posso saber se estou na verdadeira fé cristã? O apóstolo João dá a resposta em sua carta: Nisto conhecemos que permanecemos nele ...Aquele que permanecer no amor permanece em Deus, e Deus nele. (1 Jo 4.13-21). Quais são os sinais? O primeiro sinal é em relação ao objeto da fé: Reconhecer a Jesus como Filho de Deus, Salvador do mundo, o meu Salvador. A fé cristã se apega ao amor que Cristo nos revelou em sua paixão e morte de cruz, pelo qual reconciliou a humanidade com Deus. Este amor de Cristo, que é o perdão dos pecados, nos concede paz, alegria e esperança. Este amor nos leva a amar a Deus e ao próximo, que são os frutos da fé. O amor a Deus se revela no apego à palavra de Deus, na luta contra o pecado e no empenho por vida santificada. Estes são os sinais da verdadeira fé cristã. Enquanto que a justificação é perfeita, a santificação é imperfeita. Por isso, quando a lei nos acusa e nos diz: Veja como você ainda é pecador. Você não é cristão. Você não tem nenhum dos sinais da fé. Então não devemos olhar para dentro de nós, para o Cristo “em nós” (fé subjetiva); sob a acusação da lei cumpre-nos olhar imediatamente para o Cristo “por nós” (fé objetiva) na cruz. Nosso consolo e fundamento da fé não está em nós, mas fora de nós, no Cristo que morreu “por nós” na cruz..
Se o Espírito Santo é um dom tão precioso, se ele nos guia na verdade, nos fortalece a fé, nos enche o coração de amor a Deus e ao próximo, como é possível haver entre os cristãos ainda tantas dúvidas, tantas fraquezas, tantas imperfeições? Diante desta pergunta é importante lembrar que, apesar de sermos, como cristãos, templos do Espírito Santo, temos ainda nossa natureza carnal que nunca muda, que está sempre inclinada para todo o mal, que luta contra o Espírito e contra a fé. Nossos pais expressaram isto assim nas Confissões: “Somos simultânea e totalmente pecadores e santos.” O cristão, conforme sua natureza carnal, é totalmente pecador. O apóstolo Paulo confessa: Eu sei que em mim, isto é, na minha carne não habita bem nenhum (Rm 7.18). Ele afirma isto como apóstolo. E conforme sua fé, o cristão é totalmente santo, porque Deus lhe perdoa abundante e diariamente todos os pecados, o declara justo e santo. Assim, conforme a carne somos totalmente pecadores e conforme a fé, totalmente santos. Isto estabelece uma luta interna. Nossa fé luta contra nossa carne e a carne contra o Espírito. E “os que são de Cristo Jesus crucificam a carne, com suas paixões e concupiscências” (Gl 5.24). Isto requer do cristão permanente apego à palavra de Deus, oração sem cessar e vigilância. Nesta luta, há altos e baixos. O Espírito Santo nos assiste em nossas fraquezas e nos fortalece (Gl 5.25). Há cristãos fortes e fracos na fé; há, na vida de cada cristão, momentos de fraqueza e momentos de vitória sobre o mal. A luta diária, é sinal de estarmos na verdadeira fé cristã. Por outro precisamos lembrar que há na igreja cristã também hipócritas. Pessoas que confessam a Cristo com a boca, mas não crêem. É o joio no meio do trigo, do qual Cristo fala (Mt 13.25). Além disso, há também falsos profetas. Uma característica dos dias finais (Mc 13.22).

VIII - DONS
Hoje, fala-se muito nos dons do Espírito e na importância de se buscar estes dons. Alguns lêem as passagens referentes aos dons como lei. Falam da necessidade de cada um descobrir o seu dom e, então, buscar um campo de ação. Alguns afirmam terem dons de curar, de falar em outras línguas, etc. E outros ficam muito preocupados e dizem: Não sei, não tenho dons especiais. Será que sou cristão? É importante lermos estas passagens de forma evangélica, e lembrar que Cristo concede dons “quando e onde lhe apraz” (1 Co 12.11). Deus concede os dons na medida em que ele os julga necessários. Os sinais “hão de acompanhar” (Mc 16.17) até onde e quando Jesus o julgar necessário. E nisto Deus nos dá um conselho: Procurai com zelo, os melhores dons (1 Co 12.31). O que significa isto? Qual o parâmetro para se saber quais são os melhores dons? Infelizmente, acentua-se hoje, os dons antes do ofício. Isto é inverter as coisas. Cabe-nos olhar em nosso derredor para o nosso campo de ação e descobrir ali as necessidades das pessoas, da congregação, da igreja e então agir sobre as mesmas em amor, conforme nossa responsabilidade como pai, mãe, filho, filha, patrão, empregado, cidadão, autoridade (Cf.: Cat. Menor, Tábua dos Deveres). Isto nos leva à oração, para pedirmos a Deus forças, habilidades, dons, recursos para servir. Isto é o contrário da busca de dons para auto projeção, ou auto realização, ou à base da exigência da lei. É importante notar que Jesus, ao conferir a Pedro novamente o apostolado não lhe perguntou sobre dons e habilidades, mas uma coisa só: “Pedro amas-me mais do que estes?” (Jo 21.15).

IX - MOVIMENTOS CARISMÁTICOS E PENTECOSTAIS
Os movimentos carismáticos e pentecostais dão grande ênfase aos carismas, aos dons, e acentuam a obra do Espírito Santo. Com relação a esses movimentos, que perpassam quase todas as denominações, cabe-nos ressaltar ainda o seguinte:
9.1 - Pregamos a Cristo e este crucificado - O centro da mensagem cristã “é Cristo e este crucificado” e não o poder e a glória de Cristo. A grande glória de Cristo, que os evangelhos destacam, é o fato de Cristo ter dado a sua vida “por nós.” “O seu sangue nos liberta de todos os pecados” (1 Jo 1.7). Seu poder e sua glória são importantes, mas não nos salvam em si. Saber que Jesus tem poder e toda a autoridade e glória não nos salvam. O trabalho do Espírito Santo não é chamar a atenção sobre si e sua obra, mas “glorificar a Cristo nos corações” (Jo 16.14). E qual é a glória de Cristo? Que ele deu sua vida pela humanidade na cruz, a fim de nos reconciliar com Deus. Somos convidados a olhar para Cristo “por nós,” e não no Cristo “em nós.” O Cristo “em nós” (Jo 14.23) é uma realidade, mas não a fonte de nosso consolo, mas é conseqüência. Trocar estes dois fatores é como basear a salvação em obras em vez de na graça de Cristo. Nosso consolo é a fé objetiva, que confia na palavra escrita da Bíblia, que nos mostra a graça de Cristo, à qual se apega. Os frutos da fé são as boas obras, o que Cristo faz em nós, a santificação (fé subjetiva). A santificação interna é imperfeita e têm altos e baixos.
Por isso, não pregamos a nós mesmos, a nossa experiência. Infelizmente vemos isto em muitos pregadores. Eles pregam suas experiências. Por exemplo: “Eu fui alcoólatra, agora Cristo me transformou. Eu tive uma experiência maravilhosa, quando o Espírito Santo desceu sobre mim. Falei em línguas, etc. Os profetas e apóstolo não pregaram suas experiências, mas o que Deus fez em Cristo por eles. Numa e outra vez mencionaram as transformações, mas não como ponto de partida para converter outros. Imagine se os apóstolos e a virgem Maria tivesse se levantado no dia de Pentecostes para dizer: “Hoje de manhã tivemos uma experiência sem igual. Foi maravilhosa!” E Maria talvez diria: “O que experimentei hoje não se compara a nada, nem à concepção nem ao momento do nascimento de Cristo.” Não, eles não pregaram suas experiências, mas as grandezas de Deus, a Cristo e este crucificado.

9.2 - Teologia da cruz versus a teologia da glória. - Teologia é o ensino de Deus. Teologia da cruz tem como centro a cruz de Cristo. A teologia da glória tem como centro o poder e a glória de Cristo. As duas afirmações são verdades bíblicas. A questão está na ênfase que se dá à estas doutrinas. a) Humilhação de Cristo. Cristo se humilhou profundamente até à morte de cruz. “A humilhação de Cristo consistiu em não ter Cristo usado sempre e inteiramente a majestade divina, comunicada à sua natureza humana” (Cat. Menor, perg. 155). Assim sua igreja aqui na terra continua sob a cruz, em humilhação. Agora sois filhos de Deus e ainda não se revelou o que havemos de ser (1 Jo 3.2). Sofremos injustiças, estamos expostos a doenças e à morte (At 14.22). Semeia-se em desonra (1 Co 15.42). O erro da teologia da glória é aplicar aos cristãos do Novo Testamento, promessas específicas que Deus deu ao povo de Israel no Antigo Testamento, como se a vida cristã fosse o céu na terra. Por exemplo, Deus prometera aos filhos de Israel que, se eles fossem fiéis, Deus os abençoaria em todos os sentidos. Pois eles deveriam se destacar até pelo exterior, na forma de vestimenta, das comidas e na forma de culto do resto dos povos, para serem uma luz no mundo. Muitos querem aplicar estas profecias, dadas especificamente ao povo de Israel, à igreja do Novo Testamento. Mas Deus não prometeu isto à sua igreja no Novo Testamento. Pelo contrário, ele lhes disse: Como me perseguiram a mim, também vos perseguirão (Jo 15.20). Deus protege seus filhos e mesmo assim trilhamos pelo vale da sombra da morte. b) Exaltação de Cristo. Após sua ressurreição, Cristo foi exaltado. Ele está à direita do Pai e governa com poder sobre todos, com graça a sua igreja, com glória sobre os que já estão com ele no céu. Nós seremos exaltados após a morte e nosso corpo experimentará a glória no dia da grande ressurreição dos mortos, no dia do juízo final; ou se nos for dado o privilégio de vermos sua vinda em glória em nossa vida. Mas enquanto estamos aqui na terra, estamos sob a cruz.
Em resumo. O cento da pregação bíblica, para geração da fé salvífica e sua conservação, não é a pregação do poder e da glória de Cristo, nem as bênçãos corporais e materiais que Deus distribui como lhe apraz; mas a pregação “Cristo, e este sacrificado,” para salvação e perdão dos pecados. E a correta distinção entre lei e evangelho.
Vamos relembrar a diferença entre Lei e Evangelho. São duas doutrinas que perpassam toda a Bíblia. Não devem ser separadas nem misturadas. A lei não conhece misericórdia nem perdão. Ela exige, ameaça e condena. Pela justiça da lei ninguém alcança a salvação. A lei leva ao reconhecimento de pecados, da ira de Deus que pesa sobre nós e mostra que precisamos um salvador. O evangelho é a boa nova da salvação que Deus Pai preparou em Cristo para toda a humanidade. É a doutrina central da Bíblia. O evangelho anuncia o perdão de Deus. Dele vem toda a consolação. Vejamos a diferença entre Lei e Evangelho:
1. A lei ensina o que nós devemos fazer ou deixar de fazer;
o Evangelho, o que Deus fez e ainda faz para a nossa salvação.
2. A Lei nos manifesta o nosso pecado e a ira de Deus;
o Evangelho, o nosso Salvador e a graça de Deus.
3. A Lei exige, ameaça e condena;
o Evangelho, ao contrário, nos promete, dá e sela o perdão, a vida e
a salvação.
4. A Lei provoca a ira e mata;
o Evangelho chama e atrai a Cristo, opera a fé e desta maneira nos
vivifica.
5. A Lei deve ser pregada aos pecadores impenitentes;
o Evangelho aos atemorizados.


X - O DOM DAS LÍNGUAS
O dom das línguas, neste contexto, é outro assunto muito discutido. Já foram escritos muitos livros a favor e contra. Não temos aqui espaço para uma exposição minuciosa. Queremos, no entanto, chamar atenção às principais afirmações do apóstolo Paulo em sua carta aos coríntios.
O apóstolo fala do dom das línguas, como usado no culto público. A grande pergunta que se coloca é: Este é o mesmo dom das línguas que os apóstolos receberam no dia de Pentecostes ou um falar diferente? A língua serve para comunicar. A confusão das línguas na torre de Babel (Gn 11) foi um castigo de Deus sobre o orgulho humano. No dia de Pentecostes Deus concedeu o dom de falar em línguas com a finalidade de comunicar “as grandezas de Deus (At 2.11),” o amor de Deus revelado em Cristo. Os coríntios queriam experiências místicas com Deus. O apóstolo lhes diz: Outrora éreis gentios, deixáveis conduzir-vos aos ídolos mudos, segundo éreis guiados (1 Co 12.2). Eram experiências místicas. Mas o Espírito é dado “visando um fim proveitoso” (1 Co 12.7). No caso das línguas, que as pessoas entendam o que se diz. Procurai com zelo os melhores dons (1 Co 12.31). Isto é, aqueles que servem para propagar o evangelho. Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis. Pois quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando. O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja ... ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar para que a igreja receba edificação (1 Co 14.l-5). Vamos comentar este trecho. Profetizar é pregar, expor a palavra de Deus. E isto deve acontecer em língua que os ouvintes compreendam. “O que fala em outra língua,” isto é, numa língua que os ouvintes não entendem, mas o que fala entende o que fala a Deus. Ele fala mistérios. Mistérios para quem? Não para si, mas para os ouvintes. Ele ao relembrar a palavra de Deus e meditar sobre ela, é edificado. Não há edificação por algo que não se entende. Se alguém quer falar uma palavra a uma comunidade, mas não fala a língua dos irmãos, muito comum naquela época, procure um interprete. Combine isto antes do culto. E se não encontrar interprete, cale naquele culto (1 Co 14.28). Paulo ainda diz: Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas minha mente fica infrutífera (não produz fruto para os outros, os ouvintes).” Isto é. Se eu orar, digamos em japonês numa reunião de brasileiros. Eles não vão me entender, mas eu, que entendo japonês estou orando de fato. Pois sei o que estou dizendo a Deus, mas se falasse em público, ninguém o entenderia. Vou falar, só se, em combinação anterior, encontrar um interprete na congregação. Caso contrário, fico quieto. O apóstolo reforça esta interpretação dizendo: Se um instrumento der um som incerto, quem o entenderá. “Assim, vos, se, com a língua não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? (v.9) ... serei estrangeiro para aquele que fala (v.11) ... Como o indouto dirá o amém (v.16) ... Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua (língua existente) ... no caso (se só produzem sons, sem sentido) dirão, porventura, que estais loucos? (v.29). Vejam, não há dúvidas. O apóstolo Paulo fala do dom das línguas. Um dom, uma capacidade de falar línguas existentes para testemunhar a palavra de Deus a pessoas que falam esta língua. E assim, a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo (Rm 10.17). Portanto, todo o falar em língua que é um blá-blá-blá é fruto da imaginação, mas não dom do Espírito Santo. O dom do Espírito Santo visa um “fim proveitoso,” isto é, dizer o evangelho a alguém que precisa ouvi-lo em sua língua materna.

CONCLUSÃO
O Espírito Santo atua até os confins dos séculos. Por palavra e sacramentos, gera e mantém a fé. Fortalece a fé e concede dons. “Enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). Isto é, “habite ricamente em vós a palavra de Deus” (Ef 5.18; Cl 3.15). Diante disto confessamos com nossos pais: “Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim também chama, congrega, ilumina e santifica toda a cristandade na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé. Isto é certamente verdade” (Catecismo Menor, 3º Artigo).
Pentecostes, 2010
Horst Kuchenbecker

Pentecostes

Pentecostes

Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. (Jo 17.17)
Pentecostes, dia do aniversário da Igreja Cristã. Dia em que Jesus enviou o Espírito Santo, conforme prometeu a seus discípulos. Eu (Jesus) rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade. (Jo 14.16) Esta promessa se cumpriu no dia de Pentecostes. Lemos em Atos: Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente veio do céu um som como de um vento impetuoso e encheu toda a casa onde estavam reunidos. E apareceram línguas como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo. (At 2.1-3)
1. Quem é o Espírito Santo? Ele é a terceira pessoa da Santíssima Trindade, que desde a eternidade procede do Pai e do Filho, que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Ele é o doador da vida. Ele atuou na criação do universo, na formação do povo de Israel e concedeu dons aos profetas e reis.
2. Qual é o seu trabalho hoje? Seu trabalho é glorificar a Cristo nos corações. (Jo 16.13) Convencer as pessoas de que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e também verdadeiro homem, único e suficiente Salvador da humanidade.
3. Como o Espírito Santo vem a nós? No dia de Pentecostes, o Espírito Santo foi enviado diretamente aos apóstolos; aos demais, ele veio pelos meios da graça, que são a Palavra de Deus e os sacramentos. Por estes meios, ele atua ainda hoje poderosamente. Sem ele não há compreensão da Escritura Sagrada, nem fé, nem igreja. Assim ele vem ainda hoje aos corações somente pela Palavra de Deus e os sacramentos. Seu poder vivificador, o Espírito Santo não delega a ninguém, nem à igreja, nem a pessoas ou pregadores. Nesta ação, ele mantém sua liberdade, pois trabalha “quando e onde lhe aprouver”. (CA V) Por isso diz o apóstolo: Ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito Santo. (1 Co 12.3) E: Habite ricamente em vós a palavra de Cristo. (Cl 3.16) Hoje, ao ouvires a sua voz, não endureçais os vossos corações. (Hb 3.7)
4. O que o Espírito Santo opera? Pela Palavra de Deus, o Espírito Santo chama, ilumina, santifica, congrega e concede dons. O que significa isso? Pela Lei, os Dez Mandamentos, o Espírito Santo mostra que somos totalmente corrompidas pelo pecado e réus da eterna condenação. Ele conduz ao arrependimento, ao reconhecimento de sua culpa diante de Deus. Pelo Evangelho, ele chama e atrai a Cristo, o qual por sua morte na cruz conquistou completo perdão para toda a humanidade. Assim ele ilumina com seus dons, levando as pessoas à fé, a confiar no perdão de Cristo. Pelo perdão temos paz com Deus e recebemos a adoção de filhos, tornando-nos herdeiros da vida eterna.
Vemos isto no dia de Pentecostes. O apóstolo Pedro disse aos ouvintes: Vocês mataram a Jesus, o Filho de Deus. Mas Jesus, com seu sacrifício, reconciliou a humanidade com Deus. Agora há perdão, vida e salvação. Três mil pessoas estremeceram diante desta pregação e exclamaram: Senhores que faremos? Pedro os consolou com a mensagem do perdão e foram batizados.
Sim, Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (Jo 3.16) Carregou ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos aos pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas fostes sarados. (1 Pe 2.24) Deus... deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Porquanto há um só Deus e um só Mediador, entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem. (1 Tm 2.4,5)
5. Ele concede dons aos homens. Aos fiéis, o Espírito Santo concede força e sabedoria para poderem viver como filhos de Deus neste mundo em trevas, e pelo testemunho da Palavra edificar a Igreja. No dia de Pentecostes, o Espírito Santo aparelhou os discípulos com uma clara compreensão das Escrituras, deu-lhes coragem para testemunharem e o dom das línguas, para que todos pudessem ouvir o Evangelho em sua língua materna e proclamá-la.
6. Enchei-vos do Espírito. (Ef 5.18) Andai no Espírito. Deus nos ordenou pedir o Espírito Santo, para sermos guiados por ele. Nós o encontramos na Palavra de Deus. Ali devemos procurá-lo, isto é, ler e meditar em sua Palavra, com oração. Por esta Palavra, o Espírito Santo guia em toda a verdade e dá o que precisamos como seus cooperadores na edificação do reino de Deus, em nossa caminhada ao lar celestial. Pela leitura e o estudo da Palavra de Deus sob oração e a participação da Santa Ceia, o Espírito fortalece a fé. Da fé brotam os frutos: “Amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5.16-23). Andai no Espírito, e jamais satisfareis à concupiscência da carne (Gl 5.16) Pastor Horst Kuchenbecker

Confissão de Augsburgo, Artigo V
Para conseguirmos essa fé, instituiu Deus o ofício da pregação, dando-nos o evangelho e os sacramentos, pelos quais, como por meios dá o Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando lhe apraz, naqueles que ouvem o evangelho, o qual ensina que temos, pelos méritos de Cristo, não pelos nossos, um Deus gracioso, se o cremos.

Ascensão de Cristo

Subiste às alturas, levaste cativo o cativeiro; recebeste homens por dádivas (Salmo 68.18)
A festa da Ascensão de Cristo, 40 dias após a Páscoa, é a grande festa da coroação de Cristo como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Dia de júbilo para toda a cristandade.
Jesus falou sobre isso a seus discípulos e disse: Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também... Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim... Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai (João 14.1-15).
Jesus subiu vitoriosamente ao céu e tomou posso do seu Reno. Agora ele governa com poder sobre todos, com graça sobre sua igreja, com glória sobre os que já estão no céu. Ele intercede pelos seus junto ao Pai celestial.
Nossos primeiros pais, Adão e Eva, pecaram e foram expulsos do paraíso. As portas do céu foram fechadas aos pecadores.
Jesus veio ao mundo para salvar a humanidade. Como substituto da humanidade, Jesus cumpriu a lei, venceu nossos inimigos: pecado, morte e Satanás. Pelo cumprimento da lei e do derramar o seu sangue reconciliou a humanidade com Deus Pai. Assim Jesus abriu as portas do céu e nos preparou lugar. Agora, à direita do Pai, Jesus intercede pelos seus. Temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo o justo (1 João 2.1-2).
O céu não é dado automaticamente. Pela palavra de Deus, Jesus chama ao arrependimento e à fé em seu perdão.
A lei mostra que somos pecadores perdidos e condenados. O evangelho, a boa nova da salvação pela graça de Cristo, oferece, dá e sela o perdão, vida e eterna salvação. Jesus disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim (v.6). Neste caminho queremos andar por fé, a confiança no perdão de Cristo. Da fé brota o amor a Deus e ao próximo, amor a seus mandamentos, pelos quais nos guiamos em nossa
peregrinação aqui na terra, ao lar celestial; mesmo que ainda em fraquezas e imperfeições.
Jesus concede dons aos homens. Ele disse a
seus discípulos: Fareis obras ainda maiores do
que eu (v.12). Como? A principal obra de Jesus foi salvar a humanidade e chamar pessoas ao arrependimento e à fé. Sua missão de pregar o evangelho limitou-se a Israel. Agora, reconciliada a humanidade com o Pai, Jesus ordenou a seus discípulos: Ide fazei discípulos de todas as nações (Mateus 28.19). Depois do dia de Pentecostes, os discípulos foram e levaram o evangelho até aos confins da terra. Neste sentido fizeram obras maiores das de Cristo e os fiéis continuam fazendo assim até hoje. Missionários pregam, cristãos testemunha, o evangelho é pregado pelas ondas do rádio e da televisão, por livros e folhetos. O trabalho é amparado pelas orações dos fiéis.
Até que ele volte. Esperamos sua volta em glória com todos os santos anjos, para julgar vivos e mortos. Então a terra e o universo se desfarão em fogo. Cristo criará, para os fiéis, novo céu e nova terra, nos quais habitará justiça, isto é, um mundo sem pecado, sem dor, sem sofrimento, em plena paz, alegria e júbilo eternamente. Mas os incrédulos serão condenados ao fogo eterno. Para nós inimaginável.
Confessamos no Credo Apostólico: Creio...que Jesus subiu ao céu, está sentado à direita de
Deus Pai todo poderosos, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio... na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém.
Oramos com o apóstolo João: O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém! (Apocalipse 7.12). Rev. Horst R. Kuchenbecker

Ascensão. Efésios 4.8

A ASCENSĂO DE CRISTO
Subiste às alturas, levaste cativo o cativeiro;
recebeste homens por dádivas. (Salmos 68.18)

A ASCENSÃO DE CRISTO

Então, os levou para Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou. Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu. Então, eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo; e estavam sempre no templo, louvando a Deus. (Lucas 24.50-53 RA)

Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século. (Mateus 28.18-20 RA)

Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir. (Atos 1.9-11 RA)


A ascensão de Jesus Cristo ao céu
e o significado para nós seus seguidores

Introdução
A festa da Ascensão de Jesus Cristo, 40 dias após a Páscoa, é a grande festa da coroação de Cristo como Rei dos reis e Senhor dos senhores. É o dia de sua posse como Rei do universo. Portanto um dia de júbilo para toda a cristandade.
Na vida de Cristo existem quatro grandes eventos que são observados pela Igreja Cristã: Natal, Sexta-feira Santa, Páscoa e Ascensão.
Natal, nascimento de Jesus Cristo. O Filho de Deus, como prometido por Deus Pai, veio ao mundo. “Concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria”, humilde. Os anjos anunciaram: Hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor; e cantaram: Glórias a Deus nas maiores alturas, e paz na terra, aos homens a quem ele quer bem (Cl 2.11,14). A festa recebe grande atenção por parte das congregações cristãs e também por parte da sociedade em geral. Muitos, mesmo não dando atenção à sua mensagem ou mesmo não a aceitando, celebram Natal como uma festa da família e ocasião para troca de presentes.
Sexta-feira Santa, a crucificação e morte de Jesus Cristo. A criatura crucificou seu Criador, o Filho de Deus. Jesus diz: Tu me deste trabalho com os teus pecados (Is 43.24). Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo (2 Co 5.19). O dia é celebrado de várias formas: O Ofício das Trevas, silêncio por 12 horas, cultos especiais, procissões com o Cristo crucificado e auto flagelo; além das tradições populares tais como o não comer carne de animais e/ou fazer deste dia uma festa do peixe e do vinho.
Páscoa, ressurreição de Jesus Cristo. A grande festa de alegria, da absolvição, da esperança, da ressurreição e da vida eterna. Jesus disse: Eu vivo, vós também vivereis (Jo 14.19. Paz seja convosco (Jo 20.19). A festa é celebrada com cultos de louvor e júbilo; para a sociedade, no entanto, é a festa do chocolate, com uma série de lendas em torno de coelhinhos, ovos, etc.
Ascensão, subida de Jesus ao céu. É a festa na qual celebramos a triunfante subida de Jesus aos céus, que se assentou à direita do Pai. Esta festa, infelizmente, está caindo no esquecimento. Poucas são as Comunidades que celebram culto na quinta-feira da Ascensão. E mesmo que o domingo após a Ascensão ofereça boa oportunidade para se falar a respeito, esta oportunidade nem sempre é aproveitada.
Compreendemos ainda este importante passo na exaltação de Jesus e o que isto significa para nós, seus seguidores? Vamos refletir sobre esta verdade que confessamos no Credo Apostólico: “Creio que Jesus Cristo, verdadeiro Deus ... e verdadeiro homem ... desceu ao inferno, no terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu ao céu, e está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.”

1. Importância e significado
A ascensão de Cristo é o terceiro passo em sua exaltação e encerra sua presença visível na terra. De certa forma, a Sexta-feira Santa é o dia das trevas. Se Sexta-feira Santa fosse a palavra final, estaríamos perdidos e nos restaria a confissão de desespero dos discípulos de Emaús: “Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel” (Lucas 24.21), seria o triunfo da lei, da condenação, de Satanás e do Inferno. Mas com a Páscoa tudo mudou. Cristo triunfou sobre os poderes das trevas, sobre o pecado, a morte e Satanás. Jesus pôde saudar seus discípulos com as palavras: “Paz seja convosco! E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor” (João 20.19-20). O apóstolo Paulo jubila ao escrever: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 15.55-57). Agora, a cristandade pode confessar alegre e vitoriosamente: “Creio na ressurreição da carne e na vida eterna.” Pois a ascensão de Cristo é a aprovação e confirmação divina a toda a obra redentora de Cristo, sim sua coroação como Rei dos reis e Senhor dos senhores, como Redentor e Juiz de vivos e de mortos. Não deveria a cristandade celebrar esta festa com cultos de júbilo e de louvor?

2. A celebração da festa nos primeiros séculos
Nos primeiros séculos, a cristandade celebrou a gloriosa e vitoriosa ascensão de Cristo com muito júbilo. Jesus viveu 33 anos aqui na terra, então retornou triunfante ao céu para tomar posse do seu reino e foi recebido com júbilo pelos anjos.
Historiadores relatam sobre os festejos no tempo de Agostinho (AD 354-430). Um relato de AD 385 afirma que o dia da Ascensão era celebrado em Jerusalém com uma peregrinação para o monte das Oliveiras e culto campal. Consta que a Imperatriz Helena, nascida na Inglaterra, mãe do Imperador Constantino I e esposa de Constâncio (248 - 328 AD), por volta de 327 peregrinou para à Terra Santa e fez erguer ali a capela da Natividade e da Ascensão. O historiador inglês, Bede, do século VIII, relata que a celebração da Ascensão de Cristo igualava-se aos festejos da Páscoa e muitas comunidades tinham o hábito de celebrarem a “Quinta-feira Santa da Ascensão” com um culto campal.

3. A Ascensão nas profecias do Antigo Testamento
A ascensão de Cristo foi predita no Antigo Testamento. Os textos próprios são: “Subiu Deus por entre aclamações, o SENHOR, ao som de trombeta” (Salmos 47.5). “Subiste às alturas, levaste cativo o cativeiro; recebeste homens por dádivas, até mesmo rebeldes, para que o SENHOR Deus habite no meio deles” (Salmos 68.18; Ef 4.8-10). No Salmo 110 lemos: “Disse o SENHOR ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés” (Salmos 110.1). O Salmo 22 fala do sofrimento de Cristo e aponta para sua vitória. “Confiou no SENHOR! Livre-o ele; salve-o, pois nele tem prazer ... Pois do SENHOR é o reino, é ele quem governa as nações” (Salmos 22.8,28). O profeta Isaías também fala do Servo sofredor e de sua vitória final: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito ... Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo” (Isaías 53.11-12).

4. Referências do Novo Testamento.
No Novo Testamento temos muitas referências à ascensão de Cristo. Os quatro evangelhos falam da ascensão, porque Jesus se referiu a ela muitas vezes. Os discípulos não viram o ato da ressurreição de Jesus, mas viram o efeito. Eles viram o ressuscitado e tiveram contato com ele. Em Jerusalém, Jesus se manifestou às mulheres quando elas estavam voltando da sepultura, depois a Maria Madalena, a Pedro, aos discípulos de Emaús. Na noite da Páscoa, Jesus apareceu aos discípulos e uma semana depois mais uma vez a todos eles, especialmente a Tomé. Depois foram para a Galiléia, conforme Jesus lhes ordenara. Ali Jesus se manifestou a eles diversas vezes, durante um período de 40 dias. Na ascensão viram o ato e o efeito, que experimentamos até hoje.
Mateus resume as últimas instruções de Jesus dadas a seus discípulos no monte da Galiléia, onde Jesus apareceu a mais de 500 pessoas de uma só vez. Lemos: “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28.18-20). Algumas observações: Jesus, como Deus e homem, recebeu todo o poder; especialmente o mais sublime de todos os poderes, o poder de perdoar pecados. Agora ele governa com poder sobre o universo, com graça a sua igreja e com glória os que estão nos céus. Como Rei e Salvador, ele ordenou a seus discípulos que fossem fazer discípulos de todas as nações. Mostrou-lhes também como deveriam fazê-lo: batizando e ensinando. Por estes meios o Espírito atua nos corações para iluminar, chamar, santificar, fortalecer e congregar. O batizar e ensinar “os”, não se refere aos discípulos, mas aos “indivíduos” das nações, que deveriam ser evangelizados. Pois, pelos dois verbos Jesus mostra como fazer discípulos. Maiores detalhes sobre como batizar e ensinar, nós encontramos em Atos e nas cartas dos apóstolos. Se devemos fazer discípulos de todas as nações, então devemos fazer discípulos também das crianças, que nascem em pecado e precisam do perdão, sendo o batismo o único meio dado por Jesus, para gerar nas crianças a fé cristã. Adultos devem ser instruídos primeiro e então batizados, como o vemos no dia de Pentecostes (At 2.37-41). “Guardar todas as coisas”, não é um simples obedecer. A palavra “guardar” significa mais, significa guardar no coração, isto é, confiar na palavra, crer de coração (Lc 2.19; Lc 11.18). Pelo ensino da palavra o Espírito Santo gera a fé e a fortalece. “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Romanos 10.17). Da fé brota o amor, que tem prazer na lei de Deus.
Marcos é bastante sucinto no seu relato. Ele fornece um resumo dos principais acontecimentos após a ressurreição de Cristo. Os discípulos não creram no testemunho das mulheres. Então Jesus lhes apareceu pessoalmente e comeu com eles (Jo 20). Agora eram testemunhas oculares da ressurreição de Jesus. Marcos descreve o que aconteceu após crerem. “De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus. E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam” (Marcos 16.19-20). O elemento importante em Marcos é a afirmação: “Assentou-se à direita de Deus.”
Lucas, de profissão médico, fornece dois relatos sobre a ascensão de Cristo. O primeiro, no final de seu evangelho e o outro, no início de Atos dos Apóstolos. Ele descreve a ascensão de Jesus com muitos detalhes.
A primeira referência de Lucas com respeito à ascensão de Jesus é a seguinte: “E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém” (Lucas 9.51). Jesus havia falado a seus discípulos sobre o seu sofrimento e sua glória futura no céu. Por isso disse também aos discípulos de Emaús: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (Lucas 24.25-26).
O fato da ascensão, Lucas descreve assim: “Então, os levou para Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou. Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu” (Lucas 24.50-51).
O livro de Atos dos Apóstolos, no qual Lucas relata sobre a expansão do reino de Deus, ele inicia assim: “Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas ... Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (Atos 1.1,2,9-11). O elemento novo aqui é a afirmação sobre a volta de Jesus em glória.
João, o evangelista. No evangelho de João encontramos 50% das declarações de Jesus sobre sua ascensão. Vamos acompanhar algumas das citações: “Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem que está no céu” (João 3.13). No sermão da multiplicação dos pães em Cafarnaum, após ter alimentado a multidão, Jesus disse a seus discípulos: “Ainda por um pouco de tempo estou convosco e depois irei para junto daquele que me enviou. Haveis de procurar-me e não me achareis; também onde eu estou, vós não podeis ir” (João 7.33-34). Isto Jesus falou a respeito de sua ascensão.
As afirmações mais impressionantes sobre a ascensão, nós encontramos nas palavras que Jesus falou em seus últimos cinco dias de vida, a partir do domingo, que conhecemos como o domingo de Ramos. Estas palavras nós encontramos registradas a partir do capítulo 12 de João. Vejamos. Após seu sermão no templo, ouviu-se uma voz do céu que disse: “Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei” (João 12.28). Jesus disse: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo” (João 12.32). Antes de lavar os pés dos discípulos, Jesus disse: “Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (João 13.1). Tendo Judas saído do cenáculo, onde estavam celebrando a santa ceia, Jesus disse: “Agora, foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele; se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará nele mesmo; e glorificá-lo-á imediatamente” (João 13.31-32). O “glorificar” significa que a graça, o amor de Deus aos pecadores, esta obra da salvação começa a ser executada e manifestada. Esta é a glória de Deus. Este amor nósexaltamos e glorificamos. No seu sermão de despedida em João 14 a 17, existem 9 referências com respeito à sua saída da terra. Jesus prometeu a seus discípulos: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar” (João 14.2). “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho” (João 14.12-13). “Ouvistes que eu vos disse: vou e volto para junto de vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Disse-vos agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós creiais” (João 14.28-29). “Mas, agora, vou para junto daquele que me enviou, e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?” (João 16.5). “Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (João 16.7). “Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Um pouco, e não mais me vereis; outra vez um pouco, e ver-me-eis. Então, alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que vem a ser isto que nos diz: Um pouco, e não mais me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Vou para o Pai?” (João 16.15-17). “Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o mundo e vou para o Pai” (João 16.28). Em sua oração sumo sacerdotal, Jesus repete que irá para o Pai (Jo 17.11,13).
Referências após sua ressurreição nós encontramos no capítulo 20, Jesus disse a Maria Madalena: “Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus” (João 20.17).
Referências nas cartas dos apóstolos. Vejamos algumas palavras das cartas de Paulo e de Pedro. O apóstolo Paulo, em sua carta aos efésios, escreve sobre a ascensão de Cristo e seu resultado, como segue: “E qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no vindouro. E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Efésios 1.19-23). O apóstolo Pedro em sua carta às congregações da Ásia Menor, escreve: “O qual, depois de ir para o céu, está à destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potestades, e poderes” (1 Pedro 3.22).
Hebreus, um livro do Novo Testamento, fala muito da Ascensão de Jesus. Vejamos alguns detalhes. “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hebreus 1.3). Falando sobre o sumo sacerdote Jesus, o escritor aos hebreus declara: “Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem” (Hebreus 8.1,2). No capítulo 10 lemos: “Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hebreus 10.11-14).

5. Verbos usados no original para descrever a ascensão
O texto grego usa 12 verbos diferentes para descrever a forma da ascensão. Vejamos a tradução dos textos em português. 1) Subir: Jo 3.13; 6.62; 20.17. 2) Foi recebido: Mc 16.19; At 1.11. 3) Assunto ao céu: Lc 9.51. 4) Ia-se retirando deles: Lc 24.51. 5) Que eu vá: Jo 16.7 (20.10). 6) Elevado para o céu: Lc 2.51. 7) Elevado às alturas: At 1.9. 8) Vou para junto de ti: At 17.11. 9) Irei: Jo 7.33; 13.3; 14.4,28; 16.5,10. 10) Elevado às alturas: At 1.9. 11) Elevado da terra: Jo 12.32. 12) Vou preparar-vos lugar: Jo 14.2,3,12; 16.28; At 1.10-11.

6. O fato da Ascensão
Vamos resumir o que os evangelistas e apóstolos escreveram a respeito da ascensão de Jesus. Após a ressurreição, Jesus manifestou-se a seus discípulos em Jerusalém. Não parece ter sido a sua intenção de Jesus revelar-se a eles ali, pois os anjos disseram às mulheres que Jesus queria encontrar-se com os discípulos na Galiléia (Mt 26.32; 28.7). Devido, no entanto, a incredulidade deles, Jesus lhes apareceu ainda no domingo da páscoa à noite, falou e comeu com eles. Bem assim uma semana depois da ressurreição, para convencer a Tomé. Então os discípulos foram para a Galiléia, onde Jesus se manifestou a eles durante quarenta dias. Ele os instruiu sobre o reino de Deus, falou-lhes do seu poder, de sua volta para o Pai, da missão de fazerem discípulos, de sua volta em glória para julgar vivos e mortos, do novo céu e da nova terra. Ao final dos 40 dias, Jesus ordenou-lhes que voltassem para Jerusalém. Tendo-se encontrado com eles em Jerusalém, foi com eles para o monte Olival, que dista de Jerusalém mais ou menos um quilômetro, no caminho para Betânia. Ali, dando-lhes as últimas ordens e abençoando-os, foi elevado à vista deles para o céu, até que uma nuvem o encobriu. Pasmados, viram então dois anjos que lhes disseram: “Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (Atos 1.11).
Este é o glorioso acontecimento da ascensão de Cristo. Ele compreende dois fatos: O fato de sua ascensão ao céu e o fato do assentar-se à direita do Pai. Agora Jesus governa como Deus e homem sobre céu e terra. Ele enche céu e terra como Deus e homem. Agora, em sua exaltação, como Deus e homem, ele tem todo o poder divino que ele tinha antes de sua encarnação. Poder este, do qual, como homem, abrira mão voluntariamente durante os dias de sua humilhação. Mas agora, usa totalmente todo o seu poder e toda a sua majestade comunicada a sua natureza humana, isto é, como homem é agora também onisciente, onipotente e onipresente. E nós aguardamos sua vinda em glória para julgar vivos e mortos.
O assentar-se à direita do Pai - O que significa este assentar-se à direita do Pai? Deus, na verdade não tem mãos humanas ou olhos humanos para ver, ou pés para andar. Isto é uma figuras de linguagem. Pois Deus é espírito. A direita indica poder e autoridade. Deus entregou a Jesus todo o poder e o governo sobre todas as coisas. O apóstolo Paulo, relembrando o Salmo 68.18, escreve: “Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas” (Efésios 4.9-10). A ascensão de Cristo é, portanto, a retirada de sua presença visível na terra. Isto não significa que ele não está mais aqui, pois Jesus está em toda a parte como Deus e homem. Por isso temos certeza de que, conforme as palavras da instituição da santa ceia, ele está verdadeiramente presente na santa ceia e nós recebemos com, em e sob o pão o verdadeiro corpo de Cristo e com, em e sob o vinho o verdadeiro sangue de Cristo. Ele garantiu a seus discípulos: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28.20), ele está dizendo que estará, como Deus e homem, com seus discípulos. Cristo, como Deus e homem governa e exerce seus ofícios de profeta, de sumo sacerdote e de rei.

7. Os ofícios de Jesus: profeta, sumo sacerdote, e rei
Jesus, o único profeta. Jesus é o Verbo, o Deus que “disse”, que fala. No Antigo Testamento, Jesus falou pelos profetas. Depois veio pessoalmente e ensinou as multidões. Ao subir ao céu, deu ordem a seus apóstolos e encarregou a igreja de proclamar o evangelho. Ele disse: “Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou” (Lucas 10.16). O apóstolo Paulo afirma: “Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4.10-12). No grande comissionamento, Jesus ordena pregar o evangelho a todas as nações (Mt 28.18-20; At 1.8).
Jesus é o verdadeiro e único sumo sacerdote. Isto é, intermediário entre Deus e a humanidade. Ele, como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sendo perfeitamente santo, como substituto da humanidade, cumpriu perfeitamente a lei, trouxe, pelo derramar do seu sangue, o único sacrifício pelo qual reconciliou a humanidade com Deus e intercede pelos seus. O apóstolo Paulo escreveu: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derrubado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade” (Efésios 2.14-16). E: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos” (1 Timóteo 2:5-6). O autor da carta aos hebreus assegura aos crentes: “Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus” (Hebreus 8.1). O apóstolo Paulo escreveu aos cristãos de Roma: “Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (Romanos 8.34). O apóstolo João conforta seus leitores com a promessa: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 João 2.1-2).
Jesus é Rei. Ele exerce um reino tríplice: o reino do poder, da graça e da glória. Nosso Catecismo Menor o define assim: “Cristo domina poderosamente todas as criaturas e especialmente governa e protege a sua igreja, conduzindo-a finalmente à glória eterna.” (Cat. Menor, perg. 148). Jesus governa com poder sobre todas as criaturas e ninguém poderá lhe resistir. Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mateus 28.18). Jesus governa sua igreja com graça. Isto é, durante todo o tempo da graça até a sua vinda em glória, o evangelho deve ser pregado no mundo e os sacramentos administrados conforme ele os instituiu. Por meio do evangelho e dos sacramentos, o Espírito Santo trabalha poderosamente, operando e conservando a fé, consolando com a palavra do perdão. Perdoa abundante e diariamente todos os pecados aos que nele crêem. “Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz” (João 18.37). Mas esta graça é resistível, como bem afirmou Estevão aos judeus: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis” (Atos 7.51). E os fiéis que já faleceram e estão com Cristo na glória ele coroa de glória e felicidade. O apóstolo Paulo confessa: “O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (2 Timóteo 4.18).
Finalmente, terminado o tempo da graça, Jesus voltará em glória para julgar vivos e mortos. O propósito da segunda vinda de Cristo não é estabelecer um reino terreno, o milênio (Ap 20.2). Esta passagem de Apocalipse deve ser interpretada à luz das afirmações dos evangelhos e das cartas dos apóstolos. Então veremos que o prender a Satanás por mil anos, tem sentido figurativo. Isto é um período determinado por Deus, é o tempo da graça no qual vivemos, no qual o evangelho é pregado. E pelo evangelho o Espírito Santo liberta as pessoas do poder de Satanás. Quando Jesus voltar, ele voltará em glória com grande poder e majestade e todos os santos anjos com ele. Todos os mortos serão ressuscitados. Jesus julgará a todos com justiça. Cristo é a consumação de todas as cousas, a consumação dos séculos. Então criará o novo céu e a nova terra, onde os fiéis estarão com Cristo em eterna felicidade e bem-aventurança. Mas os incrédulos irão para o fogo eterno (Jo 3.18; Mt 18.8; Mt 25.41; Ap 21.8).

8. Objeções à ascensão de Jesus
A ascensão de Cristo ocorreu de forma aberta num monte. Foi um evento visível. Um dos anjos repentinamente presente na ascensão, disse aos discípulos: “Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (Atos 1.11). A ascensão de Cristo foi um evento histórico, tal como a encarnação, sua morte e sua ressurreição. Foi um ato que ocorreu no tempo e no espaço, ele não desapareceu repentinamente, mas foi elevado ao céu de forma visível diante de onze testemunhas, seus discípulos. A ascensão foi gradual, efetuada por seu próprio poder, foi uma ida majestosa para o céu.
Mesmo assim muitos não aceitam o fato. Teólogos da teologia liberal e luteranos neo-ortodoxos rejeitam o fato histórico. Eles não aceitam os milagres relatados na Bíblia e dizem que são mitos. Entres estes teólogos, os mais conhecidos são: Barth, Bultmann, Tillich, Kirkegard, Brunner e outros.
Os teólogos reformados, como Zinglio e Calvino, rejeitam a doutrina da comunhão das duas naturezas de Cristo, a divina e a humana numa só pessoa, de forma inseparável. A Bíblia, porém, é clara: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (João 1.14). “Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 2.9). Consequentemente, eles não aceitam a doutrina da humilhação e da exaltação de Cristo. “Cremos que a humilhação de Cristo consistiu em não ter ele usado sempre e inteiramente a majestade divina, comunicada à sua natureza humana (Cat. Menor, perg. 155). E sua “exaltação consistiu em que ele usa sempre e inteiramente a majestade divina comunicada à sua natureza humana” (Cat. Menor, perg. 165). Por isso julgam que Jesus, quanto à sua pessoa humana, está confinado num lugar no céu. Com sua igreja aqui na terra, ele está somente com sua natureza divina, como espírito. Isto faz de Cristo duas pessoas. Esta doutrina errada tem contribuído para desmerecer esta tão jubilosa festa no meio evangélico. Não nos deixemos enganar por tais argumentações falhas. A Escritura o coloca de forma incontestável. Jesus afirmou: “E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço” (Mateus 11.6). E: “Bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!” (Lucas 11.28).

9. O resultado da Ascensão para seus seguidores
1. Vitória - Como substituto de toda a humanidade, Jesus pagou o preço pelos pecados e venceu nossos inimigos, pecado, morte e Satanás. A ascensão de Cristo foi o tomar posso do seu reino. Ele disse: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18). O apóstolo Paulo afirma: “Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens” (Efésios 4.8). “Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo! Deus é a nossa salvação” (Salmos 68.19). “E, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Colossenses 2.15).
2. A Igreja - Esta vitória possibilitou a existência da igreja do Novo Testamento. Vitorioso, Jesus ordenou: “Ide fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19), e prometeu: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles” (Mt 18.20).
3. Dignidade - A ascensão de Jesus, como pessoa humana, dignifica o ser humano. Nosso irmão na carne está lá. O Espiritismo despreza a matéria, Cristo a dignifica. Jesus afirmou: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17.3). “Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos. (João 17.22). “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (João 17.24).
4. Lugar - O céu foi aberto para os discípulos de Cristo, os fiéis. Ele foi preparar lugar para seus seguidores. Ele mesmo disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (João 14.2,3). Por sua paixão e morte, Jesus nos preparou lugar. Agora está à direita do Pai e intercede pelos seus.
5. Novo propósito de vida - A ascensão de Cristo dá aos fiéis um novo propósito de vida. “Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mateus 6.21). Por isso recomenda o apóstolo Paulo: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus” (Colossenses 3.1).
6. O Espírito Santo e dons - Jesus prometeu e enviou o seu Espírito Santo conforme a profecia de Joel 3.1-4. Ele prometeu: “Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (João 16.7). Ele prometeu dons aos homens. “Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4.10-12). O que Jesus prometeu, ele cumpriu. O Espírito Santo foi enviado no dia de Pentecostes. Ele é nosso guia e Consolador. Ele concede dons aos homens e os torna aptos para todo o trabalho no reino de Deus. O Espírito Santo atua até agora.
7. Intercede - Jesus intercede pelos seus como sumo sacerdote. “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 João 2.1). “Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (Romanos 8.34).
8. Governa - Jesus governa poderosamente como rei. No reino do poder, governa com poder irresistível sobre todas as coisas a favor de sua igreja. No reino da graça, governa com graça sobre seus fiéis, perdoando abundante e diariamente os pecados a seus fiéis. Mas sua igreja, enquanto aqui na terra, ainda está em humilhação, em lutas e fraquezas, exposta a sofrimentos e perseguições (Hb 11). No reino da glória, coroa os fiéis com glória celestial por toda a eternidade. “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mateus 28.18). “Através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14:22). “O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (2 Timóteo 4.18).
9. A glória - Aguardamos o momento de entrar na glória. Já conhecemos esta glória pela palavra e a temos em fé. Em breve, quando Jesus nos chamar ou se tivermos o privilégio de ver sua volta em vida, passaremos do crer para o ver. Ele disse: “Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim. Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (João 17.22-24). Que palavras maravilhosas, consoladoras e cheias de esperança. Não é de se admirar que, ao lermos essas palavras, exclamamos como o apóstolo Paulo: “Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Filipenses 1.23).
10. Fiéis - Mas enquanto aguardamos a manifestação de sua glória, o passar do ver para o crer, queremos ser fiéis (Ap 2.10) na fé e abundantes em toda a obra do Senhor (1 Co 15.58), a fim de proclamarmos sua palavra, para a edificação da igreja, enquanto durar o tempo da graça.

Conclusão
A festa da ascensão de Cristo é a grande festa de júbilo pela vitória de Cristo e pelas bênçãos eternas que esta vitória nos traz.
Que a reflexão sobre a ascensão de nosso Senhor Jesus Cristo nos firme na fé. Nossa razão jamais compreenderá este grande mistério da união das duas naturezas, a divina e a humana, na pessoas de Cristo. Cumpre-nos, no entanto, louvar e adorá-lo pela magnífica obra da salvação. Jubilamos porque ele nos libertou da terrível escravidão do pecado, da morte e de Satanás. Jubilamos em esperança porque, mesmo andando aqui na terra ainda sob a cruz e em humilhação, expostos aos sofrimentos, às injustiças e muitas vezes a cruéis perseguições, não tememos. Sabemos que Jesus, nosso irmão na carne, nos libertou e em breve veremos a glória que ele tem preparado para os seus. O novo céu e a nova terra onde não haverá mais injustiça, nem dor, nem tristeza, só alegria sobre alegria, felicidade sobre felicidade e glória eterna (Ap 21.1-5).
Mas enquanto durar o tempo da graça, queremos proclamar o evangelho e fazer tudo para que o evangelho seja proclamado para a salvação de muitos. Queremos adorá-lo, confessá-lo, ofertar para formar pastores e missionários, enviar e amparar as missões, zelar para que haja literatura cristã. E orar por todos estes trabalhos.
Celebremos o seu nome como os anjos nos céus que clamam ininterruptamente em grande voz, dizendo: “Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação. Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono, os anciões e os quatro seres viventes, e ante o trono se prostraram sobre o seu rosto, e adoraram a Deus, dizendo: Amém! O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!” (Apocalipse 7.10-12).
Fonte: Estudo do Dr. R. Surburg
Porto Alegre, Ascensão, 2010
Horst Kuchenbecker

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Devoções Quaresmais



-1-
Consciências atribuladas


Deixai-vos reconciliar com Deus (2 Co 5.20).

As folias do tumultuoso carnaval abrandam, enquanto isso, muitas consciências começa a se tumultuar. Mais uma vez Satanás conseguiu triunfar em muitas vidas. Os jornais mostram o saldo do carnaval: lares desfeitos, suicídios, vidas arruinadas, etc.
Também nós cristãos não conseguimos evitar que a pecaminosidade do carnaval nos afetasse. Vimos pecado pelos meios de comunicação, jornais, revistas e a televisão, bem como na rua. Nossa carne se sentiu atraída e se regozijou. Exclamamos com o apóstolo Paulo: Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? (Romanos 7.24 RA) Onde buscaremos e encontraremos consolo?
Eis que Deus em sua grande misericórdia nos estende mais uma vez sua mão, dizendo: Deixai-vos reconciliar com Deus. (2 Co 5.20) Mais uma vez ele nos convida, dizendo: Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã (Isaías 1.18 RA).
Para que Deus pudesse nos convidar e oferecer o perdão, foi necessário que seu Filho unigênito Jesus Cristo se dispusesse a tomar sobre si os nossos pecados e ir ao Calvário. Esta sua obediência ao Pai e o carregar de nossos pecados até a morte de cruz, queremos contemplar bem de perto nestas meditações quaresmais, conforme o encontramos relatado nos quatro evangelhos. Nisto não queremos ser meros expectadores, que pasmam e se comovem diante da paixão e morte de Cristo, dizendo: Como os fariseus, os romanos e o povo puderam ser tão injustos e cruéis com Cristo. Queremos antes meditar sobre o por quê da paixão de Cristo. Este por quê, o próprio Jesus nos indica dizendo: (Tu) me deste trabalho com os teus pecados e me cansaste com as tuas iniqüidades (Isaías 43.24 RA). Isto vale para cada um de nós. Nós fizemos Jesus sofrer. Cada pecado em pensamentos, palavras e ações são as bofetadas, os açoites, os pregos que feriram Jesus. Por isso confessamos com o poeta sacro: Eu, eu e meu pecado havemos motivado a tua grande dor. (HL 94.4)
Queremos meditar também sobre o proveito desta tão profunda humilhação de Jesus. Tudo isso aconteceu para nós. Jesus foi o substituto de toda a humanidade, também o teu e o meu substituto. Ele trilhou o caminho que tu e eu deveríamos trilhar, mas não éramos capazes disso. Por isso Jesus perguntou: Podeis vós beber o cálice que eu estou para beber? Responderam-lhe: Podemos. (Mateus 20.22 RA) Eles julgaram, naquele momento que sim. Mas isto era impossível. Jesus concluiu a conversa com eles dizendo: O Filho do homem veio para servir.... e dar a sua vida em resgate por muitos (isto é, por todos). Ele cumpriu a lei em nosso lugar, carregou nossos pecados e os pagou pelo derramar do seu sangue. Venceu nossos inimigos pecado, morte e Satanás. Tudo isso para que pudéssemos voltar à comunhão com Deus, pela fé na graça de Cristo. Agora ele nos diz: Deixa-vos reconciliar com Deus (2 Co 5.20).
Vamos, pois, a ele. Humilhemo-nos em profundo arrependimento, suplicando-lhe perdão. Orando: Cria em mim, ó Deus, um puro coração e renova em mim espírito reto. Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação e sustém-me com um voluntário espírito (Sl 51.10). Amém.

-2-
Glorifica o teu Filho


Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti, assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer; e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo (João 17.1-5 RA).

Era na noite de quinta-feira santa (em doenças). Jesus havia acabado de instituir a Santa Ceia e começou a orar em voz alta. Ele disse: Pai, é chegada a hora; glorifica o teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti. Era chegada a hora marcada, cuidadosamente preparada pelo Pai desde a eternidade, como o aposto Paulo o atesta: (Ele) nos escolheu nele antes da fundação do mundo (Efésios 1.4 RA). A hora, que fora anunciada em todas suas minúcias por muitos profetas, durante quatro mil anos. A hora tão ansiosamente esperada por tantos fiéis, por reis e profetas (Lc 10.24). Chegara a hora do sofrimento, da paixão e da morte de Jesus. A hora em que a serpente feriria o descendente da mulher (Gn 3.15), pensando, em sua ilusão, que venceria. Este atrevimento trouxe a derrota a Satanás. Jesus lhe esmagou a cabeça, libertando desta forma os que andavam pelo vale da sombra da morte. (Sl 23.3) Jesus veio para destruir as obras do diabo (1 Jo 3.8). A hora da luta final chegara. Jesus se prepara com oração para este momento. Orou ao Pai: Glorifica o teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti. Mas que glória é esta? Vejamos exemplos. A glória de um atleta são suas lutas e vitórias. A glória de um carpinteiro é sua obra, uma mesa, um armário, etc. A glória de Jesus é seu sofrimento, sua morte, sua ressurreição, sua obra salvífica, a salvação da humanidade. Sim, Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).
O mundo, desde a queda de Adão e Eva, está deitado em pecado, escravizado por Satanás, condenado à eterna condenação. Por mais que se elogie a sabedoria e honra do ser humano, ele está perdido. Ninguém o pode salvar. A justiça de Deus é fulminante: A alma que pecar, essa morrerá (Ezequiel 18.20 RA). Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las (Gálatas 3.10 RA). Deus, por ser um Deus justo, não pode voltar atrás. Anjos não podem ajudar. O homem não pode se ajudar a si mesmo, ele está eternamente perdido. Mas eis que o Filho de Deus se prontificou a sofrer pela humanidade e libertá-la. Por seu sofrimento nos libertou. Possibilitou a volta do pecador a Deus. O restabelecimento da comunhão com Deus, pela fé na graça de Cristo.
É isto o que agora mais apreciamos, louvamos e glorificamos em Deus, sua obra salvífica por Cristo. Que Deus nos amou e salvou por seu Filho unigênito, Jesus Cristo. Esta é a glória de Jesus: sua obra salvífica. Todos os feitos de Deus, a criação, a manutenção, os milagres são gloriosos, mas nenhuma obra divina é tão gloriosa e glorifica e o Pai e o Filho como este feito da salvação da humanidade, a salvação pela cruz.
Esta glória o mundo não vê. Os fariseus, Pilatos, Herodes não a viram, apesar de terem Cristo diante de seus olhos. Até os discípulos ficaram perturbados diante da humilhação de Cristo. Somente no dia de Pentecostes, quando o Espírito encheu seus corações e os iluminou, compreenderam as Escrituras e a magnitude da obra de Cristo. Ainda hoje muitíssimos não vêem a glória de Cristo. O malfeitor na cruz, no entanto, viu a glória de Cristo. Em adoração suplicou: Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino. (Lc 23.42 RA) Ele viu, mesmo no momento da maior humilhação, que este a seu lado, era seu Salvador, no qual encontrou perdão, vida e eterna salvação. Isto não lhe foi revelado por carne e sangue, por sua inteligência, seu raciocínio, mas o Espírito Santo o lembrou do que aprendera na infância, comparando isto com o que ouviu de Jesus e viu nele, o Espírito Santo o conduziu ao arrependimento e a fé na graça de Cristo.
É chegada a hora, glorifica o teu Filho. Os discípulos confessaram mais tarde: Vimos a sua glória, glória como a do unigênito do Pai (Jo 1.14). E Jesus lhes havia dito: E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste (João 17.3 RA).
Diz Jesus, Senhor bondoso: / Minha glória abandonei / por amor ao Pai gracioso; / ao desprezo me entreguei / para serdes redimidos / de pecado e maldição; / trouxe, pois, a vós perdidos / sempiterna salvação. (HL 86.1)

-3-
Todos vós vos escandalizareis


E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras. Então, Jesus lhes disse: Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas. Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galiléia. Disse-lhe Pedro: Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim. Replicou-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. Disse-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo (Mateus 26.30-35 RA).

Tendo cantado um hino, saíram. Com este hino Jesus encerrou a cerimônia do comer o cordeiro pascal, conforme a lei de Moisés. Neste momento também havia instituiu o jantar do Novo Testamento, a Santa Ceia. Então orou fervorosamente por seus discípulos, conforme o lemos na oração sumo-sacerdotal, no evangelho de João capítulo 17. Os hinos cantados nesta ocasião eram, provavelmente, os Salmos 115 a 118. Leia-os com atenção. Então saíram. Era noite. Noite iluminada pela lua cheia.
Jesus dirigiu-se com seus discípulos, como de costume, para o Monte das Oliveiras. Lugar onde, já durante toda a semana, orou antes de seguir para a casa de Lázaro, onde pousavam.
Caminharam pensativos. Jesus estava preocupado com seus discípulos, que ainda nada compreenderam do que estava por acontecer. Será também essa nossa principal preocupação nestes dias da quaresma: a salvação da humanidade?
Jesus lhes disse: Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas (Zc 13.7). Uma severa advertência. Os discípulos estavam há três anos em companhia de Jesus, mesmo assim, iriam fraquejar. Seria possível? O mestre o disse. Sabiam que apalavra do Mestre não falha. Mesmo assim, não a aceitam.
O que fazem os discípulos? Fazem o que nós muitas vezes também fazemos. Revidaram a advertência. Os que há pouco se assustaram com a palavra de Jesus: Um de vós me trairá, cônscios de suas fraquezas, perguntando: Mestre ou eu? Agora não aceitam a advertência. Pedro olha para seus colegas e conclui: Estes são fracos, deles de fato nada se pode esperar, e diz a Jesus: Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim. Pobre Pedro! Jesus olhou para ele e lhe disse sob juramento: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. Em sua autoconfiança Pedro respondeu resoluto: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo (Mateus 26.32-35 RA). E o disseram na sinceridade do seu coração, pois amavam o Salvador. Pobres discípulos.
Como é necessário vigiar, para que nosso próprio coração não nos engane. Pensamentos e sentimentos são preza fácil de nossa natureza carnal, de onde procede autoconfiança egoísta e a não aceitação da palavra de Deus, quer seja advertência ou consolo. Precisamos estar atentos à palavra de Deus escrita e pedir ao Espírito Santo que nos guie.
Satanás por sua astúcia conseguiu enganar os discípulos. Firmaram-se em seus próprios pensamentos e suas próprias forças. A queda era inevitável. Por vezes o entusiasmo nos afasta de Jesus, outras vezes é o desânimo. Importa sempre examinar a razão de nosso proceder. Jesus orou por eles ao Pai, para que não permitisse que Satanás tivesse domínio sobre eles. Nesta oração também nós estamos incluídos.
Devo agradecer-te tanto, ó Jesus, tamanha dor; / chagas, agonia, pranto, / penas e mortal horror. / Vivo e morro consolado / por teu sangue perdoado: / Grato sou por tanto amor, / meu bendito Redentor. (HL 93.5)

-4-
Satanás te reclamou

Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos (Lucas 22.31-32 RA).

Jesus advertiu os discípulos, dizendo lhes que nesta noite todos eles se escandalizariam nele. Pedro retrucou que nunca faria isto. Com amor e firmeza, Jesus passou a mostrar-lhes o poder da tentação. Satanás vos reclamou.
Quem é Satanás? Ele é um inimigo poderoso. A antiga serpente, a quem pertencemos por nascimento. Seu reino é vasto. No carnaval que passou, vimos seu tremendo poder. Milhares de pessoas lhe pertencem. São seus escravos. Retorcem-se quais vermes no fogo, mas não têm poder para se libertarem dele. O apóstolo afirma: Éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais (Efésios 2.3 RA). Cristo, o Senhor mais forte, veio para destruir as obras do diabo (1 Jo 3.8) e libertar a humanidade do poder e da escravidão de Satanás. E todo daquele que arrependido de seus pecados confia na graça de Cristo é perdoado, liberto da escravidão de Satanás e volta à comunhão com Deus. Mas o fato de ser, agora, filho de Deus pela fé, não significa que não será mais agredido e tentado por Satanás. Pelo contrário, Satanás dobra sua astúcia em relação aos filhos de Deus, para reconquistá-los. Assim ele tentou a Jesus, que teve que lhe dizer: Arreda Satanás (Mt 16.23). Conseguiu dominar Judas, agora quer especialmente a Pedro e aos demais apóstolos. Jesus adverte a Pedro, mas este, cegado por sua nefasta autoconfiança, mesmo advertido por Jesus, não reconhece o perigo. Eis as características do orgulho: Confiamos em nossas próprias forças, rejeitamos a admoestação de Jesus, menos prezamos o próximo, e então segue a queda. Cada dia este quadro se repete com muitos cristãos.
Como Jesus deve ter ficado triste ao ver como Pedro e os demais discípulos rejeitavam sua admoestação, quando deveriam ter suplicado: Senhor! ora por nós, não nos deixes cair. Fortalece-nos. Não permitas que Satanás nos prostre ao chão. Mesmo sem ser pedido, Jesus orou por eles. Especialmente por Pedro: Roguei por ti, para que tua fé não desfalecesse. Jesus, o bom pastor, ora também por nós. E quando nós nos desviamos, ele nos procura também como procurou a ovelha perdida. Jesus disse ainda a Pedro: Quando te converteres, fortalece os irmãos. Basta ler as cartas pastorais de Pedro, e ver como Pedro consola os irmãos. Ele escreve em sua carta: Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar (1 Pedro 5.7-8 RA).
Vem salvar-me nesta lida / de pecados e temor. / Vem, Senhor da minha vida, meu Jesus, meu Redentor. ( HL 427.4).

-5-
Vigiai comigo

Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo. (Mateus 26.38 RA)

Era noite quando saíram da cidade de Jerusalém. Fora da cidade estavam as muitas tendas dos visitantes que vieram para a grande festa da Páscoa. Jesus atravessou o riacho Cedron, que significa turvo. Nele desembocava o esgoto do templo. O riacho separava Jerusalém do monte das Oliveiras. Entraram no jardim do Getsêmani. Logo na entrada, Jesus deixou oito dos seus discípulos. A eles não foi dado ver a profunda humilhação de Jesus. Ele levou consigo somente a Pedro, João e Tiago, os que haviam presenciado a transfiguração. Com estes três, Jesus continuou caminhando para o interior do Jardim. De repente os discípulos notaram que Jesus suspirava. Apreensivos olharam para ele. E receberam de Jesus a surpreendente resposta: A minha alma está profundamente triste até à morte.
Aquele que é a fonte da vida e de toda a alegria está triste. Jesus que consolou a muitos está desconsolado. Por quê? Os discípulos estão desnorteados. Nossa razão também não o compreende. A Escritura afirma: Aquele que não conheceu pecado, ele (Deus Pai) o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus (2 Coríntios 5.21 RA). O profeta Isaías afirmou: Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido (Isaías 53.4 RA). Ele tomou sobre si os pecados de toda a humanidade. Os pecados pelos quais eram sacrificados os cordeiros no tempo, até que viesse o Cordeiro de Deus para tirar o pecado do mundo (Jo 1.29). Jesus, como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, tomou os pecados da humanidade voluntariamente sobre si. Sentiu estes pecados em sua alma santa como se fossem seus próprios.
Sabemos quanto sofrimento, quanta dor de consciência causa o pecado. De início o pecado parece proporcionar alegria, mas uma vez provado, é amargo. A consciência desperta, acusa e leva ao desespero. Conta-se que o filósofo francês Voltair passou a vida zombando de Cristo. No leito da morte sua consciência despertou. Ele desesperou. Sentiu os horrores do inferno. Gritou tão desesperadamente que seu enfermeiro particular não o suportou e fugiu da casa dele. O historiador judaico Josefo conta que o rei Aristóbulo da palestina, que mandou matar injustamente seu próprio irmão, dias depois, quando sua consciência despertou, passou a acusá-lo com tanta força que veio a falecer sob o peso do desespero. Sem dúvida você também conhece, em parte ou muito, o que significa o despertar da consciência.
Tal angústia Jesus sofreu ao tomar sobre si os pecados da humanidade. Pelo salmista Jesus diz: Não têm conta os males que me cercam; as minhas iniqüidades me alcançaram, tantas, que me impedem a vista; são mais numerosas que os cabelos de minha cabeça, e o coração me desfalece (Salmos 40.12 RA). A compreensão desta profunda humilhação de Jesus nossa mente corrupta não é capaz de captar no seu todo.
Só podemos contemplar em profunda adoração esta verdade: Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus – exclamar em oração: “Grato sou por tanto amor, meu bendito Salvador”. E quando nossa consciência nos acusar, podemos refugiar-nos em Cristo. Nele temos perdão dos pecados, vida e eterna salvação. Jubilosos triunfamos com o apóstolo Paulo: Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica (Romanos 8.33 RA).
Tu grande e divinal amor / desejo aqui cantar; / nos céus, porém, Senhor melhor / espero te louvar. (HL 84.4)

-6-
Passa de mim este cálice

Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua. Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra (Lucas 22.42-44 RA).

Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo, (Hb 10.31) afirma o escritor de Hebreus. Basta acompanhar Jesus passo a passo em sua paixão para ver o quanto isso é verdade.
Jesus está sozinho. Nesta obra da redenção da humanidade, ninguém pôde lhe ajudar. Ele mesmo afirma pelo profeta: O lagar, eu o pisei sozinho (Isaías 63.3 RA). Com o rosto prostrado em terra, Jesus orou a seu Pai: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua. Se possível, mas não era possível. Este era o único caminho para salvar a humanidade. Jesus era o único que poderia levar ao fim este duro empreendimento do amor divino. Pai se possível passa de mim este cálice. Mas o Pai, em profundo amor para com a humanidade, para contigo e comigo, não passou o cálice. Jesus orou três vezes. Sua agonia aumentou a ponto de suor gotas de sangue. Se há pouco estava triste até a morte por ter sido feito pecado por nós, agora está em agonia por a ira de Deus estar sendo derramado sobre ele, nosso irmão na carne, por causa de nossos pecados. Agora estava sentindo o abandono de Deus, as agonias da morte, os horrores infernais. Tudo isto arde em sua alma santa, a ponto de suar sangue. São nossos pecados que o fazem penar assim. Quão horrível é o pecado. Quão grande a ira de Deus sobre o pecado. Eis ali o nosso substituto. Sofre! Sofre por ti e por mim. Seu sofrimento foi tão grande que foi necessário vir um anjo do céu, para o animar e fortalecer. O que teria acontecido a Jesus para que uma criatura viesse consolar o Criador? A Escritura não nos revela os detalhes. Provavelmente o sofrimento de Jesus foi tão grande, sua humilhação tão profunda que em sua natureza humana perdeu de vista o por quê desse seu sofrer. Foi necessário vir um anjo para o consolar. Para lhe mostrar a razão do seu sofrer que é a salvação da humanidade. Após esta luta com a morte, na qual experimentou o profundo abandono de Deus e os terrores infernais, Jesus se levantou e foi a seus discípulos.
Os apóstolo não se cansam de falar sobre o sofrimento de Jesus. Paulo escreveu: Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? (Romanos 8.32 RA) O apóstolo Pedro declarou: Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo (1 Pedro 1.18-19 RA). Tudo isso Jesus suportou para que todo aquele que nele crê não precisa temer mais a morte. Nesta fé, Estevão ao ser apedrejado exclamou: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus (Atos 7.6 RA). E o apóstolo Paulo afirma: Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro (Filipenses 1.21 RA).
A história nos mostra muitas pessoas que enfrentaram a morte corajosamente. Mas enfrentar a morte considerando-a lucro, enfrentá-la com confiança e esperança só aquele que está em Cristo.
Tememos a morte por causa do pecado, porque não fomos criados para a morte e sim para a vida. A morte é castigo sobre o pecado, é uma intromissão em nossa vida. Mas Jesus venceu a morte, e nos diz: Não temais: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente (João 11.25-26 RA). E ao malfeitor na cruz, Jesus disse: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso (Lucas 23.43 RA).
Diante disso cantamos com o poeta sacro: Consola-me na morte, / lembrando a tua dor; / és meu escudo forte, / glorioso Vencedor. / Estando a contemplar-te, / confiante vou dizer, / feliz, ao abraçar-te: / Assim é bem morrer. (HL 88.8)



-7-
Vigiai e orai

Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca (Mateus 26.41 RA).

A agonia do mestre é grande. Grande também sua preocupação com seus discípulos. Jesus interrompe seu momento de oração e volta aos discípulos. Talvez buscasse neles um pouco de amparo, mas ele os encontrou dormindo. Envolvidos pela tristeza e pela não compreensão do que estava acontecendo, dormiram. A tristeza enche muitas vezes a alma de sono. Como somos iguais aos discípulos. Jesus os adverte: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. O espírito é o “novo homem”, a nova vida, a fé, criado pelo Espírito Santo. Conforme esta fé, estamos dispostos a abandonar a própria vida para seguir a Cristo. Mas ainda estamos na carne. Temos nossa natureza carnal, nosso “velho homem”, que sempre de novo nos puxam de volta ao pecado, para amarmos o mundo e as coisas que há no mundo, e dessa fonte procedem os maus pensamentos, o medo, o pavor (Mt 15.19). Assim existe dentro dos cristãos uma luta constante entre a nova vida e a natureza carnal, ou como costumamos dizer: entre o novo e o velho homem. Daí a advertência: Vigiai e orai. Devemos examinar nossos pensamentos e desejos à luz da palavra de Deus e combater as investidas de Satanás. Orai! Buscai forças, pela oração, junto a Deus. Ele tem todo o poder e ordenou: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á (Lucas 11.9 RA).
O que fazem os discípulos nesta hora tão difícil e perigosa? Eles dormem. Vencidos pela tristeza, dormem. Um quadro da Igreja? Um quadro de nossa própria vida? Diante de dificuldades desanimamos e nos tornamos sonolentos, quando deveríamos vigiar e orar. O que fazem os inimigos? Eles não têm sono. Eles trabalham, correm, planejam e lutam. Judas não teve sono. Parece que no caminho do mal não se sofre desânimo. Vede quantos sacrifícios, quantas lutas os inimigos realizam. Lembramos quantos sacrifícios, por exemplo, em tempo, esforços e dinheiro os homens de mundo levantam em prol do carnaval? Será que os membros da igreja estariam dispostos a fazer também tão grandes sacrifícios em prol da causa de Cristo? O que fazem os membros da igreja durante estes dias tão perigosos do carnaval, em que muitos cristãos jovens são tentados e caem nas garras de Satanás? Vigiai e orai!
Oramos com o poeta sacro:
Alma espera em prontidão; / ora, sempre alerta, / Superando a provação / Quando mais aperta. / Pois Satã, com afã / Sobrevém ao crente, / Enganosamente. (HL 441.1)

-8-
A quem buscais?

Tendo, pois, Judas recebido a escolta e, dos principais sacerdotes e dos fariseus, alguns guardas, chegou a este lugar com lanternas, tochas e armas. Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Então, Jesus lhes disse: Sou eu. Ora, Judas, o traidor, estava também com eles. Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra (João 18.3-6 RA).

A humilhação de Jesus começou com sua concepção na virgem Maria. O santo Filho de Deus aceitou ser concebido e nascer da virgem da Maria que, mesmo sendo muito temente a Deus, era de natureza pecadora como todos nós. Que humilhação para o santo, unigênito Filho de Deus, duma criatura corrompida pelo pecado, como todos nós. Esta humilhação aumentou gradativamente até sua morte na cruz e sepultamento. Ele se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana (Filipenses 2.7 RA). Agora, sabendo tudo o que lhe iria acontecer, levantou-se do seu lugar de oração e se entregou voluntariamente às mãos de seus inimigos. Para isso disse a seus discípulos: Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima (Mateus 26.46 RA).
Jesus se dirigiu à entrada do jardim, onde estavam os outros discípulos, para protegê-los e para enfrentar seus inimigos. Os dois grupos se encontram. O pequeno grupo com Jesus à frente; e o grupo maior com Judas à frente. O nome Judas significa: objeto de louvor. Para isso Deus o havia criado, bem como toda a humanidade. Para isso Jesus tinha escolhido Judas para ser apóstolo. Mas eis que Satanás reduziu a humanidade e também a Judas a um objeto de horror. Atrás de Judas uma grande turba (Mt 26.47), parte dos principais sacerdotes, dos anciãos do povo, guardas do templo e um capitão com alguns soldados. Na ponta desta turba estava Judas. E todos eles dirigidos por Satanás.
O quadro não se alterou em nossos dias. A igreja é um grupo pequeno, indefeso. Mas Jesus lhes diz: Não temais, ó pequenino rebanho (Lc 12.32). O grupo dos inimigos de Cristo é grande, mesmo assim, temem a igreja e a combate com violência.
Jesus vai ao encontro deles. Se o primeiro Adão, quando Deus o chamou se escondeu, o segundo Adão, Jesus, voluntariamente se apresenta para a luta e o sofrimento. Jesus perguntou: A quem buscais?Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. A resposta visava humilhar Jesus e ao mesmo tempo acalmar suas próprias consciências, dizendo para si mesmos: Jesus é somente um homem, o homem de Nazaré, nada mais. Jesus respondeu: Sou eu. Quando Jesus lhes disse: Sou eu! Recuaram apavorados e caíram para trás. Não esperavam encontrar Jesus de maneira tão fácil e que ele se apresentasse voluntariamente. Por outro, foi mais uma demonstração do poder de Jesus. Mas Jesus ainda não os derrubou em definitivo. Era somente um séria advertência. Jesus ainda não veio para julgar, mas para salvar (Jo 3.17), para tanto lhes revelou um pouco de seu poder, para induzi-los ao arrependimento. Por isso permitiu que se levantassem novamente. Mas chegará a hora em que os inimigos de Cristo cairão para não mais se levantarem, para serem julgados e condenados ao fogo eterno. Isto será no dia do juízo final.
A quem buscais? O que nós estamos buscando? Buscamos sinceramente a Cristo ou as coisas do mundo. A quem buscais? Nós queremos responder esta pergunta em humilde arrependimento e apego a Cristo: Buscamos a Jesus, o Nazareno!
Se Cristo, o Senhor, / como nunca ninguém / nos deu tanto amor, / vamos todos também / com fé o adorar / e o amor sem Cesar. (HL 269.4)

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Amigo, para que vieste?


Ora, o traidor lhes tinha dado este sinal: Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-o. E logo, aproximando-se de Jesus, lhe disse: Salve, Mestre! E o beijou. Jesus, porém, lhe disse: Amigo, para que vieste? Nisto, aproximando-se eles, deitaram as mãos em Jesus e o prenderam. (Mateus 26.48-50 RA)

A traição de Judas é amplamente descrito no Antigo e no Novo Testamento, para advertência a todos nós.
Judas foi um verdadeiro apóstolo. Ele foi enviado a pregar o Evangelho e expulsou demônios (Mt 10.5). Sem dúvida confessou com o apóstolo Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mateus 16.16 RA). Mesmo assim, Satanás conseguiu desviá-lo da fé. Judas teve antecedentes. Profetas e pessoas que fizeram proezas em nome de Deus, que tiveram o dom do Espírito Santo, caíram. Lembramos o rei Saul. A culpa de tais quedas não é de Deus, mas das próprias pessoas que caíram.
Como foi possível a Satanás prostrar Judas em tão grave pecado, desviá-lo da fé e levá-lo à eterna condenação? O que Satanás fez com muitos outros e ainda hoje o faz com muitos cristãos. É preciso lembrar que temos nossa natureza carnal, corrupta pelo pecado, que não muda. Este velho homem em nós, por contrição e arrependimento diários, deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos, e, por sua vez, sair e ressurgir diariamente novo homem que viva em justiça e pureza diante de Deus eternamente. (Catecismo Menor) Quem se descuidar nessa luta e não se examinar diariamente à luz da palavra de Deus, e em arrependimento e fé buscar perdão e forças de Jesus, perecerá. Deus não abandona ninguém, a não ser quando a pessoa insistentemente resiste ao Espírito de Deus.
Com grande amor Jesus buscou a Judas. As muitas admoestações durante os três anos de discipulado. Quantas vezes Jesus advertiu contra a avareza e o amor ao mundo. As advertências especiais aos discípulos e a Judas na quinta-feira santa à noite. Tudo em vão. Mesmo assim, Jesus lhe revela amor a Judas ainda no Jardim Getsêmani: Amigo, para que vieste? Mesmo sabendo Jesus o que Judas estava fazendo, não o acusa antes da consumação do pecado, mas o convida à reflexão. Judas pensa no que você vai fazer. Mas Judas não deu importância, abraçou hipocritamente a Jesus, para lhe dar o beijo da traição. Então Jesus lhe disse claramente: Judas, com um beijo trais o Filho do homem?(Lc 22.48 RA) Judas recuou. Seu trabalho estava concluído. Ele traiu Jesus por 30 moedas de prata.
O que se passou na cabeça de Judas ao trair a Jesus? A Escritura não o revela. Conhecemos, no entanto, o procedimento de Satanás. Ele apresenta o pecado como algo vantajoso e bom. Talvez Judas tivesse pensado o seguinte: Jesus é o Filho de Deus. Eles não conseguirão prendê-lo. Já tentaram várias vezes prendê-lo, e ele sempre se livrou. Talvez isso apresse, como todos pensavam, a manifestação do reino de Deus (At 1.6). Eu terei o dinheiro e Jesus me perdoará. Não é assim que o diabo tenta ainda hoje muitos para o pecado?
Que coisa triste. Satanás arrancou a Judas das mãos de Jesus, para precipitá-lo na eterna condenação. Sirva-nos isso de advertência: Com o pecado não se brinca. Satanás, como uma aranha astuta, com sua teia maldosa, prende e enrola a pessoa com pecados cada vez mais graves, até sufocar-lhes a fé. Daí as diversas admoestações da Escritura: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação (Mc 14.38). Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor (Fp 2.12). Isto pelo apegar-se a palavra e sacramento, pelos quais Deus Espírito Santo nos fortalece para que possamos lutar, resistir e servir.
De ti, Senhor, careço, / sou pobre pecador. / Sem ti vaguei, perdido / Jesus, meu salvador. / Na tua excelsa graça / encontro paz, perdão; / da maldição eterna., / completa redenção. (HL 346.1)

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A Jesus, o Nazareno

Jesus, de novo, lhes perguntou: A quem buscais? Responderam: A Jesus, o Nazareno. Então, lhes disse Jesus: Já vos declarei que sou eu; se é a mim, pois, que buscais, deixai ir estes (João 18.7-8 RA).

Era chegada a hora do poder das trevas. Muitas vezes os fariseus haviam planejado e tentaram matar a Jesus, mas em vão. Agora, porém, o conseguiram. Os dois grupos se encontraram frente a frente. Jesus e seus discípulos e Judas, com os fariseus, anciãos, guardas e soldados. Os filhos de Deus, tendo à frente o próprio Filho de Deus, um grupo pequeno, e os filhos das trevas, tendo à frente, Judas, mas atrás de todos, o próprio
senhor das trevas, Satanás. Assim ainda hoje se apresenta o quadro: um grupo pequeno, o de Jesus, um grupo grande o de Satanás.
Jesus foi ao encontro deles sabedor de tudo o que iria acontecer. Revelou-lhes seu poder, fazendo-os cair por terra. Revelou-lhes seu amor, na admoestação a Judas, na admoestação a Pedro, na interrogação ao grupo todo, e na cura do servo Malco. Porém seus corações estavam endurecidos, pelo terrível poder das trevas. Antes de se entregar a eles, voluntariamente, Jesus lhes dirige mais uma vez a pergunta: A quem buscais? – O capitão deveria responder com clareza o que queria. E ele respondeu: A Jesus o Nazarenos. Ao que Jesus respondeu: Se é a mim, pois, que buscais, deixai ir estes. Jesus conhece o poder das trevas. Sabe que o diabo gostaria não só a ele, mas desgraçar toda a igreja.
Eis um resumo de toda a história da paixão. Jesus é nosso substituto. Está ali em teu e meu lugar. Nós éramos buscados pelos poderes infernais, pela ira de Deus, pelo tribunal eclesiástico e pelo tribunal civil. Sim, éramos filhos da ira como também os demais (Ef 2.3), escreveu o apóstolo Paulo. Eis que Jesus se entrega a eles por todos nós. Aqui me tendes. Ele disse a Deus Pai, pune-me a mim. O profeta Isaías escreveu:
Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53.5 RA). Eis aqui o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele nos comprou com o seu sangue, afim de que nem a lei, nem a maldição, nem o diabo, nem o inferno nos pudessem fazer Mal. Pois as palavras: Deixai ir estes se coloca entre nós e nossos inimigos.
Se é a mim, pois, que buscais, deixai ir estes. Isto é uma ordem. A ordem do Filho de Deus. Ele conhece a intenção do poder das trevas. Engolir a todos. Mas para isso ele estava se entregando, para que a ordem: Deixai ir estes! entrasse em poder.
Quem são estes? São todos os que confiam em Jesus. São todos os que cansados e sobrecarregados buscam refúgio em Cristo. São todos os que dizem a Jesus: Senhor, tem compaixão de mim, pobre pecador. Aqueles que arrependidos e confiantes na graça de Cristo clamam: Não me lances fora de tua presença. Pois, e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro (1 João 2.2 RA). Bem-aventurados todos os que confiam na graça de Cristo.
Na verdade, Satanás gostaria de arrebatar todos nós das mãos de Cristo e tenta fazê-lo constantemente. Quantas perseguições a igreja já sofreu? Quantas doutrinas falsas. Quantos problemas. Mas em toda a parte ainda soam as palavras protetoras: Deixai ir estes. São palavras que protegem a Igreja Cristã até ao fim dos séculos. E as portas do inferno (Mt 16.18) não prevalecerão contra ela. Pois eu lhe serei, diz o SENHOR, um muro de fogo em redor e eu mesmo serei, no meio dela, a sua glória (Zacarias 2.5 RA). A todos os cristãos Jesus afirma: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu (Isaías 43.1 RA). Mas aquele que, como Judas, rejeitar a misericórdia de Deus, será condenado.
Ainda hoje Jesus estende suas mãos pela pregação da palavra e chama a si, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).
Certeza plena tu me dás / de que jamais nos deixarás. / Tu és o guia que conduz / pela aflição à eterna luz. (HL 77.4)

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Deixai, basta.

Então, Simão Pedro puxou da espada que trazia e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita; e o nome do servo era Malco. Mas Jesus disse a Pedro: Mete a espada na bainha; não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu? (João 18.10-11 RA)
Mas Jesus acudiu, dizendo: Deixai, basta. E, tocando-lhe a orelha, o curou (Lucas 22.50,51 RA).


Quando Jesus disse: Sou eu! Os inimigos caírem por terra. Isso parece ter encorajado a Pedro. Jesus deixou que se levantassem novamente. Ainda não era hora do julgamento. Jesus deu-lhes a ordem: Se é a mim que buscais, deixai ir estes. Então os soldados avançaram para prendê-lo. Os discípulos se entreolharam e perguntaram a Jesus: Senhor, feriremos à espada? Pedro como sempre, não esperou a resposta e passou a ação. Em fervente entusiasmo por Jesus, puxou da espada e feriu um dos servos do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Imediatamente Jesus intervém e diz a Pedro: Embainha a tua espada, pois quem com a espada fere, com a espada será ferido. O que estava errado? Pedro agiu por amor a Jesus. Mas ele não havia esperado a resposta de Jesus. Esquecera-se de quem era filho, daquele que dissera: Amai os vossos inimigos (Mc 5.44). Não tornei a ninguém mal por mal (Rm 12.17). Esqueceu-se de que Jesus tinha dito que tudo isso deveria acontecer para que se cumprisse a Escritura. Esqueceu-se de que Jesus tinha dito: Acaso pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpriram as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder (Mt 26.63).
Quantas vezes cristãos agem como Pedro? Num zelo e entusiasmo carnal avançam sem ordem nem promessa de Deus. Temos hoje muitos que tomam uma e outra palavra de Deus, para fora do seu contexto e do todo da Bíblia e julgam poderem dar ordens a Deus para curar, para empreendimentos grandiosos que fracassam e levam muitos ao desespero.
O apóstolo Pedro, repreendido por Jesus, ter embainhado sua espada, Jesus se inclinou para a terra, juntou a orelha decepada e curou o servo, cujo nome era Malco. Este foi o último milagre de Jesus antes de sua morte. Os inimigos e contemplaram admirados. Jesus lhes disse: Saístes com espadas e porretes como para deter um salteador? Diariamente, estando eu convosco no templo, não pusestes as mãos sobre mim. Esta, porém, é a vossa hora e o poder das trevas. Palavras opostas: Salteador e templo. Não, não, Jesus não era um salteador. Ele ensinou publicamente durante três anos em toda a Palestina, revelando seu amor às pessoas. Mas, agora é tratado como salteador. Quanta incompreensão, cegueira e ingratidão. Esta ingratidão Jesus colhe diariamente, ainda hoje, não só dos inimigos, mas, infelizmente, também de todos nós, de sua igreja.
Parece incrível. Os principais sacerdotes, os anciãos do povo, que são os representantes de Deus, que lidavam com a Bíblia, diariamente, estão sob o poder das trevas, a serviço das trevas. Eles, que deveriam estar a serviço da luz e se orgulhavam dizendo: Somos filhos de Abraão (Lc 3.8). Que cegueira. Eles que deveriam receber Jesus de braços abertos, estão prendendo e condenando o Filho de Deus à morte. Terrível.
Em sua presciência, Deus previu tudo. Tudo foi escrito para advertência, para que ninguém pudesse se desculpar, dizendo: Eu não sabia. Os fariseus o sabiam. Por isso temia a Jesus. Por isso, as espadas, cacetes, tochas. É o poder das trevas.
Jesus lhes estende voluntariamente as mãos. E eles não receiam em amarrá-lo. Amarar as mãos que há pouco ainda curaram milagrosamente a orelha decepada. Eles não querem o Salvador. Bem afirma o Salmo: Os reis da terra se levantaram, e os príncipes conspiram contra o Senhor e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas (Sl 2.2). Voluntariamente Jesus estende suas mãos e se entrega para ser amarrado, a fim de nos libertar desses laços das trevas. E ele os rompeu todos. Nós podemos jubilar e dizer: SENHOR, deveras sou teu servo, teu servo, filho da tua serva; quebraste as minhas cadeias. Oferecer-te-ei sacrifícios de ações de graças e invocarei o nome do SENHOR (Salmos 116.16,17 RA).
Quanta injúria suportaste / para a todos nós salvar! / As cadeias que quebraste / de Satã me vem livrar; / teus tormentos e amarguras / me libertam de torturas. / Oh! Não seja em vão Senhor, / teu martírio expiador. (HL 81.2)


-12-
O sumo sacerdote interroga a Jesus

Então, o sumo sacerdote interrogou a Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. Declarou-lhe Jesus: Eu tenho falado francamente ao mundo; ensinei continuamente tanto nas sinagogas como no templo, onde todos os judeus se reúnem, e nada disse em oculto. Por que me interrogas? Pergunta aos que ouviram o que lhes falei; bem sabem eles o que eu disse (João 18.19-21 RA).

A alegria entre os fariseus foi grande. Parece que eles próprios não estavam acreditando terem Jesus manietado em seu palácio. De fato, depois de tantas tentativas malogradas, especialmente, daquela uma, na qual queriam apedrejá-lo, mas Jesus tornou-se invisível e passou no meio deles (Jo 8.59). Agora estava preso no palácio. Às pressas convocaram o sinédrio, constituído de 72 pessoas dos mais sábios e venerados em Jerusalém. Quanto alvoroço nessa hora da noite. Eles queriam resolver tudo durante a noite até a madrugada, a fim de não alvoroçar o povo. Mas Deus tinha outros planos.
Enquanto o Sinédrio era reunido, Jesus foi levado e entregue a Anás, que havia ocupado o cargo de sumo sacerdote antes de Caifás, agora estava aposentado. Anás deveria interrogar a Jesus para ver se pudesse encontrar um motivo para o condenarem. Anás interrogou a Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. Se pudessem acusá-lo de doutrina falsa, teriam um motivo justo para o matar. Pois falsos profetas deveriam ser punidos com a morte. Interrogou-o acerca de seus discípulos, para poderem acusá-lo diante dos romanos de rebelião, a fim de ser também por eles condenado à morte.
Jesus respondeu: Eu tenho falado francamente ao mundo. Ensinei continuamente no templo e nas sinagogas e nas ruas. Eu nada disse em oculto. Pergunta aos que me ouviram. Eles sabem o que eu disse. Por que me interrogas? Os fariseus e também Anás conheciam muito bem o ensino de Jesus. Eles o ouviram muitas vezes. Tantas vezes tentaram surpreendê-lo em alguma afirmação errada, mas nada conseguiram. Eles sabiam muito bem que Jesus não era um falso profeta. Além disso, era dever deles ter primeiro a acusação e as provas, só então poderiam prender alguém. A situação se tornava cada vez mais embaraçosa. Na medida em que o interrogavam, a inocência e a santidade de Jesus brilhavam cada vez mais. Um guarda percebeu isso e deu uma bofetada em Jesus. Jesus lhe disse: Porque me feres. Se falei mal, dá testemunho do mal; mas se falei bem, por que me feres? Então o levaram manietado para a presença do sumo sacerdote Caifás e o sinédrio.
Este era o poder das trevas. O apóstolo João afirma: Os homens amaram mais as trevas do que a luz (Jo 3.19). Sim, Anás e os principais sacerdotes conheciam os ensinamentos de Jesus. Eles, que deveria zelar pela retidão da palavra de Deus e do ensino dessa palavra, bem como preparar o povo para recebem a Jesus, mas eles se afastaram de Deus e de sua Palavra. Eles sabiam disso, por isso odiaram Jesus porque ele tirou deles, dos sacerdotes, fariseus e escribas, a máscara da hipocrisia e o fez em público, no templo, nas escolas e onde quer que ensinava e dizia:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante
dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós! Ai de vós, guias cegos, que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é nada; mas, se alguém jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado pelo que jurou! Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro ou o santuário que santifica o ouro? E dizeis: Quem jurar pelo altar, isso é nada; quem, porém, jurar pela oferta que está sobre o altar fica obrigado pelo que jurou. Cegos! Pois qual é maior: a oferta ou o altar que santifica a oferta? Portanto, quem jurar pelo altar jura por ele e por tudo o que sobre ele está. Quem jurar pelo santuário jura por ele e por aquele que nele habita; e quem jurar pelo céu jura pelo trono de Deus e por aquele que no trono está sentado. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas! Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e intemperança! Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! (Mateus 23.13-27 RA)
Eis a razão porque os fariseus odiaram Jesus, porque ele lhes disse a verdade. Então tentaram acusá-lo de falsa doutrina, de agitador, de perturbador da paz. Coisas que continuam fazendo até hoje. Os discípulos não estão acima de seu mestre. Importa que confessemos a verdade destemidamente.
Demos, pois, o testemunho / de Jesus, o Redentor, / dominando assim o punho do feroz perseguidor. / Que se pregue alegremente / a Palavra de Jesus, pois o seu amor clemente / traz aos homens clara luz. ( HL 270.3)

13-
Diga-nos se tu és o Cristo, o Filho de Deus

Jesus, porém, guardou silêncio. E o sumo sacerdote lhe disse: Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste; entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu. Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou! Que necessidade mais temos de testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia! (Mateus 26.63-65 RA)

O tribunal eclesiástico condena Jesus. Quanto mais procuravam motivos para condená-lo, tanto mais brilhava a verdade: Ele é o Filho de Deus. Esta verdade se tornou tão forte na consciência do sumo sacerdote que ele já não conseguia mais escondê-la. Por isso ele perguntou em voz bem alta: Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus? Era este o medo que estava na alma de todos ali reunidos. Jesus, que até agora guardou silêncio, já não pôde mais calar. Há hora de silenciar e hora de falar. Jesus respondeu com clareza: Eu o sou! Eu sou o Cristo. Portanto, ele era o Ungido, o esperado desde Adão e Eva. Aquele que fora profetizado, a quem João Batista anunciou. Como, porém, os fariseus não acreditavam nem nos profetas, e tinham determinado em seus corações matar Jesus e não ouvi-lo, Jesus acrescentou: Entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu. O tempo da humilhação de Jesus em breve chegaria ao fim. Mais um pouco. Logo mais, após o sepultamento iniciaria a exaltação de Jesus. Eles ouviriam a respeito da ressurreição, do dia de Pentecostes e do testemunho dos apóstolos. E todos eles se defrontariam com ele após a morte.
Apavorados e assustados, por ouvirem a verdade com tão grande simplicidade e vigor, mas também alegres por lhes ter ocorrido esta pergunta, gritam: Blasfemou! Que necessidade mais temos de testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia! E o condenaram à morte.
Lembremos, Jesus é nosso substituto. A acusação de blasfemador que ele sofreu, ele a sofreu em lugar de todos nós. Adão e Eva queriam ser igual a Deus, isto foi sua blasfêmia. Eis o pecado principal de todos nós. Todos nós somos réus de morte. Quantas blasfêmias clamam ainda hoje aos céus. Os pecados de toda a ordem, as superstições, as falsas doutrinas, etc.
Somos gratos a Jesus por ter expiado esta nossa culpa e nos oferecer perdão, vida e eterna salvação. Redimidos por ele queremos servi-lo com coração sincero e aguardar a sua vinda em glória ou o momento em que ele nos chama para a glória.
Condenado eu me sentia / e distante de tua paz, / mas gracioso me ofereces / o perdão que a vida traz. / Quanto amor! Oh! Quanto amor! / Grato sou meu Redentor. (HL 75.2)

-14-
Profetiza-nos, ó Cristo!

Então, uns cuspiram-lhe no rosto e lhe davam murros, e outros o esbofeteavam, dizendo: Profetiza-nos, ó Cristo, quem é que te bateu! (Mateus 26.67-68 RA)

Para o alívio de todos, soou, finalmente, pelo salão do sinédrio a sentença: É réu de morte! Blasfemou, é réu de morte! Agora não podiam mais conter sua fúria. Começaram a zombar dele e feri-lo na alma e nos corpo. Cuspiram-lhe no rosto. Davam-lhe bofetões. Zombavam dele, dizendo: Profetiza, ó Cristo, quem é que te bateu? Parece que precisavam convencer sua própria consciência, pelo zombar e humilhá-lo, de que ele não era o Filho de Deus. Mas a consciência não cala. Ficou demasiadamente comprovado de que ele era o Filho de Deus.
Jesus sofre calado. Já disse o profeta:
O SENHOR Deus me abriu os ouvidos, e eu não fui rebelde, não me retraí. Ofereci as costas aos que me feriam e as faces, aos que me arrancavam os cabelos; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam. Porque o SENHOR Deus me ajudou, pelo que não me senti envergonhado; por isso, fiz o meu rosto como um seixo e sei que não serei envergonhado. (Isaías 50.5-7 RA)
E salmista afirma: Mas eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo. Todos os que me vêem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça (Salmos 22.6-7 RA). Jesus suportou voluntariamente nossas dores. O quanto ele teve que se humilhar para nos resgatar.
Ao contemplar este quadro em que os homens honrados do sinédrio, homens sábios, conhecedores da Escritura e venerados zombam de Jesus – vemos como que num espelho. Ali vemos os nossos próprios pensamentos. Ali vemos o que realmente se passa em nosso interior. Somos, já por nascimento, inimigos de Deus. Jesus afirmou: Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmia (Mateus 15.19 RA). E o apóstolo Paulo afirma: O pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar (Romanos 8.7 RA). A inclinação de nossa carne, de nossa natureza carnal, está sempre inclinada para o mal. Importa que façamos um sincero exame de nossa consciência. Por exemplo: Temos tempo para Deus, ler e ouvir a sua palavra? Tempo para a oração? Aceitamos a palavra com singeleza de coração ou a colocamos em dúvida? E quando Deus não atende nossas orações e nos dirige por caminhos difíceis, aceitamos humildemente os caminhos de Deus, como Jó que disse: O SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR! (Jó 1.21 RA) Mesmo como cristãos temos ainda nossa natureza carnal e cabe-nos afogá-la, crucificá-la diariamente, por contrição e arrependimento. Esta luta é diária. Jesus nos comprou com o seu precioso sangue, para que vivamos não mais para nós mesmos, mas para aquele que por nosso morreu e ressuscitou (2 Co 5.15). Que Deus Espírito Santo nos ajude.
Eu, eu e meu pecado / havemos motivado / a tua grande dor, / os murros violentos, / mil outros sofrimentos, / que te enchem a alma de pavor. (HL 94.4)


-15-
Hoje, três vezes me negarás

Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje, três vezes me negarás, antes de cantar o galo. Então, Pedro, saindo dali, chorou amargamente (Lucas 22.61-62 RA).

Enquanto Jesus estava sendo interrogado no palácio do sumo sacerdote, sofrendo o escárnio e a zombaria, lá fora no pátio o apóstolo Pedro estava sendo arduamente atacado por Satanás, e caiu. A queda foi triste. Tão triste que todos os evangelistas a relatam minuciosamente. Eles o relatam não para difamar o apóstolo Pedro, mas para nossa mais severa advertência e consolo. Por isso é necessário que demos muita atenção a este acontecimento.
Quando Jesus foi preso, todos os discípulos fugiram. Passado o primeiro susto, dois discípulos, João e Pedro, mudaram de idéia. Cada qual seguindo sozinho seu caminho. Eles foram ao palácio do sumo sacerdote para ver o que aconteceria a Jesus. João tinha amigos no palácio e conseguiu entrar fácil. Pouco depois veio Pedro, mas encontrou o portão do palácio fechado. Vendo-o João, foi falar com uma empregada que o deixou entrar. João pensou estar prestando um bom auxílio a Pedro. Também boas intenções, podem resultar, por vezes, em situações complicadas. No interior do palácio, João seguiu seu caminho. Pedro, sendo desconhecido neste lugar, preferiu ficar no pátio e assentou-se junto aos soldados.
Faz pouco, Pedro havia sido repreendido pelo Mestre por lançar mão à espada. Agora, novamente, sem ordem do Mestre avança e segue um caminho por conta própria. Não lembrou a advertência de Jesus: Esta noite me negarás. Se temos a ordem de Jesus para irmos a lugares difíceis, não devemos temer. Assim os apóstolos testemunharam mais tarde diante de reis e imperadores. Mas Pedro não tinha ordem para seguir Jesus ao palácio do sumo sacerdote. Satanás aproveitou a oportunidade e tentou arruiná-lo.
Pedro sentou-se na roda dos escarnecedores. Nisso passou ali uma empregada e, vendo-o, disse: Este também estava com Jesus. Podemos imaginar o susto que Pedro levou. Ele começou imediatamente a defender-se, dizendo: Mulher, não sabes o que estas dizendo. Como é fácil cair. Uma pequena palavra pode arruinar tudo. Satanás usou uma de suas armas preferidas, a língua de mulheres para tombar o corajoso apóstolo Pedro. Este também estava com ele. Poucas e simples palavras que encheram a alma de Pedro de pavor e medo.
Pedro saiu dali. Depois voltou para o fogo, e para disfarçar conversou com os soldados. Tendo passado uma hora, um homem olhou para ele disse: Também este verdadeiramente estava com ele, porque também é galileu. Pedro respondeu: Homem, não compreendo o que dizes. E logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo. Então, voltando-se o Senhor, ficou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje três vezes me negarás, antes de cantar o galo. Então Pedro, saindo dali, chorou amargamente. (Lc 22.60-62). As palavras de Jesus: Depois de te arrependeres, fortalece os irmãos (Lc 22.32), evitaram que ele desesperasse. Confiou nas palavras de perdão de Jesus, que o reergueram.
A Escritura nos admoesta: Quem está de pé, veja que não caia (1 Co 10.12). Infelizmente muitos que não somente estavam de pé, mas que foram, por um tempo, cheios do Espírito Santo e abundantes na obra do Senhor, caíram. Por isso o salmista pede fervorosamente a Deus: Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano (Salmos 143.10 RA). E: Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário (Salmos 51.10-12 RA).
Pedro não havia dado a devida atenção as palavra de Jesus e se colocou em tentação. Quantas vezes isto já aconteceu conosco. Mas Jesus orou por ele (Lc 22.32), como ainda ora por nós. E nós oramos, incluindo todos nossos irmãos: Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.
Abismado em meu pecado, / clamarei a ti, Senhor. / Olha o pranto e o desencanto / deste pobre pecador / para amar-te e contemplar-te / com a corte celestial. (HL 345.1).

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Pequei, traindo sangue inocente.

Então, Judas, o que o traiu, vendo que Jesus fora condenado, tocado de remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos importa? Isso é contigo. Então, Judas, atirando para o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se. (Mateus 27.3-5 RA)

A consciência de Judas entra em colapso. Até há pouco, ele estava calmo e feliz. Tinha as trinta moedas de prata no bolso. Quanta felicidade. Porém, esta felicidade durou pouco. Vendo que Jesus fora condenado à morte, teve remorsos. Por que a condenação de Jesus à morte o perturbou? Sem dúvida, porque Satanás havia enganado a Judas. Em que sentido? Dizendo-lhe: Jesus é todo-poderoso. Mesmo que o prendam, na hora precisa, ele se libertará, como das vezes anteriores. (Lc 4.29,30; Jo 8.58; 10.38). Não vão conseguir matá-lo. Tu ficarás com o dinheiro, pedirás perdão a Jesus e tudo estará bem. Que engano, que cegueira. Agora viu que Jesus fora açoitado, como lhe cuspiram no rosto e lhe deram bofetadas, o condenaram à morte, e não acontecia nada. Jesus não se libertou. Nesta hora, Satanás tinha mais uma preocupação em relação à Judas: Não permitir que Judas lhe escapasse das mãos. Portanto conduzi-lo o quanto antes ao desespero e à morte. Deve ter-lhe pintado o pecado da traição com todas as cores negras. A consciência de Judas passou a acusá-lo e Satanás lhe fazia ver: Teu pecado é grande de mais para ser perdoado. Atormentado por sua consciência, Judas foi ao palácio do sumo sacerdote e exclamou: Pequei, traindo sangue inocente. Os fariseus lhe responderam: Que importa? Isto é contigo. Então Judas, atirando para o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se. Pobre Judas.
Alguém talvez poderia dizer: Mas o que Judas poderia fazer? Sua morte horrenda fora profetizada. Sim, Deus em sua onisciência a previu. A onisciência de Deus, no entanto, não foi a causa do pecado nem do suicídio de Judas. Judas pecou por sua própria vontade. Jesus morreu também pelo pecado de Judas e o advertiu o suficiente, mas Judas rejeitou todo o amor de Jesus e se precipitou à eterna condenação.
Pedro também traiu Jesus. Não havia, em si, diferença entre o pecado de Judas e de Pedro. O cantar do galo acordou a Pedro e o olhar complacente de Jesus confortou a Pedro. Ele chorou amargamente, em verdadeiro arrependimento e o evangelho o confortou, o levou a confiar no amor de Jesus, para que não desesperasse. Judas devolveu o dinheiro por remorsos, mas não havia nele verdadeiro arrependimento, num sentido de voltar a Deus e suplicar o perdão, confiante na graça de Cristo.
Satanás continua a rodear todo cristão, como leão que ruge (1 Pe 3.8). Muitas são nossas quedas. Importa viver diante da face de Deus em verdadeiro arrependimento e confiança na graça de Cristo.
Sabemos quão difícil é confiar em Cristo, quando a consciência nos acusa de pecado. Não conseguimos orar. Parece que temos que esperar até sentimo-nos melhores. Nossa consciência não para de nos acusar. Nisso Satanás ganha forças. Importa ir logo a Cristo, suplicar o perdão, cantar hinos, recitar versículos bíblicos para silenciar a consciência. Podemos cantar: Vem a Cristo, vem agora, carregado, como estás. Dele só e sem demora, o perdão conseguirás. (HL 364.1) Mas quem rejeitar este amor divino pela incredulidade, voltando a amar o pecado, então lhe valerão as palavras de Jesus: Melhor lhe fora não haver nascido! (Mateus 26.24 RA)
Deus na cruz é meu amado. / tu, consciência, vais calar. / Pela Lei atormentado, / ouço Deus me consolar; / com seu sangue redentor / resgatou-me o Fiador. / Deus na cruz é meu amado, / pois na fé sou confirmado. (HL 82.4)

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Diante de Caifás

Depois, levaram Jesus da casa de Caifás para o pretório. Era cedo de manhã. Eles não entraram no pretório para não se contaminarem, mas poderem comer a Páscoa. Então, Pilatos saiu para lhes falar e lhes disse: Que acusação trazeis contra este homem? Responderam-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos (João 18.28-30 RA).

Era cedo de manhã, quando os fariseus apressadamente levaram Jesus a Pôncio Pilatos, a fim de obterem dele a permissão para matarem Jesus. O assunto tinha pressa, pois queriam evitar a agitação do povo, o qual eles temiam.
Chegados ao palácio, eles não entram, pois era o dia da preparação para o grande sábado da Páscoa deles. Eles não queriam se contaminar. Se entrassem na casa de um gentio, seriam considerados impuros. Cuidam do exterior, das leis cerimoniais, feitas em grande parte por homens e ignoram a verdadeira lei de Deus. Jesus lhe disse: Coam o mosquito, mas engolem o camelo (Mt 23.24). Não é esta ainda hoje a prática de muitas religiões? Vemos isso especialmente nesse tempo quaresmal. Quantas leis cerimoniais são observadas, como por exemplo? Não comer carne na Sexta-feira Santa. Ir, pelo menos nesse dia ao culto e comungar. Que adiante tudo isso, se não permitimos que a mensagem da cruz penetre em nosso coração para nos conduzir ao arrependimento e à verdadeira fé, da qual brota o amor a Deus e ao próximo. O que adianta se em nosso coração a ganância, a exploração, a avareza, o amor ao pecado, vícios inimizades, intrigas familiares permanecem dominando. Pedimos perdão por um costume litúrgico, sem verdadeiro arrependimento no coração, fé na graça de Cristo e o sincero propósito de corrigir a vida. Sem suplicar de coração: Cria em mim, ó Deus, um puro coração e renova em mim espírito reto. Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação. – não há arrependimento, fé e vida.
Pilatos, ouvindo o barulho, saiu para ver o que era. Os fariseus lhe pediram autorização para matarem Jesus. Pilatos perguntou: Que acusação trazeis contra ele? - Acusação? Na pressa os fariseus não haviam pensado nisso e a acusação pela qual eles o condenaram: Blasfemou! não tinha valor diante do tribunal romano. Apressados responderam: Se ele não fosse malfeitor não o teríamos trazido. Pilatos respondeu: Então julgai-o vós mesmos. As leis romanas eram justas. Não se condena alguém sem ser julgado e constatado um motivo justo. Refazendo-se do susto, os fariseus e principais sacerdotes começaram a acusar a Jesus e agitar o povo que se aglomerou ali. Mudaram então a acusação: Ele agita o povo a não pagar imposto. Ele disse ser rei. - Quanta calúnia e falsas acusações. Tudo o que eles queriam e esperavam de um salvador, mas que Jesus não lhes deu, disto eles o causam agora. Eles esperavam do salvador bênçãos materiais. Queriam que seu salvador os libertasse do jugo romano, e lhes proporcionasse dias felizes aqui na terra. Agora o acusam daquilo em que suas esperanças foram frustrados. Ainda hoje é assim. O povo em geral quer um salvador que lhes proporcione dias felizes e prósperos aqui na terra.
Estas acusações continuam contra Jesus até hoje. Quantas vezes, no decorrer da história, cristãos foram acusados de perturbadores da paz, agitadores e malfeitores, quando na verdade pregam a paz e fazem o bem. Mas o que incomoda é a pregação da lei para arrependimento, o convite para a fé na graça de Cristo, a vida honesta em santificação.
Deus na cruz é meu amado. / Ímpio, podes estranhar / que na fé eu tenho andado? / Hei de a Cristo abandonar? / Ele é minha força e paz, / o caminho que me apraz. / Deus na cruz é meu amado, / pois na fé sou confirmado. (HL 82.2)

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És tu o rei dos judeus?

Tornou Pilatos a entrar no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus? Respondeu Jesus: Vem de ti mesmo esta pergunta ou to disseram outros a meu respeito? Replicou Pilatos: Porventura, sou judeu? A tua própria gente e os principais sacerdotes é que te entregaram a mim. Que fizeste? Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui. Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito isto, voltou aos judeus e lhes disse: Eu não acho nele crime algum (João 18.33-38 RA).
O amor de Jesus é indescritível. Vede com que amor Jesus procura salvar todas as pessoas com as quais ele é colocado em contato nesses dias da paixão. Revelou amor aos discípulos, especialmente a Pedro. Revelou amor a Judas, o traidor. Revelou amor ao servo Malco, do qual Pedro havia cortado a orelha. Revelou amor aos sacerdotes e ao Sinédrio. Agora era a vez de Pilatos que lhe perguntou: Você é o rei dos judeus? Jesus respondeu: Vem de ti mesmo esta pergunta? Isto é, você está interessado em me conhecer de fato? Você sabe que não sou uma ameaça ao César de Roma, ao império romano. Você quer saber que tipo de rei eu sou? Você conhece a religião dos judeus, mas quanto à verdadeira esperança de Israel, você talvez esteja mal informado. Eu posso orientá-lo melhor quanto à isso. Esta pergunta deveria vir do fundo do teu coração. Jesus continua: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui. Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? Vejam quanto amor Jesus mostra a Pilatos. Procura despertá-lo para o conhecimento da verdade. Pilatos notou que o assunto está chegando perto de mais do seu coração e desviou. Não queria ser defrontado com a verdade. Reconheceu a inocência de Jesus e, como juiz da situação, procurou libertá-lo, mas rejeitou Jesus. Por causa da condenação de Jesus, Pilatos foi, mais tarde, chamado a Roma. Perdeu seu posto e se suicidou. Pobre Pilatos!
Muitos agem assim ainda hoje. Reconhecem de certa forma a inocência e a verdade de Jesus, mas prorrogam o ouvir, não deixando-se envolver pela verdade. Amam demais as coisas do mundo. O escritor aos Hebreus adverte: Hoje se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia da tentação no deserto, (Hebreus 3.7,8 RA) Bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam (Lc 11.28 RA).
Faze-mo reconhecer / muito arrependido. / J[á não quero te ofender, / pois me tens remido. / Como poderia amar / este meu pecado / que te fez por mim penar / sobre a cruz pregdo? (HL 85.4)

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Tu o dizes

Jesus estava em pé ante o governador; e este o interrogou, dizendo: És tu o rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: Tu o dizes (Mateus 27.11 RA).

Jesus é Rei e Senhor. É o único Senhor. Não parece. Há tantos senhores aqui em volta dele. O sumo sacerdote, os fariseus, Pilatos todos eles estavam diante da verdade. Conheciam a verdade, mas a rejeitaram. O apóstolo Paulo o diz com palavras bem fortes: Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos (Romanos 1.21-22 RA). A história da paixão de Cristo, em todas suas cenas, é um relato bem fiel do coração humano. Homens altamente religiosos, com o sumo-sacerdote, os fariseus e os anciãos rejeitam Jesus. Toda a religião humana, que brota e é dirigida pela razão humana é inimiga de Deus. Sim, a mais alta religiosidade do homem é inimiga de Deus. O ser humano, que se deleita horas afio diante de filmes ou revistas perniciosas, sente repugnância se deve gastar alguns minutos no templo de Deus ou na leitura da Bíblia.
Tu és rei? Sim, Jesus é o Rei dos reis, o Senhor dos senhores. Ele se humilhou profundamente para vencer os inimigos da humanidade e redimi-la. Ele assumiu a forma a forma de servo. Não usou sempre e inteiramente sua divindade comunicada à natureza humana. Só assim foi possível, como nosso substituto, cumprir a lei, pagar por seu sofrer e morte de cruz a culpa da humanidade e reconciliá-la com Deus (2 Co 5.18,19). Ressuscitou ao terceiro dia e foi exaltado. Está à direita do Pai e governa, com seu poder, sobre céu e terra (Reino do poder), mas sua igreja, aqui na terra ainda está em humilhação, ele a governa especialmente com sua graça, seu perdão (Reino da graça), pois ainda não se revelou o que havemos de ser, como diz o apóstolo João: Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é (1 João 3.2 RA). Jesus governa em glória sobre todos os que já estão com ele nos céus (Reino da glória). Em breve voltará em glória para julgar vivos e mortos. Criar novo céu e nova terra, nãos quais habitará justiça (2 Pe 3.13).
Jesus é Senhor e Rei, como o confessamos no Credo Apostólico. Felizes todos os que pela fé na graça de Cristo, pertencem ao seu reino e lhe são fiéis até ao fim.
Espero o grande dia - / final libertação! / Em paz, em alegria, / louvar-te os salvos vão. / A morte, já vencida / por Cristo, o Redentor, / conduzirá à vida / os servos do Senhor. (HL 290.7)

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Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou

Ao saber que era da jurisdição de Herodes, estando este, naqueles dias, em Jerusalém, lho remeteu. Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois havia muito queria vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo fazer algum sinal. E de muitos modos o interrogava; Jesus, porém, nada lhe respondia (Lucas 23.7-9 RA).

Pilatos estava convicto que Jesus era inocente. A todo o custo queria livrar-se dele. Os romanos tinham grande fama por sua jurisprudência. Suas leis tinham grande clareza, mas por mais perfeitas que eram, o ser humano sempre procura seus próprios interesses. Pilatos conhecia seu dever. Proteger os inocentes e punir os culpados. Jesus era inocente, mas Pilatos temia o povo. Ele não queria indispor-se com os judeus. Isto poderia por em risco seu posto. Por isso, ao ouvir que Jesus era da Galiléia o enviou imediatamente para Herodes, que estava de visita em Jerusalém.
Herodes alegrou-se sobremaneira ao ver Jesus. Sua alegria não era a alegria de um pobre pecador arrependido que se alegra com Jesus por entrar em sua casa, como aconteceu a Zaqueu. Sua alegria era a expectativa para satisfazer sua curiosidade e ver talvez algum milagre. Que tristeza.
Quatro gerações da família Herodes tiveram grande oportunidade diante de Deus. Herodes o Grande, fora aquele que queria matar Jesus ao saber dos Magos do Oriente que nascera o rei dos Judeus. Ele mandou matar os meninos de Belém. Seu filho, Herodes Antipas, 33 anos mais tarde, mandou decapitar João Batista (Mc 6.14-29), e escarnece de Jesus. O filho deste, Herodes Antipas I, 14 anos mais tarde mandou decapitar o apóstolo Tiago (At 12.1-2). O filho deste, Antipas II, 16 anos mais tarde, foi aquele diante de quem Paulo foi julgado (At 25 e 26). Quatro gerações que estão diante de Cristo e de seus apóstolos e o rejeitaram.
Jesus manteve silêncio e não respondeu uma só palavra a Herodes Antipas. O silêncio de Deus significa morte. É o pior castigo que Deus pode dar a uma pessoa ou lugar: negar-lhe sua palavra. Herodes lhe fez muitas perguntas. Mas Jesus permaneceu em silêncio. Quantos ainda hoje, ao se defrontarem com a palavra de Deus só a questionam, sem terem verdadeiro interesse em conhecê-la.
O dia do juízo será terrível para Herodes e todos os que seguem seus passos. No dia do Juízo Final reconhecerão que Jesus é o Senhor e Juiz. Ai daqueles sobre os quais Jesus terá de pronunciar as palavras: Apartai-vos de mim, vós todos os que praticais iniqüidades (Lucas 13.27 RA)
Mas ainda é tempo da graça, no qual Jesus chama todos a si por sua Palavra e seus sacramentos. Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do SENHOR! (Jeremias 22.29 RA)
Uma coisa é necessária, / esta ensina-me, ó Senhor. / Outra coisa é secundária, / nem mitiga a nossa dor. / A pobre alma aflita / em vão se atormenta, / quando em Jesus Cristo ela não se alimenta. / O que Cristo dá, só, nos pode suprir, / com isto, sim, tudo podemos fruir. (HL 240.1)

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Nada contra ele se verificou digno de morte.

Então, reunindo Pilatos os principais sacerdotes, as autoridades e o povo, disse-lhes: Apresentastes-me este homem como agitador do povo; mas, tendo-o interrogado na vossa presença, nada verifiquei contra ele dos crimes de que o acusais. Nem tampouco Herodes, pois no-lo tornou a enviar. É, pois, claro que nada contra ele se verificou digno de morte. Portanto, após castigá-lo, soltá-lo-ei (Lucas 23.13-16 RA).

No caminho da injustiça. Pilatos reconhecera desde o primeiro contato com Jesus que ele era inocente e que os fariseus o entregaram por inveja. Pilatos tentou por muitos caminhos soltar Jesus. Mas em vão. Diante da gritaria do povo e temendo por seu cargo, não teve coragem de seguir o caminho da justiça e do direito. Ele vai e fala mais uma vez aos sacerdotes e principais do povo: Apresentastes-me este homem como agitador do povo; mas, tendo-o interrogado na vossa presença, nada verifiquei contra ele dos crimes de que o acusais. Nem tampouco Herodes, pois no-lo tornou a enviar. É, pois, claro que nada contra ele se verificou digno de morte. Portanto, após castigá-lo, soltá-lo-ei.
Impressionante! A cada passo, a inocência de Jesus brilha mais e mais. Exatamente isso os sacerdotes queriam evitar. Queriam eliminá-lo às escondidas. Mas Deus planejou diferente. Deus queria, para nosso consolo, que a completa inocência de Jesus fosse destacada e ressaltada de uma maneira bem acentuada, visível a todos. É o que aconteceu. Jesus suportou tudo tão pacientemente por estar carregando os pecados da humanidade.
Após este aviso aos sacerdotes e principais líderes do povo, sobre a inocência de Jesus, qual deveria ser a sentença de Pilatos? Ele é inocente, vou soltá-lo e protegê-lo das mãos dos agressores. Mas Pilatos concluiu: Castigá-lo-ei. Açoitá-lo-ei. Que conclusão terrível. O que motivou Pilatos a açoitar a Jesus? Duas coisas. Seu temor diante do povo e seus próprios interesses políticos.
Como somos semelhantes a Pilatos. Por medo, dos mais diversos, também nós procuramos caminhos escusos, pensando evitar problemas. Quer seja pela mentira, pela calúnia, pelo suborno, etc. Vemos isso constantemente no mundo, especialmente no mundo político. Interesses pessoais, vaidade, orgulho, cobiça corroem as leis e arruínam a justiça.
Todas essas injustiças Jesus tomou sobre si e as sofreu. Ele sofreu calado. Redimidos pelo amor de Cristo queremos agora, de coração voluntário e resoluto seguir a vontade de Deus e glorificar o seu nome. E quando caímos por fraqueza de nossa natureza carnal, nos arrepender, suplicar o perdão e consolados por seu Espírito, trilhar o caminho da justiça.
Tanto desejar eu devo / tão somente a ti, Jesus. / És o meu inteiro enlevo, / minha vida e minha luz. / Que muitos reneguem e voltem ao mundo, / eu quero seguir-te em afeto profundo, / pois tens as palavras que vida nos dão, / espírito, gozo e feliz salvação. (HL 240.4)

-22-
Não te envolvas com esse justo

E, estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito. (Mateus 27.19 RA)

Claúdia Procula, mulher de Pilatos, sem dúvida ouviu o bramido das vozes do povo. Sentiu que seu marido corria perigo de entrar por caminhos errados e achou por bem mandar-lhe um viso. Talvez por um pequeno bilhete: Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito.
Sonhos são, na maioria das vezes, reflexos das preocupações que ocupam nossa mente, bem como os temeres pelo futuro. Por isso, não damos valor a eles. Sonhos são como a espuma de uma fervura. Mas, por vezes, Deus tem usado sonhos para falar a pessoas e dar avisos. Na Escritura vemos como Deus falou a várias pessoas por sonhos, a seus servos fiéis, e mesmo a incrédulos como Labão, Faraó, Nabucodonosor (Gn 31.24; 37.5; Gn 41.1; Dn 2.1). Mas que sonho era este da mulher de Pilatos. Não sabemos. Há uma lenda a este respeito disso, que diz o seguinte: “Ela viu em sonho casas e matas serem consumidas por chamas. O clamor do povo diante das chamas era enorme. Então apareceu um cordeiro que subiu ao monte. Uma lança foi cravada no lado direito do cordeiro, e dali jorrou água e sangue que apagou as chamas. O cordeiro assumiu a forma de homem. Figura semelhante à pessoa a qual Pilatos estava julgando.” Isso, na verdade, é uma lenda que surgiu muito depois dos acontecimentos. Lenda é lenda. O sonho de Claudia, no entanto, foi um aviso sério para Pilatos. A coragem da mulher de Pilatos, falar a favor de Jesus é de admirar, enquanto as mulheres de Israel calaram. Enquanto os discípulos fugiram, os sacerdotes e o povo clamam contra Jesus, esta mulher, a primeira dama do Estado, dá um testemunho a respeito da inocência de Jesus. Que este exemplo desperte as mulheres cristãs ao testemunho dedicado e fervoroso a respeito de Jesus.
Não devemos agora pensar que todo sonho é de Deus, ou estudar Manuais de como interpretar sonhos. O profeta adverte contra os sonhos dos falsos profetas (Jr 23.27). Porque assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o vosso desejo; porque falsamente vos profetizam eles em meu nome; eu não os enviei, diz o SENHOR (Jeremias 29.8-9 RA). Sejamos cautelosos e examinemos as Escrituras. Nela encontramos a verdade e direção para nossa vida.
Ó Deus, tu queiras conservar / o Verbo claro e puro, / e sempre os teus fiéis guardar, / agora e no futuro. / Destrói a oposição hostil; / protege-nos de seu ardil ; em toda a nossa vida. (HL 241.6)

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Barrabás

Naquela ocasião, tinham eles um preso muito conhecido, chamado Barrabás. Estando, pois, o povo reunido, perguntou-lhes Pilatos: A quem quereis que eu vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado Cristo? Porque sabia que, por inveja, o tinham entregado. E, estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito. Mas os principais sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo a que pedisse Barrabás e fizesse morrer Jesus (Mateus 27.16-20 RA).

Barrabás ou Jesus? Diz um ditado: Voz do povo, voz de Deus. Raras vezes ou nunca, isto é certo. Desta vez a voz do povo, por mais injusta, era a voz de Deus. Pois Deus fez aquele que não conheceu pecado, pecado por nós (Is 53).
Pilatos luta para soltar a Jesus. Conferenciou com os sacerdotes e anciãos, mas em vão. Não conseguiu nada. Nisto aparece uma delegação de Jesus, pedindo que fizesse conforme o costume e lhes soltasse um dos presos. Para que o povo se lembrasse de seus anos de cativeiro no Egito, Deus havia ordenado ao povo de Israel que tratasse bem o estrangeiro (Dt 10.19). Dali evoluiu o costume de soltar um preso, por ocasião da Páscoa judaica. Os romanos, para ganhar o favor do povo, consentiram neste costume.
Na cadeia estava, recentemente preso, um assassino e agitador muito perigoso, chamado Jesus Barrabás, ou só Barrabás. “Bar”, em hebraico, significa filho, “Aba”, significa pai. Era um título honorífico. Talvez Barrabás fosse filho de um cidadão honrado, de um mestre ou nobre. Mas que se desviou do caminho do bem, enveredando pelo caminho do crime. Agora estava preso.
Pilatos coloco Jesus e Barrabás diante do povo, pedindo que o povo decidisse a quem deveria soltar? Que injustiça, colocar um inocente, a quem cabia liberdade e a proteção por parte do governo, ao lado de um criminoso, que merecia a condenação, a morte.
Agora cabia ao povo tomar a decisão. O povo, que dias atrás, havia aclamado a Jesus como Rei, cantando: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas! (Mt 21.9), e ao mesmo tempo não deu ouvidos a sua mensagem, para arrependimento e fé, agora deveriam decidir. Pilatos deu-lhes tempo para a decisão. Não poderia haver dúvidas. Barrabás eram um bandido temido em toda a Jerusalém e Judéia. Jesus era um homem de bem. Pilatos estava informado a respeito de Jesus e dos últimos acontecimentos, como da ressurreição de Lázaro. Notícia que se divulgou em toda a Jerusalém. Mas os fariseus e anciãos aproveitaram o pequeno tempo para instigar o povo a pedirem Barrabás. De repente a voz do povo se levantou, para o espanto de Pilatos. O povo gritou: Barrabás. Solte-nos Barrabás.
Espantado Pilatos perguntou ao povo; Que farei com Jesus? E a resposta soou imediatamente: Crucifica-o! Crucifica-o! O coração humano é inimigo de Deus.
Ali está não só o que o juiz Pilatos fez, mas o que Deus fez em nosso favor. O justo, Filho de Deus, foi condenado e crucificado em nosso lugar e favor, para que nós, miseráveis pecadores, fossemos absolvidos e libertados, pois, Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões (2 Co 5.19).
Em meu Jesus confio, / porquanto me remiu; / por sua luz me guio; / as trevas destruiu. / Seu sangue tão precioso / de todo me lavou. / Meu Salvador gracioso / a vida ame legou. (HL 374.1)

-24-
Solta-nos Barrabás

Toda a multidão, porém, gritava: Fora com este! Solta-nos Barrabás!...
Desejando Pilatos soltar a Jesus, insistiu ainda. Eles, porém, mais gritavam: Crucifica-o! Crucifica-o! (Lucas 23.18,20 RA)

Ouvindo Pilatos o clamor do povo, ficou perplexo. Ele gritou ao povo: Que farei, então, com Jesus? Que mal fez ele? Nada achei contra ele para condená-lo à morte! Mas a todas essas perguntas o povo respondia com um grosseiro e violento: Crucifica-o! Crucifica-o! A consciência de Pilatos ficou ainda mais tumultuada. Ele mandou açoitar a Jesus. Os guardas o levaram para dentro do palácio, despojando-lhe as vestes o açoitaram. O açoite romano era terrível. Tiras de couro com agulhas de chumbo nas pontas, a fim de rasgar a carne até aos ossos. Tecendo-lhe uma coroa de espinhos, colocaram-na em sua cabeça e lhe deram nas mãos um caniço. Então escarneciam dele, ajoelhando-se diante dele, saudando-o, dizendo: Salve, rei dos judeus, e davam-lhe bofetadas.
Os soldados, apesar de terem presenciado o julgamento, e visto a inocência de Jesus, e ouvidas as palavras que ele era Rei e Filho de Deus, pois em suas zombarias o trataram assim, não temeram em derramar sobre ele o escárnio. Oh! Homem, de onde tu caíste? De predileto filho de Deus, para seres o mais vil das criaturas. E para salvar essa criaturas caídas, míseros pecadores, o Filho de Deus teve que sair do seu trono celestial, vir à terra, tornar-se nosso irmão na carne e expor-se à zombaria de sua criatura. Pelo salmista, Jesus diz: Mas eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo (Salmos 22:6 RA). Assim maltratado, Pilatos o apresentou mais uma vez, tentando mover o povo à compaixão, para que concordassem em soltá-lo. Mas o povo vendo Jesus tão maltratado gritou com mais força: Crucifica-o! Crucifica-o! Alguém na multidão gritou: Temos uma lei, e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de Deus (João 19.7 RA). Pilatos, ouvindo tal declaração, ainda mais atemorizado ficou (João 19.8 RA). Ele ficou atemorizado até a alma. Deus cravou fundo na consciência de Pilatos esta verdade de que Jesus era o Filho de Deus. Pilatos, tentou tirar esse espinho. Ele interrogou Jesus novamente. Jesus guardou silencia. Enfurecido, Pilatos lhe diz: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem (João 19.10-11 RA). A partir deste momento, Jesus guardou silêncio. A angústia de Pilatos aumentou, mas ele não deu ouvidos a Deus nem à voz de sua consciência. Na hora sexta, ele foi para o pavimento do Palácio. Pediu água. Lavou suas mãos diante do povo e lhes disse: Sou inocente do sangue deste justo (Mt 27.24). Com isto proferiu sua própria sentença. Então disse ao povo: Eis aqui o vosso rei. Eles, porém, clamavam: Fora! Fora! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César! Então, Pilatos o entregou para ser crucificado (João 19.14-16 RA).
Quantos procedem hoje da mesma forma. Eu sei. Eu queria fazer. Mas os outros me pressionaram, me empurraram, etc. E não chegam ao verdadeiro arrependimento e a fé em Cristo. Que Deus nos guarde de tal e nos mantenha em verdadeiro arrependimento e fé na graça de Cristo.
Porque no teve amor profundo, / da perdição Deus nos salvou; / por isso o Filho veio ao mundo / e para os céus depois tornou; / portanto insiste no bater / à nossa porta e entrar querer. (HL 366.3)

Pôncio Pilatos

Quem era Pôncio Pilatos? Ele era filho do rei germânico Zirus de Mainz, que teve um caso com a filha de um moleiro, que residia na encosta da floresta. Deste encontro nasceu Pilatos.
O rapaz cresceu. Ele cobiçou o trono e assassinou o filho do rei, o verdadeiro herdeiro do trono. Quando os romanos conquistaram a Germânia, o falso herdeiro do trono foi levado como refém para Roma. Ali ele cometeu mais alguns assassinatos e conseguiu certoprestígio. Ele foi, então, enviado para Pontius, onde cumpriu com mão de ferro as ordens de Roma, eliminando as tribos rebeldes. Com isso granjeou confiança do César, recebendo o cognome: Pontius. Foi então mandado como governador para a Judéia, que até aqui tinha sido governado por Valerius Gratus. Informações sobre ele temos de Josephus e Eusébio.
Na Judéia cometeu diversos erros. Os Césares romanos colocavam a efígie de seus bustos debaixo das insígnias romanas, no estandarte. Isto para os judeus era um sacrilégio. Valerius havia respeitado os costumes religiosos dos judeus. Pilatos mandou colocar, à noite, o estandarte romano com a efígie de Cesar no Palácio. Os judeus protestaram. Centenas de judeus foram até Cesaréia, pedir que Pilatos retirasse esta efígie de Jerusalém, em respeito à fé de seus pais. Eles se deitaram por cinco dias e cinco noites diante do palácio. Pilatos mandou cercá-los por seus soldados e ameaçou matá-los. Eles não recuaram. Impressionado com tal coragem, mandou retirar a efígie de César.
Após a morte de Jesus, ele teve outra rusga com os samaritanos, também por causa de costumes religiosos. Pilatos não os acatou. Eles pediram: Não inicie uma guerra, não use de violência, respeite a tradição de nossos pais. Pilatos não lhes deu ouvidos e mandou seus soldados espalhar a multidão a cacetadas. Houve mortes e muitos feridos. Os samaritanos mandaram uma carta ao procurador da Síria, o qual informou a César a respeito. César mandou Pilatos vir a Roma para se justificar dos problemas, tanto da morte de Jesus como do levante e das atrocidades cometidas contra os samaritanos. Pilatos foi. Como a viagem a Roma era demorada, nesse tempo o César Tibérios veio a falecer e Cajus, que já não era simpático a Pilatos, assumiu o trono. Pilatos caiu em desgraça diante de César e foi condenado. Sendo lançado numa prisão, onde se suicidou. Triste fim de Pilatos.

-25-
Entregou Jesus à vontade deles


Soltou aquele que estava encarcerado por causa da sedição e do homicídio, a quem eles pediam; e, quanto a Jesus, entregou-o à vontade deles. (Lucas 23.25 RA)

Jesus foi entregue aos soldados e ao povo. Os fariseus jubilaram, o povo delirou sedento de sensações, gritavam freneticamente: Crucifica-o, crucifica-o!
Após algum tempo via-se pelas estreitas ruas de Jerusalém três condenados carregando suas pesadas cruzes de madeira, conduzidos por soldados romanos. Seguia-o numerosa multidão de povo, e também mulheres que batiam no peito e lamentavam. Porém Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos! (Lucas 23.27-28 RA) A coragem dessas mulheres é de admirar. Elas não temeram confessar, em meio à multidão, sua simpatia por Jesus. Suas lágrimas eram um protesto contra a injustiça que estava sendo cometida.
De repente, Jesus parou. Olhou para as mulheres e lhes disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos! Eu carrego a cruz voluntariamente em obediência ao Pai, para a salvação de muitos. Chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos! Reconhecei a causa do meu sofrimento. Esta causa não é simplesmente o ódio dos fariseus, a injustiça de Pilatos, mas são os pecados da humanidade que eu carrego. Importa que cada um reconheça seus próprios pecados, como cantamos no hino: Eu, eu e meu pecado havemos motivado a tua grande dor, os murros violentos, mil outros sofrimentos, que te enchem a alma de pavor (HL 94.4). Como Jesus o disse pelo profeta Isaías: Me deste trabalho com os teus pecados (Is 43.34).
Quantos contemplam, ainda hoje, a história da paixão, por filmes e vídeos, e ao verem as cenas mais cruentas se comovem às lágrimas, e dizem: Que ingratidão por parte dos judeus! Que crueldade por parte dos romanos, mas não reconhecem a verdadeira causa de todo o sofrimento de Jesus, nossos pecados, nem a bênção destes sofrimentos, “por vós”, para nos reconciliar com Deus Pai.
Ao contemplarmos a história da paixão vemos nosso coração humano. Pois tudo o que se passa ali é um espelha do nosso coração corrompido, que ama o pecado e é inimigo de Deus, que dá mais ouvidos ao diabo do que a Deus.
Chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos! Caso não vos arrependerdes, virá sobre vós o que os judeus pediram: Caia sobre nós o seu sangue, e sobre nossos filhos! (Mt 27.25) Este castigo estava prestes a cair sobre eles, especialmente sobre Jerusalém. Jesus conhece o coração do Pai e sabe que castigo virá. Então verão que coisa horrível é cair nas mãos do Deus vivo (Hebreus 10.31 RA). Todo aquele que não se arrepender de seus pecados e confiar em Cristo como seu Salvador, será ceifado pela ira do Cordeiro e lançado ao inferno. Por isso: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração (Hebreus 4.7 RA).
Aos que choram seus pecados, / dá consolo em tem perdão; / pelo Espírito guiado, / vivam sempre em retidão. (HL 357.2)


-26-
Se em lenho verde fazem isto

Porque, se em lenho verde fazem isto, que será no lenho seco? (Lucas 23.31 RA)

Esta palavra Jesus proferiu às mulheres, que choravam por ele. O que Jesus queria dizer com esta advertência? Lenho seco, quando cai no fogo queima logo e é consumido rapidamente. Lenho verde quando cai no fogo, custa a queimar e demora mais. O lenho verde é Jesus. Ele nunca pecou. Está intato. Lenho seco, corroído pelo pecado somos todos nós, são todos os seres humanos, réus da ira divina, do fogo do inferno. Ora, se Deus Pai está derramando um juízo tão severo sobre seu próprio Filho que não tem pecado nenhum, mas carrega os pecados alheios, o que será do lenho seco, dos pecadores que por sua incredulidade rejeita o amor de Deus, quando eles caírem sob o juízo de Deus. Diz o escritor aos hebreus: Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. (Hebreus 10:31 RA)
Lenho seco. A esse respeito o profeta Isaías escreve: Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça (Isaías 59.2 RA). O apóstolo Paulo afirma: Estando nós mortos em nossos delitos. (Efésios 2.5 RA).
Chorai por vós. Olhando para os sofrimentos de Cristo, devemos reconhecer nossa culpa e quão grande é a ira de Deus sobre o pecador. Bem-aventurados os que pela iluminação do Espírito Santo chegam ao arrependimento e à fé na graça de Cristo.
E sobre vossos filhos. Jesus sabe que a grande maioria em Jerusalém, mesmo após a Páscoa e Pentecostes, rejeitará a Jesus e sofrerão o castigo divino. No ano 70, os romanos cercaram Jerusalém por três anos e então conquistaram a cidade e a queimaram a fogo. O horror deste cerco de três anos, a entrada dos romanos em Jerusalém, os saques, as mortes, os incêndios foram descritos pelo historiados Flávio Josefo (Flávio Josefo, História dos Hebreus. Casa Publicadora das Assembléias de Deus, Rio de Janeiro, RJ. 1999).
Jubilosos podemos dizer: Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. (Romanos 7.25 RA). Pelo batismo fomos enxertados na árvore da vida. Recebemos perdão dos pecados, vida e eterna salvação. Agora queremos também produzir os frutos da justiça. Mas se desleixarmos a palavra, caindo fé, perdemos a vida e voltamos à morte e escravidão de Satanás. Que Deus nos guarde disso.
Sinceramente me arrependo / de minha grande transgressão. / À tua graça é que em rendo / em verdadeira confissão. / Tem compaixão, tem compaixão / de mim na minha perdição. (HL 356.2)


-27-
O cireneu, chamado Simão


Ao saírem, encontraram um cireneu, chamado Simão, a quem obrigaram a carregar-lhe a cruz. (Mateus 27.32 RA)
O cortejo chegou ao ponto mais fundo do vale. Agora começaria a lenta subida ao monte Gólgota. Jesus caiu exausto sob o peso da cruz. Não é de admirar. Por tudo o que sofreu nas últimas horas, desde quinta-feira à noite, quando foi preso. Suas forças se esgotaram.
Os soldados viram que não adiantava chicotear. Olharam em derredor para ver quem poderia ajudar. Não fizeram isto por compaixão com Jesus ou para lhe aliviar o peso da cruz, mas simplesmente, porque não queriam atrasar a crucificação, ou talvez por medo de que ele viesse a morrer antes. Mas, em derredor deles não se achava ninguém que pudesse carregar a cruz. Lembramos a ordem de Deus: Se vires prostrado debaixo da sua carga o jumento daquele que te aborrece, não o abandonarás, mas ajudá-lo-ás a erguê-lo (Êxodo 23.5 RA). Mesmo do jumento de um inimigo deveriam ter compaixão. Aqui está o Filho de Deus e ninguém para lhe ajudar a carregar a cruz. Onde estavam os discípulos, especialmente Pedro que estava pronto a morrer com Jesus? Estamos nós hoje prontos a nos empenhar no trabalho de levar o evangelho a todas as nações? Ou também nos esquivamos para ficar diante da televisão, em nossos momentos de lazer e recreações?
Os soldados não lhe ajudaram. Então um dos soldados viu um homem que veio do campo e olhou de curioso. Eles o agarraram e o obrigaram a carregar a cruz. Era Simão, de uma cidade ao norte da África, chamada Cirene. Provavelmente um descendente de judeu que veio para a festa da páscoa e se hospedou numa cidade circunvizinhança. Quando o chamaram, ele não quis, mas eles o obrigaram a isso. Realmente era algo muito vergonhoso carregar a cruz de um condenado. Além disso, isso o tornava impuro para participar das festividades da páscoa. Talvez fosse um motivo porque lançaram mão de Simão que parecia ser um estrangeiro.
Obrigaram Simão a força para carregar a cruz. Na noite passada, no jardim do Getsêmani, um anjo veio confortá-lo; aqui Simão precisa ajudar a carregar a cruz. Inesperada e fulminantemente Simão viu-se sob a cruz. Era acaso? Por que ele escolheu esse caminho? Por que os soldados tomaram a ele? As pessoas dizem: Isto é acaso. Deus não vê isso assim. O profeta Jeremias afirma: Eu sei, ó SENHOR, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos (Jeremias 10.23 RA). E o salmista afirma: Ele, que forma (governa, dirige) o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras (Salmos 33.15 RA).
Esta hora que parecia para Simão horrível, tornou-se uma hora de grande bênção. Nesta hora Deus lhe abriu o céu para ele e para seus familiares. Não que o carregar da cruz o tivesse purificado, mas o colocou em contato com Jesus. Provavelmente ao chegar ao Gólgota Simão não saiu logo dali, mas observou atentamente os acontecimentos. Ouviu sobre Jesus, ouviu as palavras e a oração de Jesus. Estas palavras o levaram ao verdadeiro conhecimento de quem era Jesus, e à fé em Cristo.
No dia de Pentecostes encontramos pessoas de Cirene em Jerusalém. Atos dos Apóstolos menciona seus filhos: Rufo e Alexandre (At 19.33; Rm 16.13). Em Cirene foi fundada uma das primeiras comunidades cristãs. Ente encontro transformou-se num momento de grande bênção para Simão, sua família e sua cidade. O encontro com Jesus, seja sob que condições, traz bênção para as pessoas.
Eu vejo aquela cruz / na qual o meu Jesus / por mim foi pendurado, / levando o meu pecado. / Sua angustiosa morte / mudaram minha sorte. (HL 80.1)

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Tome a sua cruz e siga-me


Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. (Mateus 16.24 RA)
O cortejo seguiu lentamente morro acima. Havia três condenados que portavam suas cruzes.
Comecemos pelo primeiro. Jesus Ele carregando sua cruz um grande trajeto. Exausto e esgotados pelos sofrimentos, caiu. Os soldados romanos tomaram a Simão o Cirineu, e o obrigaram a carregar a cruz de Jesus. Mas Jesus continuou a carregar a cruz principal, os pecados de toda a humanidade. Nisso ninguém lhe poderia ajudar. Ele carregou sozinho esse peso até a morte na cruz.
Após ele vinham Simão, que carregando a cruz de Jesus. Esta cruz lhe foi imposta a força, e veio a ser lhe uma grande bênção. Assim Jesus, em seu grande amor, impõe por vezes cruzes aos seus fiéis, que no momento não compreendemos e nos pesam, mas que nos são uma bênção.
Que cruzes são estas? São diversos. Por vezes o ódio e desprezo do mundo por causa do nome de Jesus. As vezes prejuízos materiais por causa de nosso comportamento cristã, por não compartilharmos com o mundo as injustiças, fraudes e enganos. Outras vezes são enfermidades, a fim de nos afastar do amor ao mundo e das coisas que há no mundo. Enfermidades que Jesus santificou para nós (Is 53.4).
Nossa carne se opõe à cruz. Simão não a quis carregar. Ao apóstolo Pedro Jesus diz: Eles te conduzirão para onde não queres ir (Jo 21.18). Esta cruz que Jesus impõe, no entanto, nos é uma bênção. O apóstolo Paulo escreve: E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado (Romanos 5.3-5 RA). Nestes momentos de cruz, Jesus não nos deixa sozinhos, ele diz: Não temas eu estou contigo. Por isso o apóstolo Paulo afirma: Tudo posso naquele que me fortalece (Filipenses 4.13 RA). E ao apóstolo Paulo, Jesus disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo (2 Coríntios 12.9 RA).
Enquanto estivermos aqui na terra, sempre teremos uma cruz a carregar, ora mais pesada, ora mais leve, porque a igreja está sob a cruz. A verdadeira libertação só virá na Jerusalém celestial. Lá nos serão enxugadas todas as lágrimas (Ap 21.4).
Atrás de Jesus seguiam dois malfeitores, carregando suas cruzes. Recebiam o castigo que seus atos mereceram. O apóstolo Pedro diz: Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem (1 Pedro 4.15 RA). Há muitos sofrimentos que não são cruzes, são sofrimentos que causamos por nossos pecados. Quer por vícios que arruínam a saúde, quer por má educação de nossos filhos que nos causam sofrimentos, quer porque não fomos honestos, defraudamos e colhemos as conseqüências. Esses não têm motivos para se queixarem da cruz. Estes são sofrimentos devem nos levar ao arrependimento. E quando reconhecemos nossas culpas e recorremos a Jesus, como o malfeitor na cruz, ouviremos de Jesus também as palavras confortadoras: Perdoados são os teus pecados. E Jesus nos dará forças para suportar as aflições. Mas os que não se arrependem, a cruz lhes é um castigo e prenúncio dos grandes sofrimentos infernais.
Deus na cruz é meu amado. / tudo posso suportar - / nu, faminto e flagelado, / nada me há de separar / de Jesus, nem vil metal, / nem o príncipe infernal. / Deus na cruz é meu amado, / pois na fé sou confirmado. (HL 82.5)

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Gólgota


E, chegando a um lugar chamado Gólgota, que significa Lugar da Caveira, deram-lhe a beber vinho com fel; mas ele, provando-o, não o quis beber. Depois de o crucificarem, repartiram entre si as suas vestes, tirando a sorte (Mateus 27.33-35 RA).

Chegaram ao Gólgota, que significa lugar da caveira. Era um lugar que ficava a 230 metros da porta chamada Damasco, onde estava a gruta de Jeremias. É o único lugar na redondeza que ainda hoje tem esse nome. Suas rochas, de 10 metros de altura, têm grande semelhança com uma caveira. A tradição, no entanto, coloca Gólgota no lugar onde hoje se acha o Santo Sepulcro, fora do antigo muro de Jerusalém, mas dentro do muro atual. Afirmam que o lugar se chamava assim por que havia ali muitas caveiras. Isso vai, no entanto, contra o costume judaico que entravam seus mortos. Era lhes proibido deixar um cadáver humano desenterrado. Sabemos que Gólgota ficava fora do muro. E não deve ser esquecido que o terceiro muro provavelmente já tinha sido construído no tempo de Jesus. Bem, o importante não é o lugar, mas contemplar o que ali aconteceu. Para nós, por isso, Gólgota está em todo o lugar onde podemos meditar sobre os sofrimentos de Jesus e abraçá-lo em fé.
Ali, no Gólgota aconteceu o maior milagre que esta terra já viu. Aconteceu o que é loucura para a razão, que se escandaliza nesse acontecimento. Ali, a Trindade revelou seu imenso amor à humanidade e especialmente a mim e a ti. Ali o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, deu sua vida por nós. Ali Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo (2 Co 5.19).
Tendo chegado ao monte Calvário, despiram Jesus. Ofereceram-lhe vinagre com fé, para amainar as horríveis dores da crucificação, mas Jesus o recusou. Era costume dos romanos punirem seus escravos rebeldes, estrangeiros e grandes malfeitores, com a crucificação. O processo da crucificação variava. Na maioria das vezes os infelizes eram pregados na cruz que em seguida a cruz era erguida. Por vezes, cada pé era pregado separado, outras vezes os dois pés eram atravessados por um prego grande. Outros eram só amarrados à cruz. As agonias eram indescritíveis. Expostos ao sol, às nuvens de moscas, os condenados ficavam sofrendo ali dores e sede, por vezes até quatro a seis dias, conforme descrição de historiadores da época.
Impressionante! O Senhor dos senhores, o Senhor do mundo, o Senhor da glória crucificado por suas criaturas e pelo povo que Deus formou para ser o seu povo. O apóstolo Paulo afirma: Sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória (1 Coríntios 2.8 RA).
A crucificação de Jesus não foi somente conseqüência e expressão de ódio dos fariseus. Deus o havia planejado desde a eternidade. Ele anunciou a Adão e Eva: Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar (Gênesis 3.15 RA). A haste com a serpente que Moisés levantou no deserto, por ordem de Deus, era uma figura da cruz de Cristo ( Jo 3.14). No Salmo 22, o rei Davi fala da morte de Cristo: Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte (Salmos 22.15 RA). Jesus fala pelo profeta Isaías e diz: Fui contado com os transgressores (Is 53.12). E pelo profeta Zacarias Jesus diz: Olharão para mim, a quem traspassaram (Zc 12.10). Tudo se cumpriu perfeitamente.
Mas, ao contemplarmos os acontecimentos na cruz, precisamos perguntar-nos sempre de novo: Por que tudo isso? E a única resposta é: Por minha causa. O apóstolo Paulo afirma: Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las (Gálatas 3.10 RA). E o apóstolo Pedro afirma: Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados (1 Pedro 2.24 RA).
Moisés afirma: Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR, teu Deus, não cuidando em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos que, hoje, te ordeno, então, virão todas estas maldições sobre ti e te alcançarão: Maldito serás tu na cidade e maldito serás no campo. Maldito o teu cesto e a tua amassadeira. Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas. Maldito serás ao entrares e maldito, ao saíres (Deuteronômio 28.15-19 RA). Toda essa maldição Jesus tomou sobre si, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Maravilhosa salvação. Pobres e ricos, jovens e velhos, reis e mendigos, ao pé da cruz encontram perdão, vida e eterna salvação.
Quero, ó Cristo, meditar / no teu sofrimento; / do teu trono vem guiar / o meu pensamento. / Possa eu ver, ó meu Jesus, / quão atroz tormento / exigiu na infame cruz / nosso salvamento. (HL 85.1)

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JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS


Pilatos escreveu também um título e o colocou no cimo da cruz; o que estava escrito era: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS. Muitos judeus leram este título, porque o lugar em que Jesus fora crucificado era perto da cidade; e estava escrito em hebraico, latim e grego. Os principais sacerdotes diziam a Pilatos: Não escrevas: Rei dos judeus, e sim que ele disse: Sou o rei dos judeus. Respondeu Pilatos: O que escrevi escrevi (João 19.19-22 RA).
O ato da crucificação terminou. No monte Gólgota, que fica perto de Jerusalém, na estrada que conduz para Cesaréia e Galiléia, estavam três homens agonizando na cruz, e uma multidão aglomerada ao pé da cruz. A atenção de quase todos estava voltada para a cruz central, na qual estava fixado o letreiro: Jesus Nazareno, rei dos judeus.
Pilatos ordenou que se escrevesse esta tabuleta para zombar dos fariseus, que exigiram a condenação de Jesus, sob a alegação: Ele se fez rei. Ao mesmo tempo era costume assinalar por uma tabuleta o motivo da condenação.
Jesus Nazareno, rei dos judeus. Jesus, realmente, era Rei. Ele o havia declarado a Pilatos. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz (João 18.37 RA). O profeta Jeremias profetizou a respeito dizendo: Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra (Jeremias 23.5 RA). E o anjo anunciou a Maria: Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim (Lucas 1.33 RA). Quando os Magos chegaram a Jerusalém, eles perguntaram: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo (Mateus 2.2 RA). Quando Natanael encontrou Jesus, ele exclamou: Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel! (João 1.49 RA).
Este rei Jesus veio ao mundo não para estabelecer aqui um reino material, mas para libertar a humanidade da culpa do pecado, do poder da morte e da escravidão de Satanás, para reconciliar a humanidade com Deus Pai e conduzi-la ao lar celestial. Quão triste, porém. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam (João 1.11 RA). O povo de Israel queria um rei que o libertasse do jugo romano e lhe desse dias felizes e de glória mundana. Vendo que Jesus não veio para isso, eles o rejeitaram e disseram a Pilatos: Não queremos que este reine sobre nós (Lucas 19.14 RA). Ainda hoje muitos pensam como os judeus. Querem um rei que lhes proporcione felicidades materiais.
O anjo disse a José: Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles (Mateus 1.21 RA). Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido (Lucas 19.10 RA). Ele recebeu também o apelido de Nazareno, porque se criou na cidade de Nazaré, como lemos: E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno (Mateus 2.23 RA; Is 53.2,3). Assim o vemos pregado na cruz, sem formosura, nem aparência, sem majestade, sem glória. No entanto, ele é o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, que se humilhou tão profundamente para reconciliar a humanidade com Deus e libertá-la de seus inimigos: pecado, morte e Satanás.
No terceiro dia, ele ressuscitou. Triunfou sobre a morte e disse aos seus: Eu vivo, vós também vivereis. (João 14.19 RA). E Deus Pai lhe disse: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés (Lucas 20.42,43 RA). E os anjos nos céus cantam: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor (Apocalipse 5.12 RA). E o próprio Jesus afirma: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra (Mateus 28.18 RA).
Ele é especialmente o teu Senhor. Já o reconheceste como tal? Ainda é tempo da graça. Ainda Jesus convida, dizendo: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei (Mateus 11.28 RA). A ele queremos adorar e proclamar.
Exaltemos o Cordeiro, / que nos tem imenso amor; / imolado no madeiro, / resgatou-nos o Senhor. – A Jesus rendamos glória, / honra como a mais ninguém; / proclamemos a vitória / de Jesus, sem fim! Amém. (HL 87. 4,5)


-31-
Os que iam passando blasfemavam dele


Os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ó tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! Salva-te a ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz! De igual modo, os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos, escarnecendo, diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se. É rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nele. Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus. E os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que haviam sido crucificados com ele (Mateus 27.39-44 RA).
Os crucificados estão dependurados nas suas cruzes. Os inimigos jubilam. Finalmente alcançaram seu intento. Irrompem em zombarias. Interessante é observar que tipo de zombaria. Salvou os outros, salve-se a si mesmo. Eles lembram bem os muitos milagres de Jesus. Outra zombaria: Confiou em Deus! Diz-se Filho de Deus, que Deus venha salvá-lo agora. Imaginam. Eles lembram bem os sermões de Jesus. Com isso expressam o temor de seus corações. Temia que isso fosse verdade. E agora, crucificado, parece haver neles um alívio na consciência. Lembram talvez a hora em que queria apedrejá-lo e Jesus tornou-se invisível e se retirou. Temia, agora, que na última hora pudesse dar tudo errado. Mas agora ele estava na cruz. Venceram. O medo de seus corações se transformou em jubilosa zombaria.
Ainda hoje, os inimigos ao pé da cruz são em número maior do que os fiéis, que o reconhecem como Filho de Deus e o adoram.
Ainda hoje a cruz é escândalo para os judeus e loucura para os gentios (incrédulos) (1 Co 1.23). A razão não pode pensar diferente. Um homem sangrando na cruz, não pode ser Deus. Que pai judiaria assim o seu próprio filho? Como Deus que é amor, poderia martirizar assim o seu Filho? De fato, todo o plano da salvação nos parece loucura e nos escandaliza. A razão não o pode compreender.
Somente a quem o Espírito Santo abrir os olhos, iluminar e chamar, verá, como o malfeitor na cruz, aqui está o Filho de Deus, sofrendo em lugar da humanidade, para reconciliar o mundo com Deus. Aqui Deus fez aquele que não conheceu pecado, pecado por nós, para que fossemos feitos filhos de Deus. Incompreensível, maravilhoso. E quem o crê tem o que a promessa de Deus lhe diz e sela: perdão dos pecados, vida e eterna salvação.
Penhor tão precioso / me vem da tua cruz! / Por este dom gracioso / te louvo, meu Jesus. / Concede fiel me apegue / a ti, no meu final, / e nunca te renegue, / Amigo sem igual. (HL 88.6)

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Pai, perdoa-lhes


1ª Palavra de Jesus na cruz.
Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Então, repartindo as vestes dele, lançaram sortes (Lucas 23.34 RA).

O tumulto em torno da cruz era grande. A zombaria, o escárnio continuava. Enquanto isso, Jesus permanecia em silêncio. Este silêncio era anormal. O historiador da época, Flávio Josefo, descreve a crucificação de muitos e diz que eles gritavam, berravam horas a fio de dor. Desesperados amaldiçoavam seus inimigos e deuses. Jesus guarda silêncio. E quando pela primeira vez abre sua boca na cruz, profere uma oração. Penso que, quando Jesus começou a falar, os inimigos ao pé da cruz silenciaram para ouvir o que ele diria. Jesus orou: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Pai! – Assim Jesus invocou a Deus desde o princípio. No rio Jordão, por ocasião do batismo, Deus se manifestou e disse do céu: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo (Mateus 3.17 RA). Jesus afirmou: Quem me vê a mim vê o Pai (João 14.9 RA). Isto é consolador, saber que aqui está o Filho de Deus sofrendo por nós, para nos reconciliar com Deus Pai.
Pai, perdoa-lhes. No Jardim Getsêmani, Jesus orou por si, agora suplica ao Pai em favor de seus inimigos. Jesus conhece o coração do Pai. Ele vê, o que os inimigos não viam, a ira de Deus que está prestes a desabar sobre eles. E Jesus, com os braços abertos, entre céu e terra, clama ao Pai: Pai, perdoa-lhes. Não os punes em tua ira. Cada pecado é uma bofetada no rosto de Deus. Nenhum pecado permanece impune. Freqüentemente Deus tem punido os pecados no ato. Quando o bando de Coré se revoltou contra Moisés, Deus fez a terra se abrir e engolir os rebeldes (Números 16). Sodoma e Gomorra foram castigados com fogo do céu. Sem dúvida, agora Deus não silenciará diante das atrocidades que as criaturas estavam praticando contra seu Filho unigênito. Mas Jesus se opõe à ira de Deus e clama por perdão. Não coloca nenhuma condição nesta sua oração como no Getsêmani: Se for da tua vontade. Não! Pai, perdoa-lhes. Para que isso fosse possível, ele estava sofrendo na cruz. Sim, seu sangue nos purifica de todos os pecados (1 Jo 1.7), ainda que sejam como a escarlate (Is 1.18).
Pai,... não sabem o que fazem. – O que eles não sabem? Eles não sabiam que Jesus é o Filho de Deus, o Senhor da glória. Eles não sabiam que Deus estava executando aqui o seu plano da salvação. Eles não sabiam que eram instrumentos de Satanás. O povo cegado estava agindo na cegueira. Os próprios apóstolos não compreenderam o que estava acontecendo e vacilaram na fé. O apóstolo Pedro lhes diz no dia de Pentecostes: Eu sei que o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades (Atos 3.17 RA). O apóstolo Paulo, que perseguiu a Igreja cristã, confessa mais tarde: O fiz na ignorância, na incredulidade (1 Timóteo 1.13 RA). Observemos bem. Ele chama a inimizade contra Deus de incredulidade. Aqui Jesus interpreta, até onde possível, da melhor maneira, chamando também a inimizade de: Não sabem o que fazem. Quão bondoso é nosso Salvador. Isto nos consola. Também nós, quando somos enganados e puxamos pelo pecado – agimos como que cegados, por ignorância e incredulidade.
Mas lembremos, não sabiam, porque não queriam saber. Estavam cegados pelo ódio a Jesus, pela astúcia de Satanás. Eles tinham as profecias lidas no templo, viram os milagres de Jesus que eram “sinais” do cumprimento das profecias, tinham os ensinos de Jesus. Eles não tinham desculpas. Ignorância não inocenta ninguém. Eles eram culpados.
Quantos andam ainda hoje na ignorância? Mesmo assim, quantas igrejas por toda a parte. O evangelho anunciado pelas ondas do rádio, pela televisão, por revistas, folhetos e jornais. A Bíblia à venda. Não! Não terão desculpas.
Por isso Jesus ora: Pai, perdoa-lhes! O pecado é grande. A ira estava prestes a desabar sobre eles. Perdoa-lhes! Isto é, não os castigos imediatamente. Concede-lhes mais um tempo da graça, para que possam presenciar a ressurreição, ouvir a mensagem no dia de Pentecostes, para chegarem ao conhecimento da verdade, arrepender se, chegarem à fé para serem salvos.
Pai, perdoa-lhes! Esta oração, Jesus não a fez somente em favor de todos seus inimigos, soldados romanos, os fariseus e o povo em geral, mas também por nós. Quantas vezes temos pecado, merecendo o castigo imediato de Deus, mas Deus nos foi gracioso. Ele nos concedeu tempo para arrependimento e nos perdoou? Recebemos muito amor, por isso queremos amar nossos inimigos. Conta-se que o rei Luiz XII da França fez um sinal da cruz diante dos nomes de seus inimigos políticos para lembrar que deve amá-los. Assim Jesus diz a todos nós: Sede misericordiosos como também é misericordioso vosso Pai (Lucas 6.36 RA).
O cordeirinho é o bom Senhor, / amigo de minha alma; / é meu benigno Salvador, / que toda a dor acalma. / Eis, quem o Pai quis escolher / a fim de a morte desfazer, / provinda do pecado. / Oh! vai, meu Filho, vai salvar / os filhos que ia condenar: / Tu és o meu amado. (HL 89.2)

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Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele

2ª Palavra Jesus na cruz.
Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso (Lucas 23.39-43 RA).

Como vimos, o grupo dos zombadores era grande, até hoje o número é grande. Impressionante, no início os dois malfeitores crucificados com Cristo zombavam dele. Lemos em Mateus: Os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que haviam sido crucificados com ele (Mateus 27.44 RA). Eles diziam: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. De repente silêncio. Jesus proferiu suas primeiras palavras na cruz: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Isto fez com que um dos malfeitores silenciou, o outro continuou zombando. Então o seu companheiro lhe disse: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez. Que confissão! Temer a Deus. Eles conheciam a palavra de Deus. Sabiam: Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo (Hebreus 10.31 RA).
Eles eram judeus e havia aprendido como criança as profecias e os salmos. Desviaram-se de Deus na juventude, enveredaram pelo caminho do crime. Agora estavam na cruz. De repente as palavras de Jesus e sua oração começaram a fazer efeito num dos malfeitores. Tudo o que ele ouviu de Jesus e ouviu a respeito dele, como por exemplo: Filhas de Jerusalém, não chorais por mim; chorai antes por vós mesmas e por vossos filhos... Porque, se em lenho verde fazem isto, que será no lenho seco? (Lc 23.28,31). E o letreiro que Pilatos mandou colocar: Este é o Rei dos judeus (Lc 23.38). Ele sem dúvida começou a lembrar-se das profecias, o Espírito Santo trabalhou em seu coração e o iluminou.
Ele se arrependeu de seus pecados e disse a Jesus: Lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Impressionante! Ele reconheceu nesse homem sofredor ao seu lado o Messias prometido, o Filho de Deus, o Salvador da humanidade. E mais. Ele teve a coagem para pedir que seu nome sujo e imundo fosse lembrado no céu. De onde ele teve esta coragem? Das promessas e especialmente da oração que ele ouviu de Jesus: Pai, perdoa-lhes! Ao mesmo tempo, a oração deste malfeitor expressa profunda humildade e firme confiança: Lembra-te. Ele sabe quem for lembrado por Jesus no céu será salvo. E Jesus lhe responde: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. Isto significa: Perdoados são os teus pecados. Pois onde há remissão dos pecados, há vida e eterna salvação. A paz de Cristo que o mundo não pode dar, inundou sua alma. Esta paz deu-lhe também forças para suportar os sofrimentos finais. E ele sofreu bastante. No final, os soldados romanos ainda lhe quebraram as pernas. Que sofrimento, que dor. Mas tudo isso ele suportou na força das palavras: Hoje estarás comigo no paraíso.
Hoje temos muito mais palavras do que este malfeitor na cruz. Temos toda a Bíblia, profecias, salmos, o Novo Testamento. Quanto consolo.
Ainda hoje Jesus chama e consola por sua Palavra. O mundo ri e zomba, mas bem-aventurado o que crê. E enquanto estamos aqui na terra, queremos testemunhar a nossos parentes, amigos e colegas. Chamá-los ao arrependimento e à fé em Cristo.
Consola-me na morte, / lembrando a tua dor; / és meu escudo forte, / glorioso Vencedor. / Estando a contemplar-te, / confiante vou dizer, / feliz, ao abraçar-te: / Assim é bom morrer! (HL 88.8)

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Vendo Jesus sua mãe

3ª Palavra de Jesus na cruz.
Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa (João 19.26-27 RA).

Ao pé da cruz está um pequeno grupo de fiéis. Algumas mulheres e o discípulo amado de Jesus. As mulheres são: Maria, a mãe de Jesus, sua irmã e Maria mãe de Cléopas, Maria Madalena e o apóstolo João. Quanta tristeza, angústia, dúvidas em suas almas. Não compreendem os caminhos de Deus e o por quê dos sofrimentos de Cristo. Sua fé era como um pavio que fumega.
Vendo Jesus sua mãe e o discípulo amado, disse-lhes: Mulher, eis aí teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe.
Mulher! disse Jesus. É a segunda vez que ele usa esta expressão em relação à sua mãe. A primeira vez foi por ocasião do primeiro milagre, em Caná da Galiléia (Jo 2.4). Seria para ocultar a identidade de Maria? Não. Ela nada tinha a temer. Ao Jesus chamar sua mãe, a humilde serva do Senhor, simplesmente, de mulher, ele estava indicando que aqui, com sua morte, termina a missão de mãe de Maria. Em breve, após sua ressurreição, terminará a humilhação de Jesus, passará para o estado da exaltação. Neste estado, Maria deveria olhar para ele como seu Salvador, pois também ela depende da graça de Cristo. Isto ela sabia. Mas ao romper o laço de mãe e filho, Jesus não deixa de cumprir o quarto mandamento. Mesmo em meio aos seus sofrimentos, não se esqueceu de dar à sua mãe o devido amparo. Visto que nada lhe poderia dar, pois até suas vestes os soldados repartiram entre si, ele a entrega aos cuidados do seu discípulo amado, João, ao qual diz: Eis aí tua mãe. Sabemos que João compreendeu as palavras e cuidou dela até ao fim, como ele mesmo afirma em seu evangelho: Dessa hora em diante o discípulo a tomou para casa (Jo 19.27). Importa tomar estas palavras também literalmente. João tomou Maria imediatamente e a levou para sua casa, de modo que ela não estava mais ali durante as horas da escuridão e também não viu a morte de Jesus.
O pai, José, pelo que parece, já havia falecido. E quanto aos outros irmãos de Jesus - alguns interpretam os textos como primos – sabemos que só após a ressurreição de Jesus, vieram realmente a crer nele.
Com isto Jesus nos dá exemplo de como devemos cuidar de nossos pais. Pois diz a Escritura: Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente (1 Timóteo 5.8 RA). Sendo nós, a comunhão dos santos, a grande família de Deus, queremos cuidar uns dos outros em amor. No juízo final, ouviremos de Jesus as palavras: Estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes (Mateus 25.36-40 RA).
Por mim morrendo no madeiro, / o Salvador me resgatou / do horrendo e eterno cativeiro, / a vida eterna me doou. / Meu Deus, eu morrerei contente / e espero a tua glória ver, / quando eu entrar no céu luzente / e como Jesus ali viver. (HL 470.4)

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Eli, Eli, lamá sabactâni?
4ª Palavra de Jesus na cruz.
Desde a hora sexta até à hora nona, houve trevas sobre toda a terra. Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Ele chama por Elias (Mateus 27.45-47 RA).

Era meio dia. No monte Gólgota um céu límpido. O sol ardia impiedosamente sobre os crucificados. As três primeiras horas passaram. A cena no Gólgota não sofreu modificações. A zombaria continuava. Curiosos vinham e saíam. Ao pé da cruz as mulheres, menos Maria, continuavam em sua tristeza.
De repente, em pleno meio dia, o sol se escureceu. Não eram nuvens que encobriram o sol. Não era um eclipse solar, mas o sol perdeu seu brilho. Densas trevas cobrir a terra, não somente aquela região de Jerusalém. O evangelista marcos acentua: Houve trevas sobre toda a terra (Mc 15.33). Os anais do império romano confirmam o acontecimento. No Egito, quando Dionísio o areopagita viu o sol escurecer, exclamou: “Deus está sofrendo, ou tem piedade de alguém que muito sofre”. Deve ter sido assustador: Sol, lua, estrelas pararam de brilhar em reverência ao seu Criador, em reverência ao autor e fonte de toda a luz e vida. Nos campos os animais mugiam, os pássaros se recolheram às árvores. Nos corações humanos palpitava medo e pavor. Muitos que se encontravam ao pé da cruz, fugiram para Jerusalém.
A escuridão durou três horas. O que Jesus sofreu nestas horas nenhum olho humano viu. Também a Escritura não o descreve. Quando o sol voltou a brilhar, Jesus exclamou em alta voz, as palavras em hebraico: Eli, Eli, lama sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste. Que palavras? Não era queixa, nem irritação. Era uma confissão. Estas palavras revelam o que Jesus sofreu nessas horas. O abandono de Deus. Jesus suportou em seu corpo e sua alma a maldição divina. O apóstolo afirma: Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro, (Gálatas 3.13 RA). Satanás tentou, com todo seu poder, destruir o plano da salvação. Em vão.
Lutero, após meditar três dias sobre estas palavras: Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste, exclamou: Deus por Deus desamparado, que o compreenderá? Grande é este mistério. Jesus é Deus. Ele não deixou de ser Deus em sua humilhação. A Trindade não foi desfeita. Mesmo assim, Jesus sentiu em seu corpo e sua alma, o abandono de Deus. Nossa razão não o pode compreender. A Bíblia nos diz: O SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos (Isaías 53.6 RA). Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53.5 RA).
Jesus sofreu o abandono de Deus por nós, para nos reconciliou com Deus. Agora, ninguém pode dizer: Deus me abandonou. Deus ama a todos e quer que todos cheguem ao pleno conhecimento da verdade, se arrependam, creiam em Cristo e voltem à comunhão com Deus. Mas, aquele que rejeitar o amor de Deus em Cristo, e permanece incrédulo, esse permanece escravo de Satanás e será condenado ao sofrimento eterno. Que Deus nos livre disso. Ainda é tempo da graça. Ainda Deus chama e estende sua mão. Apega-se à graça de Cristo. Crê no Senhor Jesus e serás salvo.
Vem a Cristo, vem agora, / carregado, como estás. / Dele só e sem demora / o perdão conseguirás. – Crê no Salvador clemente, / que na cruz por ti morreu. / Nunca nega a quem for crente / a mansão feliz no céu. (HL 364.1 e 2)

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Tenho sede!

5ª Palavra de Jesus na cruz.
Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede! Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, lha chegaram à boca (João 19.28-29 RA).

Sede é um dos piores sofrimentos humanos. Só quem já passou por isso, conhece o que é sede. Muitas vezes ouvimos de enfermos, que estão à porta da morte, o pedido: Dê-me um pouco de água, molhe meus lábios um pouco. Também esse sofrimento nosso salvador padeceu por nós. Sua sede era grande. Desde a quinta-feira à noite até agora, sexta-feira às três horas da tarde, não havia provado nem comida, nem bebida. Seu alimento foi o amargo sofrer e a zombaria da multidão. O Salmo 22 descreveu seu sofrimento assim: Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim. Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte (Salmos 22.14-15 RA).
Tenho sede! Jesus é verdadeiro homem e como tal sentiu sede. Ele havia sofrido as dores infernais e agora sente sede. Quem não lembra imediatamente o pedido do rico no inferno: Pai Abraão... manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama (Lc 16.24).
Tenho sede! Imediatamente um soldado correu e trouxe fel e vinho. E lhe alcançou esse líquido uma esponja. Os soldados, que normalmente não se importavam com os pedidos e os clamores dos crucificados, dessa vez atenderam. Tudo para que se cumprisse a Escritura (Sl 68.12), até os mínimos detalhes.
Tenho sede! São as palavras daquele que havia dito: Quem tem sede vem a mim e beba (Jo 7.37). Ele sofre esta sede para poder saciar a sede humana por perdão e paz e pra poder dar água para nunca mais terem sede (Jo 4.14).
Quão sedenta é a humanidade? Procuram matar a sede em coisas mil, no saber, no trabalho, nos prazeres, em vícios, e voltam desiludidos. Só Cristo pode matar a sede da humanidade. Só ele pode matar a sede do coração humano. Por isso o salmista suspira: Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma (Salmos 42.1 RA). A alma humana, separada de Deus pelo pecado, só encontra paz com Deus por meio de Jesus Cristo.
E após termos bebido desse maravilhoso perdão que traz a paz à nossa alma, sem dúvida não ficaremos com esta água da vida para nós. Antes vamos dizer aos outros dessa fonte maravilhosa.
A ti, Jesus querido, / eu venho agradecido / o meu louvor trazer; / que toda a minha vida / te seja oferecida; / segui-te quero com prazer. (HL 94.7)


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Está consumado!

6ª Palavra de Jesus na cruz.
Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito (João 19.30 RA).

Quando jovem Davi enfrentou a Golias somente com sua funda, houve um suspiro nas fileiras dos soldados de Israel (1 Sm 17). Este suspiro se transformou em júbilo quando o gigante Golias tombou ao chão.
Igual suspiro e brado de vitória circunda nossos corações ao ouvirmos da boca de nosso substituto, nosso Salvador, as palavras: Está consumado! Ele não disse o que estava consumado. No momento não adiantaria. Os incrédulos não o aceitam, os fiéis ainda não compreenderiam.
Com que humildade nosso Salvador anunciou sua vitória. Ele não disse: Eu concluí a grande obra. Ele diz simplesmente: Está consumado! Estava consumada a grande obra da salvação da humanidade; obra planejada por Deus desde e eternidade. Minuciosamente anunciada através de milênios por muitos profetas. Esperado pacientemente por muitos fiéis. Agora, a grande obra estava terminada.
Estava consumada aquela obra que só o Filho de Deus poderia realizar. Ninguém pode salvar-se a si mesmo. Mesmo se alguém desse todos seus bens aos pobres e deixasse queimar seu corpo (1 Co 13). Tudo seria em vão. O salmista diz: Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate (Salmos 49.7 RA).
O apóstolo Paulo esclarece e resume esta obra assim: Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus (2 Coríntios 5.19-20 RA). É a palavra mais importante pronunciada na terra. É a pregação do evangelho. O Cordeiro que foi morto e é digno de receber força e glória (Ap 7.10,12).
Está consumado! Pecado, morte e Satanás foram vencidos. É um profundo consolo para todos os pecadores que arrependidos de seus pecados se volta para Cristo. Nele eles têm perdão, vida e eterna salvação.
Está consumado! O caminho aos céus está aberto. Deus mesmo o abriu e convida todas as pessoas, dizendo: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei (Mateus 11.28 RA). Agora, por amor a Cristo, Deus perdoa os pecados, aceita as pessoas de volta em sua comunhão como filhos e herdeiros da vida eterna. O apóstolo Paulo afirma: Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei (Romanos 3.28 RA). E: Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie (Efésios 2.8-9 RA). Tudo isso Deus nos oferece em sua Palavra e por seus sacramentos. Bem-aventurado aquele que crê.
Ao mesmo tempo, essas palavras são uma séria advertência: 1. A todos os pecadores para que reconheceram sua culpa e o quanto a reconciliação custou a Deus; 2. Que a justiça própria não salva ninguém. 3. Que somente em Cristo há perdão, vida e eterna salvação; 4. Consolo e força para todos os pecadores. A obra está completa, nada precisa ser acrescentada, somos salvos unicamente pela graça de Cristo, por meio da fé.
Agora temos salvação / por graça e por bondade. / As obras não nos salvarão, / são vãs na adversidade. / Na fé confiamos em Jesus, / que tudo fez por nós na cruz, / sofrendo em humildade. (HL 373.1)

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Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!

7ª Palavra de Jesus na cruz.
Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou (Lucas 23.46 RA).
Estas palavras revelam a glória de Cristo. Sua primeira palavra na cruz foi: Pai...! Sua última palavra é novamente: Pai...! Após tanto sofrimento, ele ainda consegue orar e invocar seu Pai.
Jesus tinha dito: Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai (João 10.18 RA). Sim, ele tem poder de entregar sua vida e reavê-la. Ele não faleceu por exaustão de suas forças físicas, apesar dos muitos sofrimentos. Ele era Deus. Ele entregou sua alma por livre vontade nas mãos do Pai. E é preciso lembrar que sua divindade permaneceu unida tanto à sua alma como ao seu corpo, e ele tinha o poder de unir os dois novamente, quando o quisesse. Ele não exclamou essas palavras vendo a morte se aproximar como fazem os cristãos, como Elias o fez ao exclamar: Basta; toma agora, ó SENHOR, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais (1 Reis 19.4 RA).
Ele o exclamou para mostrar seu poder aos inimigos e consolar os fiéis. Sim, a todos os que nele crêem e têm sua vida oculta em Cristo (Cl 3.3).
Agora não precisamos temer a morte. Ela foi vencida. Cristo a transformou em porta para o céu. O que ele disse ao malfeitor do seu lado vale para todos os fiéis: Hoje estarás comigo no paraíso.
O grande imperador, Carlos Magno, antes de falecer tomou em suas mãos uma cruz, e a apertou contra seu rosto e peito, então disse: “Pai, nas tuas mãos me entrego”. Após algumas horas ele veio a falecer. O mártir, João Hus, fiel servo de Cristo, que foi acusado pela Igreja Católica como herege e queimado, pouco antes de expirar disse: “Tenho a ordem de entregar minha alma em tuas mãos, meu Salvador Jesus, e assim o faço”, então faleceu. Assim muitos outros mártires procederam e morreram bem-aventurados. Martinho Lutero, pouco antes de falecer orou: “Amado Pai celestial, visto ter que deixar este corpo, sendo arrancado desta vida, sei que estarei para toda a eternidade em tuas mãos, das quais ninguém me poderá arrancar”.
Assim muitos outros piedosos entregaram sua alma às mãos de Jesus, confiantes em sua graça. Lembramos as palavras de Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (João 14.6 RA). E: Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai (1 João 2.23 RA). Nesta fé queremos partir também.
Em Cristo irei adormecer / e em suas chagas me esconder; / da culpa me livrou Jesus, / vertendo o sangue sobre a cruz; / confiando nele irei aos céus, / o reino eterno de meu Deus. (HL 522.1)

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Verdadeiramente, este homem era justo.

Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Verdadeiramente, este homem era justo. E todas as multidões reunidas para este espetáculo, vendo o que havia acontecido, retiraram-se a lamentar, batendo nos peitos (Lucas 23.47-48 RA).

Eram aproximadamente três horas da tarde, quando Jesus entregou o seu espírito e faleceu. Ao falecer aconteceram coisas estupendas. A terra tremeu. Sepulcros se abriram e os mortos saíram e foram vistos em Jerusalém (Mt 27.51-53). O véu do tempo se rasgou em duas partes de alto abaixo. Uma convulsão da natureza frente ao grande pecado da humanidade. A criatura matou seu Criador. Pecadores perdidos mataram seu Salvador. Ao mesmo tempo cumpriu-se o que Jesus havia disse: E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo (João 12.32 RA).
Ele salvou toda a humanidade, mas nem todos se deixam atrair a ele. Muitos fariseus continuavam zombando, alguns, mais tarde, se converteram. Ao pé da cruz aconteceram coisas impressionantes. O centurião romano, que comandou toda a crucificação, de repente bate em seu peito e exclama: Verdadeiramente, este homem era justo. O evangelista Mateus dá mais alguns detalhes e escreve: O centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto e tudo o que se passava, ficaram possuídos de grande temor e disseram: Verdadeiramente este era Filho de Deus (Mateus 27.54 RA). Que confissão. Tudo o que presenciou e ouviu ao pé da cruz, teve um forte impacto em sua alma? Ele sabia: Sob meu comando, o Filho de Deus foi morto. Como vou poder comparecer diante de Deus Pai? Mas lemos: Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus. Como alguém, com tamanha culpa na consciência, pôde dar glórias a Deus? Não deveria ele ter desesperado diante desse reconhecimento? Eis que ele reconheceu não somente o fato da morte de Cristo, mas também o proveito disso para ele e a humanidade. Jesus morreu para salvar a humanidade, para reconciliá-la com Deus Pai. O centurião, portanto, não só estremeceu diante do fato, mas também creu em Cristo como seu Salvador e isso o levou a dar glórias a Deus.
O apóstolo escreve: Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus (1 Coríntios 1.18 RA). Assim o é até hoje. Pela palavra da cruz o Espírito Santo ilumina, chama e congrega, mas quem obstinada e insistentemente lhe resiste, se perde.
Devo agradecer-te tanto, / ó Jesus, tamanha dor; / chagas, agonia, pranto, / penas e mortal horror. / Vivo e morro consolado, / por teu sangue perdoado: Grato sou por tanto amor, / meu bendito Redentor! (HL 93.5)

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Apressando a morte

Então, os judeus, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação, pois era grande o dia daquele sábado, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados. Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele tinham sido crucificados; chegando-se, porém, a Jesus, como vissem que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Mas um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que isto viu testificou, sendo verdadeiro o seu testemunho; e ele sabe que diz a verdade, para que também vós creiais. E isto aconteceu para se cumprir a Escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado. E outra vez diz a Escritura: Eles verão aquele a quem traspassaram (João 19.31-37 RA).

Já era passado das três horas da tarde, talvez até quatro horas da tarde. Em breve, às 18 horas, iniciaria o sábado e desta vez o grande sábado da festa da Páscoa dos judeus. Moisés deu uma lei, que nenhum condenado deveria permanecer no madeiro no sábado (Dt 21.22ss.) Lembrados disso, os Anciãos do povo e sacerdotes enviaram uma delegação a Pilatos, pedindo que a morte dos condenados fosse apressada, para que seus corpos pudessem ser sepultados antes do por do sol. Pilatos logo concordou e enviou alguns soldados para executarem a ordem. Os mesmo foram e quebraram as pernas dos dois malfeitores. Eles tinham seu prazer em judiar os condenados; como hoje ainda muitos se recreiam em filmes de guerra e de crueldades. Uma dor terrível, mas abreviava os sofrimentos. Alguns soldados davam, por fim, uma bordoada no peito para terminar a vida.
Chegados a Jesus, viram, para sua surpresa, que ele já estava morto. Para se certificar de sua morte, um dos soldados cravou sua lança no lado do peito de Jesus. Dali saiu água e sangue. A decomposição do sangue era prova incontestável de sua morte.
Jesus tinha exclamado: Está consumado! Então não deveria sofrer novas afrontas. O ferimento da lança, no entanto, serviu para se cumprir a Escritura (Sl 34.20,21; Ex 12.46; Lv 9.12). Vemos nisso a poderosa mão de Deus. Ele governa sobre tudo, também sobre seus inimigos, para dizer: Até aqui e não mais adiante. Jesus tinha dito a seus discípulos: Eis que subimos para Jerusalém, e vai cumprir-se ali tudo quanto está escrito por intermédio dos profetas, no tocante ao Filho do Homem (Lucas 18.31 RA). E como predisse, assim aconteceu. Por isso o apóstolo João pôde escrever: Nenhum dos seus ossos será quebrado. E outra vez diz a Escritura: Eles verão aquele a quem traspassaram (v. 36, 37; Zc 12.10; Ap 1.7).
Do seu lado brotou água e sangue. Prova de sua morte. Por outro, o testemunho do grande sacrifício. Por isso o apóstolo João pôde escrever: O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado (1 João 1.7 RA). Água e sangue representam também os dois grandes sacramentos: batismo e a santa ceia. Por isso o apóstolo João escreve: E três são os que testificam na terra: o Espírito, a água e o sangue, e os três são unânimes num só propósito (1 Jo 5.8).
Ordena aos anjos, ó Senhor, / que levem, quando eu morto for, / minha alma ao paraíso. / Na tumba aguarda o corpo meu / a tua vinda lá do céu / no dia do juízo. / Desperta-me da morte então, / que os olhos meus se alegrarão / ao ver-te, ó Filho de Deus Pai, / ó Redentor, que ao céu me atrai. / Ó Salvador, / vem me atender, vem me atender; eu sempre te hei de bendizer. (HL 435.3)

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Ali, pois,... depositaram o corpo de Jesus.

Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, ainda que ocultamente pelo receio que tinha dos judeus, rogou a Pilatos lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. Pilatos lho permitiu. Então, foi José de Arimatéia e retirou o corpo de Jesus. E também Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus à noite, foi, levando cerca de cem libras de um composto de mirra e aloés. Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com os aromas, como é de uso entre os judeus na preparação para o sepulcro. No lugar onde Jesus fora crucificado, havia um jardim, e neste, um sepulcro novo, no qual ninguém tinha sido ainda posto. Ali, pois, por causa da preparação dos judeus e por estar perto o túmulo, depositaram o corpo de Jesus. (João 19.38-42 RA)

Tendo Jesus falecido e os soldados atestado sua morte, José de Arimatéia foi a Pilatos e pediu autorização para tirar o corpo de Jesus da cruz, a fim de o sepultar com dignidade. Os romanos permitiam que familiares ou amigos pudessem sepultar com dignidade, mesmos malfeitores. Se não houvesse interessado, iriam para uma vala comum. Por isso, José de Arimatéia recebeu de Pilatos a licença para tanto.
O sepultamento tem um alto significado tanto para Jesus como para todos nós. O corpo de Jesus foi depositar numa sepultura nova, de José de Arimatéia. O ser deitado na sepultura foi o último degrau na humilhação de Jesus. O Filho de Deus, o Verbo, o Criador e Mantenedor de todas as coisas, a luz do mundo, sepultado numa gruta escura, lavrado numa rocha. Esta humilhação é indescritível para o Príncipe e autor da vida (Jo 5.26). Ele, que já na vida não tinha onde reclinar sua cabeça (Mt 8.20), também na morte não tem um lugar que pudesse denominar de seu. Ele se fez pobre para nos enriquecer (2 Co 8.9).
Ao contemplarmos sua morte, precisamos fazê-lo à luz da Escritura, e notaremos o conforto e a esperança que dela nos brotam.
Nós nos alegramos que José de Arimatéia, um homem rico e honrado, membro do Sinédrio, que esperava o reino de Deus. Ele concedeu sua sepultura a Jesus, para o descaso e não se importou com o que seus colegas, que sentenciaram a Jesus, diriam. Não se importou se isto lhe trariá desprezo e zombarias. Ele confessou sua fé. Diz o evangelista Marcos: Ele se encheu de coragem (Mc 15.43) para pedir o corpo a Pilatos. Conseguida a ordem, volta ao Gólgota para retirar o corpo. Ali se encontrou com Nicodemos (Jo 3), seu colega no Sinédrio, que veio para ajudar. Ele trouxe também mirra e aloés (Jo 19.39). Eles enrolaram o copo num lençol branco de linha e o depositaram no túmulo, lavrado numa rocha, no qual ainda ninguém tinha sido sepultado. Estavam ali também Maria Madalena a e Maria mãe de José (Mc 15.47). O profeta Isaías declarou: Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca (Isaías 53.9 RA). Assim se cumpriu a Escritura (1 Co 15.4).
Rolaram uma grande pedra para fechar a sepultura. Não havia flores, nem cantos, nem uma prédica. Nos corações das pouco as pessoas ali presentes, no entanto, havia profundo amor, tristeza, bem como gratidão por tudo o que Jesus fez. Mesmo que tudo isso ainda estava envolto em muitas perguntas e incertezas, mas a centelha da fé, como uma pequena brasa acessa, estava em seus corações.
Precisamos lembrar ainda o significado do seu sepultamento para nós. Talvez José de Arimatéia e Nicodemos gostariam ter sepultado Jesus em outro lugar, em Betânia, Belém, ou até em Nazaré. A brevidade do tempo, no entanto, não o permitiu, pois em mais ou menos duas horas iniciava o grande sábado e tudo deveria estar pronto. Assim Deus o quis, que o lugar de onde brotaria a vida, por sua ressurreição, devesse estar bem perto do lugar de sua paixão e morte.
E mais um detalhe. Deus queria que ele fosse sepultado num jardim. Jardins tiveram destaque na obra da salvação. No jardim do Édem, Adão e Eva caíram em pecado e lá Deus lhes prometera salvação. No jardim do Getsêmani Jesus iniciou sua amarga caminhada para a cruz. Agora é sepultado num jardim, para ali ressuscitar e triunfar sobre todos seus inimigos.
Mas aqui também uma advertência. Jesus não nos libertou somente da dívida, mas do poder do pecado e da escravidão de Satanás. Por isso o apóstolo Paulo escreve: Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida (Romanos 6.4 RA). Fomos sepultados com Cristo. Recebemos esta bênção pelo batismo e a retemos enquanto estivermos na fé. Isto nos leva a uma luta diária de nosso novo homem (a fé) contra as inclinações de nossa carne pecaminosa, o velho homem. Confessamos “que o velho homem em nós, por contrição e arrependimento diários, deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos, e, por sua vez, sair e ressurgir diariamente novo homem, que vive em justiça e pureza diante de Deus eternamente”. (Cat. Menor Batismo, 4ª parte).
Deus na cruz é meu amado. / Quando enfim a morte vem / e eu em pó for transformado, / chama, ó Cristo, a mim também / para a glória me levar, / junto a ti no terno lar. / Deus na cruz é meu amado, / pois na fé sou confirmado. (HL 82.6)
São Leopoldo, 21/02/2020


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